Visões de mundo

Visões de mundo

Projeto de pesquisa investiga a cultura visual humana desde a Pré-História, com intuito de ampliar as referências dos futuros profissionais para suas criações.

Academicamente falando, “cultura visual” é um termo nascido há poucas décadas. Mas, milhares de anos antes de criar alfabetos e uma língua escrita, os seres humanos já desenhavam e desenvolviam técnicas e conhecimentos gráficos. Tais saberes não caducam e podem ser utilizados até hoje, e por muito tempo ainda. É o que expõe o projeto de pesquisa em ensino “Cultura e conhecimento gráfico e visual – estudos teóricos e experimentos em Design”, coordenado pela professora Ana Luísa Boavista Lustosa Cavalcante, do Departamento de Design Gráfico (Ceca) e atual diretora de Eventos, Cultura e Relações com a Sociedade, da Pró-Reitoria de Extensão, Cultura e Sociedade (Proex). Herdeiro de projetos e estudos anteriores, ele é aplicado na prática docente da pesquisadora.

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Edição número 1420
de junho de 2023
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Ana Luísa conta que já trabalhou com o tema no Doutorado (em Engenharia e Gestão do Conhecimento, na UFSC, concluído em 2015), mas desde 2005 estudava grafismos e objetos de produção indígena (caingang), como a cestaria. Na UEL, ela ministra a disciplina de “Sintaxe Visual”, que se ocupa de conhecer os efeitos de sentido estético e significação dos diferentes arranjos gráficos e imagéticos em composições visuais. Segundo a professora, é uma questão de apurar a percepção visual para o entendimento das linguagens, perceber plasticamente os objetos e enriquecer a cultura visual. “Propomos e os alunos realizam descrições e análises de paisagens e obras de arquitetura como mensagens visuais, combatendo o ‘analfabetismo visual’”, explica a coordenadora do projeto.

Quando se fala em sintaxe visual, refere-se a elementos como ponto, linha, forma, cor, textura, tom, direção, escala, dimensão e movimento. Conhecê-los é, de acordo com a professora, “alfabetizar-se visualmente”.

O projeto já promoveu encontros remotos, leituras e pesquisas, principalmente sobre a História do Design Gráfico, entendido como necessidade de expressão humana e também uma forma de saber, que vem evoluindo com a própria Humanidade. Assim, hoje em dia, ainda é possível encontrar certas expressões “primitivistas”, como as pichações urbanas, mas outros estilos mais elaborados, como o grafite.

O Parque da Serra da Capivara (Piauí) tem a maior concentração de pinturas rupestres
das Américas, e também as mais antigas, algumas datadas em até 12 mil anos.

Como se trata de uma “sintaxe”, existem regras, e transgressões podem ser vistas simplesmente como erro. Entre os fundamentos sintáticos, estão o equilíbrio, o nivelamento (“pesos” visuais), os “respiros” (áreas em branco que dão leveza à imagem), tensão (pontos de ênfase), estrutura, cores, tons, escalas, ritmos e movimentos. Alguns, como estes últimos, têm origem na Matemática e na Física. Sim, Design tem tudo a ver com interdisciplinaridade.

No projeto, assim como na disciplina, os alunos analisam graficamente imagens selecionadas e elaboram a descrição de um produto, como um cartaz de cinema, uma capa de revista ou um outdoor. Os elementos há pouco descritos são observados de forma crítica e este exercício regular incrementa a percepção visual dos estudantes e vai refletir em seus próprios trabalhos, já que passam a contar com cada vez mais referências culturais. Às vezes a prática vai bem além da descrição, e os alunos devem criar uma composição a partir de um tema, apenas com pontos e linhas, por exemplo. Mais ou menos como fez Toquinho, em “Aquarela”, que com cinco ou seis retas achou fácil fazer um castelo.

Embora esta versão do projeto ainda esteja na primeira fase, desde estudos anteriores a professora Ana Luísa tem verificado uma avaliação positiva dos alunos, que apresentam bons resultados e aprimoram sua técnica, por exemplo, na relação equilíbrio x instabilidade. A pesquisadora lembra que, apesar da tônica na Sintaxe Visual, os alunos acabam extrapolando e entrando em questões da Semântica Visual, ou seja, no campo dos sentidos e significados da imagem. Não há como dissociar.

Dimensão Extensionista

Embora seja um projeto de pesquisa em ensino, a coordenadora observa que uma dimensão extensionista fará parte do projeto, quando forem realizadas oficinas. Ela já tem esta experiência em iniciativas anteriores, com oficinas voltadas a mulheres artesãs e estudantes indígenas da UEL, com foco em sua identidade comunitária. Foi um trabalho ligado ao Programa Universidade Sem Fronteiras. O USF é uma iniciativa do governo paranaense, iniciado em 2007 e considerado o maior programa de extensão universitária no Brasil, mobilizando equipes multidisciplinares com educadores, profissionais recém-formados, estudantes de graduação e do Ensino Médio.

Além disso, a professora já publicou um artigo na Revista de Artes, Moda e Design (REAMD), periódico da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc), ano passado, intitulado “Alfabetismo visual no ensino de Design Gráfico”. O estudo constata, entre outros pontos, que não existem muitas publicações sobre o tema em bancos de dados acadêmico-científicos brasileiros. E que, ainda, uma aluna de graduação está desenvolvendo um Trabalho de Conclusão de Curso que é uma espécie de guia de apoio didático para as aulas.

Unindo tudo, Ana Luísa planeja, para uma posterior fase do projeto, iniciar experimentações gráficas, montar oficinas e promover a alfabetização visual de estudantes nas escolas de Ensino Médio. “Estamos na fase de construir e delimitar estas futuras atividades”, pondera a professora.

“Propomos e os alunos realizam descrições e análises de paisagens e obras de arquitetura como mensagens visuais, combatendo o ‘analfabetismo visual’”, explica a professora Ana Luísa Cavalcante.

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