Realidade em quadrinhos
Realidade em quadrinhos
Pesquisadora amplia continuamente análise de histórias em quadrinhos, com foco na linguagem e na caracterização dos personagens.A professora Maria Isabel Borges (Departamento de Letras Vernáculas e Clássicas) tem como foco de pesquisa um objeto que – ainda – é vítima de preconceito no mundo acadêmico e literário: as histórias em quadrinhos. Atualmente, ela coordena o projeto “Quadrinhos e análise linguística: as personagens em atuação nas novelas gráficas”, iniciado em 2021 e com mais um ano pela frente.
Contudo, não é o primeiro. No mestrado, concluído em 2004 (Universidade Federal de Uberlândia), trabalhou com o Pasquim, um jornal publicado entre 1969 e 1981 que explorava bastantes as charges para crítica política e social, como as do cartunista Henfil (Henrique de Souza Filho, 1944-1988). Porém, já foram foco de suas pesquisas as tiras da argentina Mafalda, dos bichinhos de jardim e atualmente os quadrinhos de Will Eisner (1917-2005), quadrinista norte-americano que dá nome a um renomado prêmio na área.
De acordo com a professora, seus estudos começaram com charges e tiras cômicas, logo aplicadas em sala de aula. Maria Isabel ministra uma disciplina na graduação, sobre histórias em quadrinhos (4º ano), e também no Programa de Pós-Graduação em Estudos da Linguagem (PPGEL), abordando ainda mangás e novelas gráficas (graphic novels, como são mais conhecidas). Ela afirma que ainda existem muitos mitos em torno dos quadrinhos, como a ideia de que se trata de literatura infantil, ou pior, uma subliteratura.
Parte do trabalho da pesquisadora é justamente combater estes mitos, com materiais, nacionais e estrangeiros, que demonstram ser bastante realistas, que denunciam contradições sociais e episódios graves da História humana. Por exemplo, a versão em quadrinhos de “Morte e Vida Severina” (João Cabral de Melo Neto), de “O Diário de Anne Frank” e “Persépolis”, uma autobiografia de uma menina iraniana que testemunhou o auge da revolução em seu país. São bons exemplos do que a professora procura: autoras e personagens femininas fortes e histórias reais.
Os participantes do projeto realizam encontros virtuais quinzenais e desenvolvem os estudos, trabalhando autores, personagens, histórias, contextos, linguagem, língua, recursos textuais e questões sociais e filosóficas encontradas nos enredos. Por exemplo, a violência, morte, o papel da mulher. Ela explica que as histórias oferecem outras perspectivas, apresentam outras culturas aos leitores, provocam um “deslocamento” que enriquece, amplia o conhecimento de quem lê.
Análises
Ao focar nas personagens das novelas gráfica, a pesquisadora busca suas especificidades, conectando recursos de linguagem com suas identidades. As obras são selecionadas e em seguida entra a leitura de textos teóricos, como livros do jornalista e professor Paulo Ramos (USP/Universidade Federal de São Paulo) e do professor Waldomiro Vergueiro (USP), fundador e coordenador do Observatório de Histórias em Quadrinhos, além da Linguística e particularmente da linguagem quadrinística. Em seguida vêm as análises, a partir dos estudos culturais e Linguagem, caracterização dos personagens e desenvolvimento de ferramentas analíticas, com o intuito de ampliar os estudos e propor análises.
Em última instância, Maria Isabel pensa em instrumentalizar professores para pesquisas em suas práticas docentes. Tanto assim, que está nos planos do projeto levar os resultados até as escolas. Isso passa por uma boa seleção de obras. “Escolher boas histórias favorece bons estudos”, sentencia. Isso significa, em sua avaliação, obras que falem da realidade, da sociedade em que se vive, da vida de pessoas reais, dramas, e sobretudo a autoria feminina.
Além destas ações, o projeto tem sido divulgado em eventos científicos, particularmente de outras áreas, fora da Linguística, como História e Literatura, como o Eneimagem (UEL) e a Jornada Internacional de Histórias em Quadrinhos (USP), de cuja Comissão Científica a professora Maria Isabel faz parte. A próxima edição, aliás, é em agosto.