Régua e compasso remotos

Régua e compasso remotos

Suspensão das aulas presenciais em razão da pandemia motivou criação de projeto de ensino remoto de Desenho Técnico para três cursos.

A professora Maria Bernardete Barison, do Departamento de Matemática (CCE), foi uma entre toda a comunidade docente que se viu, de uma hora para outra, impedida de ministrar suas aulas normalmente, em razão da pandemia de Covid-19 e consequente necessidade de isolamento. Em 2020, ela ministrava a disciplina de Desenho Técnico para o 1º ano do curso de Agronomia. “Na época, fomos pegos de surpresa. Em casa, ficava pensando em alternativas e aguardando orientações e ideias dos colegas”, comenta. Concluiu que precisava, rapidamente, encontrar uma metodologia que substituísse as aulas presenciais.

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Edição número 1419 de 5 de maio de 2023
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Assim, a partir de diálogos e troca de iniciativas de outros professores em grupos virtuais, ela concebeu o projeto de ensino “Imigração das Aulas de Desenho Técnico para o Modelo Remoto”, que teve início ainda no final de 2020. A professora conta que corria contra o tempo, a fim de reduzir o impacto da falta de aulas. “Mas como fazer?”, ela indagava, considerando que sua disciplina exigia o uso de instrumentos (como régua, compasso e esquadro) e softwares adequados. E nem todo aluno dispunha disso em sua própria casa.

Embora a realidade tivesse pegado todos desprevenidos, a professora Maria Bernardete tinha familiaridade com a plataforma Moodle desde seu Doutorado (concluído em 2015, na USP), além dos dois encontros Virtuel, realizados em 2020 e 2021, justamente para discutir a capacitar os docentes para o ensino remoto na UEL.

A professora decidiu gravar videoaulas e disponibilizá-las no Google Classroom, plataforma criada pelo Google para gerenciar o processo de ensino e aprendizagem, um espaço virtual interativo e com diversas ferramentas úteis. Segundo ela, a necessidade de continuar as aulas exigiu respostas rápidas, sem possibilidade de estudos teóricos precedentes. Tanto assim, que o “estúdio” foi montado em sua própria casa. Engenhosamente, ela instalou um smartphone acima dela de modo a focar a mesa e os desenhos. São dezenas de aulas.

Como o projeto acabou extrapolando, a professora produziu não apenas aulas para a disciplina de Agronomia, mas também para Engenharia Civil (Geometria Descritiva) e Design Gráfico (Desenho Geométrico), com conteúdos comuns e específicos de cada curso. As aulas eram assíncronas, ou seja, os alunos podiam assistir quando lhes conviesse. “Tínhamos alunos que trabalhavam o dia todo, e podiam ver à noite”. Além dos vídeos, a professora promoveu encontros para tirar dúvidas, complementar conteúdo e dar e receber feedback dos estudantes.

Ajustes

Tal feedback veio nas reuniões virtuais, mas principalmente na avaliação mediante questionário aplicada pela professora. Em 2020, 127 dos 160 alunos responderam, o que levou a professora a promover alguns ajustes nas videoaulas, como reduzir o tempo das aulas (que chegavam a 50 minutos, como uma aula convencional) e o número de exercícios propostos. Reduzir à metade se observou mais adequado, ao final. Os alunos também aprovaram as aulas assíncronas e a principal queixa foi a falta de tempo e motivação, considerando a mudança de ambiente. “Nem sempre em casa é mais adequado”, observa Maria Bernardete. Ainda assim, quase 80% aprovaram o modelo, e mais que isso afirmaram assimilar conteúdo com ele.

As aulas teóricas e práticas, que começaram separadas, foram unidas, reduzidas em tempo e em exercícios. Quanto à prática, os alunos faziam desenhos à mão, fotografavam e enviavam em formato .pdf ou faziam no computador (a partir de 2021) e enviavam pelo ambiente virtual de aprendizagem. Os alunos afirmaram preferir ter o direito de escolha, e a professora disse que, em sua percepção, a maioria prefere o computador.

A avaliação geral, enfim, foi positiva e refletiu no desempenho dos estudantes: as notas aumentaram. Quanto a aspectos negativos, a coordenadora aponta que seria necessário mais suporte técnico, por exemplo, para produzir vídeos com narração em off. Também gostaria da atuação de um tutor para fazer correções e interagir com os alunos.

Encerramento

Maria Bernardete relata que apresentou o projeto na 20ª edição da International Conference on Geometry and Graphics (ICGG), realizada em agosto do ano passado na USP, online, e que publicou um capítulo nos anais do evento.

O projeto se encerra em dezembro próximo e, segundo a coordenadora, cumpriu seu objetivo – produzir as aulas, que ficam disponíveis para as próximas turmas e docentes. Ela está em licença remuneratória e aguarda o final do processo de aposentadoria.

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