Mãos que criam montanhas
Mãos que criam montanhas
Professores constroem caixa de areia com realidade aumentada para as aulas de cinco cursos de graduação. Perto de 300 estudantes utilizam recurso semanalmente.Os alunos dos cursos de Engenharia, Arquitetura, Agronomia, Zootecnia e Geografia da UEL dispõem de um recurso didático lúdico, de fácil manuseio e com potencial quase sem limites para o estudo de Topografia. Melhor ainda, um recurso prático e aparentemente simples: uma caixa de areia.
Na verdade, trata-se de uma sandbox AR (Augmented Reality), ou uma caixa de areia de realidade aumentada. É uma ferramenta constituída de uma caixa de madeira (no caso, 80 x 120 cm), com 200kg de areia comum, sob um kinetic (um XBOX, sim, aquele do videogame) e um projetor (um datashow), ligados a um bom computador, numa estrutura que permite determinar a distância dos aparelhos em relação à areia.
O conjunto é o produto final do projeto de ensino “Execução e aplicação no ensino de topografia e de áreas afins de uma caixa de areia com realidade aumentada (sandbox AR)”, coordenado pelo professor Paulo Adeildo Lopes, do Departamento de Geologia e Geomática (CCE).
A caixa de areia foi concebida pelo MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts, dos EUA) em 2002 e ganhou notoriedade quando foi adotada na Universidade de Harvard, em 2013, para o ensino de Geologia e Geografia. Com ela, é possível simular todo tipo de relevo e inúmeros acidentes geográficos literalmente com as mãos. É igualmente possível simular vegetação, construções, efeitos do clima e até animais, como peixes nas águas.
Processo
Para chegar até a caixa atual, houve um longo processo, explica o professor Paulo Lopes. Antes, para visualizar um cenário tridimensionalmente, os alunos construíam maquetes de papel paraná (com maior gramatura, muito usado para embalagens) ou mesmo madeira. Para simular mudanças num terreno (decorrentes uma chuva e deslizamentos), por exemplo, precisavam fazer as maquetes com partes destacáveis. Mais difícil, e num modelo estático.
Num segundo momento, o professor começou a desenvolver com os estudantes modelos montados com a ajuda de aplicativos em smartphone, o que já representou um avanço, na economia de materiais, tempo de trabalho e manipulação dos cenários. Contudo, ainda com muitas e óbvias limitações.
Aí veio a ideia da caixa. A primeira foi feita “artesanalmente”, com a ajuda de alunos, colegas e outros colaboradores. Conseguir o equipamento adequado também não foi fácil. Após a comprovação de que o recurso funcionava, didaticamente falando, Paulo Lopes se uniu a outros professores, para conseguir os aparelhos atuais. Ele conta que um equipamento completo precisa ser importado e custa em torno de 20 mil reais. O da UEL, construído aqui mesmo, custou aproximadamente um terço deste valor, mas o professor observa que as despesas de marcenaria, por exemplo, foram cotizadas entre cinco docentes, todos participantes do projeto.
Agora, cerca de 300 alunos “brincam” com a areia semanalmente no Laboratório de Topografia e Geodésia no CCE. Uma vez programado o computador, muito bem embutido no móvel, basta acionar o XBOX, o datashow, regular a distância (altura) e literalmente colocar as mãos na areia para formar o cenário que se quiser – uma montanha, uma praia, um lago, um cânion, um vulcão, colinas, vales, rios, matas, curvas de nível, entre tantos outros.
As altitudes são diferenciadas por cores – e tem até “neve” se a montanha for alta o suficiente. Linhas horizontais aparecem nas formas para marcar as altitudes predefinidas. O potencial para modelar paisagens é limitado apenas pela imaginação.
Para o professor Lopes, a moldagem em tempo real não só diverte, quanto fornece uma resposta imediata à manipulação e permite visualizar e projetar cenários e dados com maior eficiência. Isto porque, além de ser tridimensional, é tátil – uma vantagem pedagógica a mais.
Avaliação
Como se trata de um projeto de ensino, os alunos também avaliaram a ferramenta, com um instrumento idealizado pelo professor. Ele conta que as turmas aprovaram o recurso e sentem a diferença em relação aos anteriores, mas não prescindem das demais etapas. “Os alunos gostam da parte teórica e ainda fazem as maquetes, e entendem que estas fases são importantes até chegar na realidade aumentada”, comenta Paulo Lopes.
O projeto teve início em 2019 e teve que ser interrompido durante a suspensão das atividades acadêmicas em razão da pandemia, mas deve se encerrar em setembro próximo. O coordenador está produzindo o relatório final e preparando artigo para publicação. Considera o projeto bem-sucedido: o material foi criado, está sendo aplicado, já foi avaliado positivamente e está à disposição não só para os graduandos, mas também para futuras pesquisas.