Paca, tatu, cotia sim

Paca, tatu, cotia sim

Pesquisadores estudam mamíferos de médio e grande porte encontrados na zona urbana de Londrina, em projeto do CCB.

Todo mundo conhece uma história de uma onça que apareceu num quintal em algum bairro. A redução drástica das matas, principalmente da Mata Atlântica, e o avanço da urbanização e da exploração econômica do território acabam levando os animais para a cidade, em busca de alimento ou abrigo. Este é o foco do projeto “Que bicho mora aqui? Os mamíferos de médio e grande porte dos fragmentos urbanos de Londrina”, coordenado pela professora Ana Paula Vidotto Magnoni, do Departamento de Biologia Animal e Vegetal.

O atributo alt desta imagem está vazio. O nome do arquivo é Jornal-Noticia-1024x265.jpg
Edição número 1417 de março de 2022
Confira a edição completa

O projeto iniciou como pesquisa e extensão ao mesmo tempo, e mais tarde foram separados, por questões ligadas à concessão de bolsas. Conta com a participação de alunos de graduação e pós-graduação, que não apenas estudam os mamíferos urbanos, como vão levar este conhecimento a escolas e parques da cidade.

Sabe-se que existem cerca de 200 espécies de mamíferos no estado do Paraná. Elas precisam sobreviver em pequenos fragmentos de verde entre plantações e cidades.

A paca é um dos mamíferos estudados pelo grupo de pesquisa.

Tais fragmentos sequer são ligados uns aos outros, observa Ana Paula, e às vezes nem é a melhor opção que sejam. A falta de corredores ecológicos e passagens seguras para os animais, porém, resulta em grande número de mortes, notadamente por atropelamento. Ainda assim, explica a professora, Londrina tem a maior área verde de todo o norte e noroeste do Paraná.

A coordenadora do projeto lembra do caso de uma onça que apareceu no Campus da UEL, que possui uma das poucas áreas verdes do norte do estado: um Horto (20 hectares). Nada comparado, por exemplo, com a Mata dos Godoy (pequena, para a professora: 690 ha) ou o Parque Nacional de Foz do Iguaçu (185 mil ha), este sim com as condições necessárias aos grandes mamíferos, um tanto exigentes para que possam estar num local. A maior área na região é, segundo Ana Paula, a reserva do Apucaraninha (5500 ha). Existe ainda a Reserva Particular do Patrimônio Natural Mata do Barão (1100 ha). No caso da UEL, a professora comemora a obtenção de pelo do felino, para análises.

Ela conta que um gato maracajá (espécie selvagem parecida com uma jaguatirica) já foi visto em Londrina, em área nobre: na avenida Ayrton Senna. No Parque Arthur Thomas, os quatis chamam a atenção. No Jardim Botânico de Londrina, residem pelo menos um gato do mato e um tamanduá mirim. No Ribeirão Esperança, próximo à Fazenda Escola da UEL, tem capivara. Cotias e tatus também estão por aí. Mas o destaque, segundo a professora, é a anta. Ana Paula explica que a anta é uma espécie “guarda-chuva”, ou seja, sua presença indica a de outros tantos animais, dados os requisitos para que ela exista em uma área.

Macaco-prego é um clássico da fauna urbana – estudantes, docentes e servidores da UEL já estão familiarizados com a espécie.

Nem toda espécie, contudo, é bem vinda. O projeto já registrou a presença do rato do banhado, uma espécie natural do Rio Grande do Sul e da Argentina. É um animal que pode chegar a mais de 10kg e representa uma espécie invasora, pois compete com as locais.

Na Central de Salas da UEL, um cachorro do mato já foi encontrado “passeando”. Ele foi uma das 15 espécies de mamíferos de médio e grande porte (ou seja, mais de 10kg) avistados no Campus. O mais conhecido é o macaco prego: existem mais de 40 indivíduos, e eles adoram ir até o Restaurante Universitário para ver se conseguem comida. Ana Paula relata que, durante a pandemia, o projeto não parou, com reuniões on line e postagens nas redes sociais. No retorno ao trabalho presencial, gradual, a Universidade optou pelo fornecimento de marmitas aos servidores. Os restos iam para o lixo, e os macacos não deixaram passar a oportunidade.

A cotia pesa entre 3 a 6kg e vive em cerrados e florestas, geralmente em pares, mas também em bandos.

Conhecer para respeitar

“Conhecer para respeitar” é um dos princípios que norteiam o projeto, daí sua dimensão extensionista que quer chegar a toda a população, especialmente crianças. Conhecer é importante também para não confundir baleias encalhadas com ataque de tubarões (como aconteceu em janeiro passado no litoral fluminense) ou um gato bengal com uma onça (essa foi em Belo Horizonte, no mesmo mês). A sensibilização é um dos principais objetivos do projeto, destaca a coordenadora.

O curso de Veterinária da UEL colabora, com um levantamento dos atropelamentos de animas, infelizmente diários. Para a professora, é mais um indício da necessidade de corredores e passagens seguras para que os animais transitem livremente.

O projeto já começou a disseminar conhecimento pelas redes sociais (como o @leca_uel) e em publicações e eventos científicos. Além disso, ex-participantes do projeto foram aprofundar seus estudos em Programas de Pós-Graduação em outros estados, como Rio de Janeiro e Bahia.

Outra ideia da coordenadora é criar a “Calçada da Fauna”, que pode integrar as atrações dos parques, por exemplo. Lá, os visitantes poderão ver como é a pegada dos animais, além de imagens e outras informações. Locais de trilhas também são alvo do projeto, pois muitos animais podem ser avistados durante uma caminhada pelas matas.

Leia também