Ninguém segura este bebê!

Ninguém segura este bebê!

Projeto avalia o desenvolvimento de habilidades manipulativas, como segurar com força, arremessar e carregar pequenos objetos, em bebês entre 6 e 12 meses.

Alcançar e arremessar objetos, segurá-los com força muitas vezes superior à necessária e soltá-los de acordo com a sua vontade são habilidades manipulativas esperadas em bebês durante o transcurso do seu primeiro ano de vida. Buscando acompanhar a aquisição destas habilidades com o objetivo de entender como é o desenvolvimento da preensão manual nesta fase, duas docentes do Centro de Educação Física e Esporte da UEL (Cefe) decidiram desenvolver estudos utilizando vídeos gravados pelas próprias famílias ao longo do segundo semestre de vida dos seus pequenos.

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Edição número 1418
de abril de 2022
Confira a edição completa

Os resultados preliminares mostram que alguns bebês podem apresentar um certo grau de instabilidade do padrão das suas habilidades manipulativas conforme buscam alcançar a postura ereta e permanecer equilibrados em pé.

Iniciado em meio a um momento de grande preocupação com o avanço da Covid-19, em maio de 2021, o projeto de pesquisa “Desenvolvimento da Coordenação de Habilidades Manipulativas de Bebês entre 6 e 12 meses de Idade” também foi criado com o objetivo de entender se os períodos de maior convívio em casa forçado pelo isolamento social estariam influenciando no desenvolvimento destas habilidades.

O projeto foi coordenado pela professora Josiane Medina Papst e tem como colaboradora a professora Laísla Camila da Silva, que deu início aos estudos sobre as habilidades manipulativas dos bebês em seu mestrado na UEL. As professoras contam que seis famílias concordaram com o desafio de registrar semanalmente, durante seis meses, os momentos de lazer e brincadeiras com seus bebês. Desta forma, vídeos de 15 a 20 minutos eram produzidos e enviados pelos pais ou cuidadores para compor a análise da pesquisa.

Os participantes foram divididos em dois grupos. O primeiro recebeu um kit de brinquedos contendo cubos, bolas e chocalhos. Já o segundo grupo foi orientado a utilizar os próprios brinquedos da casa sem necessariamente haver o afastamento dos materiais da residência à disposição do alcance das crianças, desde que, obviamente, não representassem riscos. O objetivo foi entender se era possível verificar uma progressão nestas habilidades.

Esperava-se que eles fizessem mais alcances bimanuais (com as duas mãos) que colocassem força independentemente do tamanho do objeto, e que, progressivamente, fossem refinando essas características de acordo com as propriedades dos objetos, tamanho, forma, textura e peso. “Ao final do primeiro ano já esperávamos que, para os objetos menores, eles usassem o movimento de pinça, ou a oposição do polegar com mais dedos, utilizassem os dígitos sem impor força em excesso”, explica Laísla.

Instabilidade

De acordo com as docentes do Cefe, os resultados preliminares dos estudos apontaram que, ao passo em que a maioria das crianças desenvolve as habilidades analisadas com tranquilidade, algumas podem apresentar um certo grau de confusão na execução de habilidades manipulativas que já haviam sido adquiridas. Esta dificuldade, explica Laísla Silva, foi registrada com maior frequência em bebês durante o desenvolvimento da postura ereta, na busca pelo equilíbrio em pé.

A professora Josiane Papst explica que já existem algumas pesquisas que fornecem hipóteses sobre o porquê de alguns bebês encontrarem dificuldades para desempenhar suas habilidades manipulativas nesta fase. Ao mesmo tempo, a professora pondera que esta característica isoladamente não deve ser interpretada como algo negativo. “Quando a criança assume essa independência para a habilidade de locomoção, isso começa a influenciar na sua manipulação também. Não entendemos como negativo porque isso não é uma regressão, e, sim, uma adaptação, o que é positivo. Em determinado momento a criança abre mão de algumas coisas confortáveis para ela e então deixa de pegar um objeto de uma forma confortável, digamos, porque está adaptando o que ela consegue fazer para se locomover ao mesmo tempo” explica.

Esta busca por um padrão mais confortável é o que explica, também, o fato de alguns bebês em fase de adaptação em pé retornarem ao solo no momento em que estão manipulando brinquedos ou objetos que despertam a sua curiosidade, observaram as professoras. “É uma ideia de adaptação mesmo do comportamento até ele se sentir novamente mais estável e dominar bem aquela habilidade, então consideramos que ele está em um nível mais avançado. E assim segue até ele ter um novo desafio. Chamamos isso de instabilidade ou estabilidade do comportamento” explica Papst.

Controle postural

“Pensando na premissa do desenvolvimento, é neste primeiro ano de vida que estamos criando repertório motor para utilizar essas habilidades motoras ao longo da vida”, destaca a professora Laísla, atualmente doutoranda da Escola de Educação Física e Esporte da Universidade de São Paulo (USP). Ela conta que ficou interessada em estudar o desenvolvimento das habilidades manipulativas justamente pela importância desta capacidade motora no cotidiano pessoal e profissional dos seres humanos. “Conseguimos hoje fazer um movimento de precisão tão mínimo de uma pinça, que é o que diferencia os homens dos outros mamíferos, e isso vem se desenvolvendo desde o primeiro ano de vida. Então, é muito importante compreender o que acontece com essas habilidades manuais justamente por afetar tanto a nossa vida”, diz.

Neste sentido, pretende dar continuidade aos estudos sobre as habilidades manipulativas em bebês trazendo para projeto de Doutorado também a análise sobre o controle postural. O objetivo, conta, é entender quais fatores influenciam no controle postural e se existem outros atrelados ao desenvolvimento das habilidades manipulativas. “O foco vai ser justamente este período de transição, para explicar melhor o que acontece ali, algo que ainda não temos na literatura. Temos muitos artigos que explicam a sequência de desenvolvimento, mas não a explicação dessa variabilidade, dessa instabilidade, que ocorre neste período. Meu foco vai ser tentar explicar essa instabilidade”, conta a docente, que continuará realizando estudos para o doutorado contando com o apoio do Grupo de Estudos em Desenvolvimento e Aprendizagem Motora (Gepedam), do Cefe.

Coordenado inicialmente pelas professoras Inara Marques, atualmente aposentada da UEL, e Josiane Papst, o grupo foi criado em 2004 para reunir os estudantes de graduação e pós-graduação interessados em linhas de pesquisa que envolvem avaliação motora e desenvolvimento, aprendizagem e controle dos movimentos. Mais informações sobre as pesquisas desenvolvidas pelo grupo de estudos podem ser encontradas no perfil do Instagram @gepedam.uel.

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