Estudantes de Jornalismo vencem concurso na Europa com foto que retrata fé e resistência
Estudantes de Jornalismo vencem concurso na Europa com foto que retrata fé e resistência
Foto produzida por alunos do 3º ano de Jornalismo da UEL retrata cavalgada no Assentamento Eli Vive; prêmio foi concedido por universidades europeiasUm momento de silêncio, oração e esperança registrado com sensibilidade. Foi essa a imagem escolhida por um grupo de estudantes de Jornalismo da Universidade Estadual de Londrina (UEL) para participar do “SEA-EU Photo Contest 2025”, um concurso internacional de fotografia. A foto feita em março de 2024, no Assentamento Eli Vive, ficou em primeiro lugar no concurso organizado pela SEA-EU, a “Aliança da Universidade Europeia dos Mares”, formada por universidades costeiras da Europa. Fazem parte da iniciativa nove instituições: Universidade de Cádis (Espanha), Universidade do Algarve (Portugal), Universidade de Gdansk (Polônia), Universidade de Split (Croácia), Universidade de Malta (Malta), Universidade de Nápoles (Itália), Universidade da Bretanha Ocidental (França) Universidade de Kiel (Alemanha) e a Nord University (Noruega).
A fotografia vencedora retrata os instantes que antecederam a cavalgada em comemoração aos 15 anos do assentamento que fica no distrito de Lerroville, em Londrina. Ela foi feita no momento de uma oração coletiva realizada pela comunidade. “O momento da foto foi anterior à cavalgada, durante uma oração, antes da partida. Achamos importante registrar esse momento significativo, que demonstra a celebração e a fé da comunidade do assentamento”, explica Pedro Guedes, um dos integrantes da equipe vencedora, que também é composta por Clara Dias Chamorro e Rebeca Mercuri. Eles são estudantes de Jornalismo, do 3ª ano, da UEL.
“A gente achou importante enviar essa imagem porque ela representa bem a fé da comunidade, a força espiritual que mobiliza aquela caminhada coletiva”, completa Chamorro. “Foi um momento muito bonito, um momento de união. A gente sentiu que era algo que precisava ser registrado”.

(Foto: Pedro Guedes, Clara Dias Chamorro e Rebeca Mercuri).
O Assentamento Eli Vive, fundado em 2009 pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), abriga hoje centenas de famílias e é reconhecido como um dos maiores assentamentos da América Latina. A cavalgada foi organizada pelos próprios assentados como parte das celebrações dos 15 anos da comunidade — e contou com momentos de oração, música e memória.
A escolha da imagem não foi fácil. “Tínhamos outras fotos também tiradas nesse momento da oração, mas a gente optou por essa porque o enquadramento dela traz uma força que a gente sentiu na hora, que traduz melhor o que era aquele instante”, diz Maria Luisa Hoffmann, professora que orientou o trabalho dos estudantes. “Era antes da cavalgada começar, então tem essa coisa da expectativa, mas também de respeito, de silêncio.”
Mais do que a estética, o critério para escolher a foto envolveu um compromisso ético com o modo de retratar a comunidade. “A gente estava em dúvida se devia mandar uma imagem que tivesse mais ação, mais movimento, mas decidimos que essa mostrava mais do que queríamos comunicar: a fé e o sentido coletivo da caminhada”, relata Chamorro.
Durante os registros, os alunos integravam uma ação de extensão universitária voltada à documentação de experiências populares no campo, com foco no protagonismo das famílias assentadas. “A gente teve muito cuidado em como fotografar, com quem falar, como pedir autorização. Sempre com muito respeito, entendendo que a imagem não é nossa, é da comunidade”, acrescenta Hoffmann. “Foi um processo de escuta”.
A escolha da fotografia vencedora foi feita por uma comissão julgadora composta por profissionais da comunicação e da fotografia documental. O reconhecimento é também uma forma de dar visibilidade à luta dos assentamentos pela terra e por dignidade. “A imagem representa a celebração, mas também a resistência. É uma caminhada de 15 anos, e de muito antes, para que aquelas famílias pudessem estar ali, reunidas, com orgulho do que construíram”, conta a professora.
Para ela, a conquista reafirma o papel da universidade pública na formação crítica e sensível dos futuros profissionais e destaca como a produção acadêmica pode dialogar com as lutas sociais do país. “A gente só tem a agradecer à comunidade do Eli Vive por nos receber tão bem e por permitir que estivéssemos ali. Essa vitória é nossa, mas é principalmente deles”, conclui Hoffmann.
(*Texto produzido pelos estudantes do 4º ano de Jornalismo na disciplina de Assessoria de Imprensa II).