Estudante da UEL desbrava Moçambique por meio do Programa Caminhos Amefricanos
Estudante da UEL desbrava Moçambique por meio do Programa Caminhos Amefricanos
Programa Caminhos Amefricanos financia oportunidades internacionais a estudantes de cursos de licenciatura e professores.A Universidade Estadual de Londrina teve o seu primeiro estudante de graduação contemplado na seleção do programa Caminhos Amefricanos, cuja primeira edição, em setembro, levou um grupo de 50 universitários brasileiros a um intercâmbio de 15 dias em Moçambique, no sudeste do continente africano. O programa Caminhos Amefricanos é uma iniciativa do Governo Federal voltada para estudantes dos cursos de licenciatura e professores da educação básica quilombola ou autodeclarados pretos ou pardos. O objetivo é promover trocas de experiências e conhecimentos em países do Sul Global visando o fortalecimento de uma educação antirracista.
Estudante do quarto ano do curso de História da UEL, Josué Godoy, 43, foi um dos 980 universitários brasileiros inscritos na primeira edição do programa, realizada na Universidade Pedagógica de Maputo (UP Maputo), na capital do país africano. Para alcançar o objetivo de ter o passaporte carimbado no segundo país do mundo com o maior número de falantes da língua portuguesa, atrás apenas do Brasil, Josué teve todas as despesas custeadas pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), responsável pela coordenação do programa ao lado da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização de Jovens e Adultos, Diversidade e Inclusão (Secadi), do Ministério da Educação (MEC), e do Ministério da Igualdade Racial (MIR).
Em entrevista à Agência UEL, o estudante também faz questão de agradecer o apoio recebido pelas professoras Marleide Rodrigues da Silva Perrude (Departamento de Pedagogia/Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros-NEAB); Andréa Pires Rocha (Departamento de Serviço Social) e Viviane Aparecida Bagio Furtoso, da Assessoria de Relações Internacionais (ARI).
Enfretamento ao racismo
Diante da oportunidade internacional, Josué lembra que sua relação com a Universidade Estadual de Londrina teve início aos 38 anos, com o acesso por meio do sistema de cotas. “Sou um filho do sistema de cotas e tenho muito orgulho porque foi através desse sistema que pude acessar a universidade”, conta o estudante, que já atuou no Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros (NEAB) como colaborador e, atualmente, é bolsista de extensão.
Após o ingresso na graduação, foi no NEAB da UEL que o Josué passou a se envolver com o trabalho de enfrentamento ao racismo estrutural, o que o ajudou a ter um bom desempenho no processo seletivo no programa de intercâmbio. “O programa veio justamente ao encontro da necessidade de trazer oportunidade às pessoas negras do acesso a um intercâmbio internacional, visando a formação de novos professores que possam depois levar essa experiência em uma perspectiva de disseminar as questões étnico-raciais a partir da lei 10.639/03”, reforça.
Em Moçambique, ele teve a oportunidade de participar de uma série de eventos e conferências reunidas na Semana Científica da Universidade Pedagógica de Maputo. O evento reuniu os demais selecionados no programa para palestras com docentes, pesquisadores, representantes de órgãos públicos e personalidades, como o escritor e biólogo moçambicano Mia Couto.
Resgatar a ancestralidade
Para muito além da oportunidade de formação, o estudante destaca um aspecto que pode atravessar a vida de mulheres, homens e pessoas trans negras de todo o mundo. Esse processo, conta Josué, envolve a busca pelo reconhecimento da própria ancestralidade. “Foi como retornar para casa”, diz.
A procura, no entanto, é bem mais duradoura e tem início muito antes da sua chegada aos corredores do Centro de Letras e Ciências Humanas (CLCH) da UEL. O despertar da sua curiosidade veio ainda no ensino fundamental, na escola localizada no Conjunto Habitacional Octávio Rasi, zona leste de Bauru (SP), onde Josué passou parte da sua infância ao lado dos seus seis irmãos.
“Nunca me passou pela minha cabeça fazer outra graduação que não fosse História”, decreta. “Fui incentivado por um anjo em forma de professora, a Maria Goreth. Ter gostado de História eu devo a ela, porém o que me impulsionava a fazer o curso era justamente poder resgatar a história não contada dos povos africanos, e eu entendi que uma das formas em que eu poderia não só contar, mas aprender sobre seria então fazendo o curso. Acredito que a maior motivação é justamente resgatar a história não contada dos meus ancestrais”, conclui.
Caminhos Amefricanos
O Programa Caminhos Amefricanos está em sua segunda edição. Nesta oportunidade, 50 estudantes puderam desenvolver atividades em Cabo Verde e 50 professores foram participantes de ações formativas na Colômbia. Os selecionados recebem recursos para diárias, passagens aéreas, seguro-saúde e, no caso do país africano, ajuda para a emissão de passaporte. Para os dois países, o programa recebeu 484 inscrições.