Interdisciplinaridade solidária

Interdisciplinaridade solidária

Programa reúne projetos de diversos cursos e centros de estudo para apoiar e fortalecer iniciativas de Empreendimentos Solidários.

A professora Terezinha Saracini Ciriello Mazzetto (Departamento de Economia) coordena um dos vários projetos que integram o Programa INTES-UEL (Incubadora Tecnológica de Empreendimentos Sociais Sustentados), criado em 2004, e que tem como missão apoiar grupos de trabalho coletivo, contribuindo para sua inserção na sociedade.

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Edição número 1422
de agosto de 2023
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O projeto, intitulado “Economia solidária: compreensão, disseminação e fortalecimento de empreendimentos solidários em Londrina e região”, visa justamente apresentar à comunidade esta alternativa de produção, que repensa o lucro, pratica autogestão e objetiva o benefício coletivo, não de uma parcela.
De acordo com a professora, a economia solidária tem raízes ainda nos anos 70 do século passado, mas começou a ganhar mais evidência com as sucessivas crises econômicas aos longo das décadas, até a pandemia de Covid-19. As características do empreendimento solidário são uma opção contra tais crises, além de apresentar outros pontos positivos, como o respeito ao meio ambiente, a valorização da produção local e dos diferentes saberes. Paralelo a isso, observa Terezinha, existe uma crescente conscientização do consumidor em relação a estes aspectos, o que o deixou mais exigente.

Mitos

Ainda existem muitos mitos em torno dos empreendimentos solidários, a maioria – para variar – fruto do desconhecimento. Um deles, diz a professora Terezinha, é pensar que consumir produtos de economia solidária é caridade. Pelo contrário: é adquirir produtos resultantes de trabalho especializado e diferenciado. Aí já derruba outro mito: que os produtos têm qualidade inferior. Outro é afirmar que são mais caros. Por outro lado, muitos pensam que, dentro do conceito de “solidário”, está o “gratuito”. A professora cita o exemplo de um salão de beleza em que clientes pensavam que não precisavam pagar pelos serviços, por ser um empreendimento “solidário”. E ainda existe a ideia equivocada de que produtos de economia solidária são caseiros. O que há de caseiro numa cooperativa de reciclados, por exemplo?

Empreendedores

Onde houver três ou mais pessoas interessadas em um empreendimento social, ali pode nascer um. É o que explica a professora Terezinha. A partir daí, pode entrar em ação a INTES-UEL. Ela informa que a Incubadora fornece toda a assessoria aos interessados, e convida professores de todas as áreas necessárias para assistir os novos empreendedores. É assim que participam tantos cursos, como Direito, Ciências Contábeis, Economia, Serviço Social, Agronomia, Jornalismo, Relações Públicas, Design Gráfico e Design de Moda, Administração, Psicologia, Educação, Arquitetura, Computação. A coordenadora do projeto, que assumiu recentemente também a coordenação da INTES, é enfática: “Qualquer professor, de qualquer curso, pode participar do Programa”.

E assim é, da horta ao software. A professora exemplifica com o caso de uma horta, empreendimento que contou com a Agronomia para ensinar técnicas de cultivo, compostagem e outras, ao mesmo tempo em que a Economia ajudou quanto a custos e precificação dos produtos. Para um grupo de costura, os cursos de Design entraram com seus conhecimentos técnicos, e a Comunicação colaborou com estratégias para dar mais visibilidade ao empreendimento. E enquanto o pessoal de Educação promoveu oficinas, a Computação desenvolveu um software para uma maquininha de cobrança. “Para cada demanda, procuramos um professor”, conta Terezinha.

Atualmente, existem 49 empreendimentos solidários, de sete ramos diferentes, que ocupam praticamente 200 trabalhadores. Há empreendimentos em alimentação, coleta seletiva, sacola solidária, artesanato em madeira, urbanos e rurais, que comercializam em diferentes espaços na cidade, desde um quiosque no Calçadão (centro de Londrina) até a feira solidária da UEL, passando pelo Centro Público de Economia Solidária, também na área central (Avenida JK, esquina com RJ). Até uma cozinha solidária foi montada.

O resultado, na avaliação da professora, não são apenas produtos diferenciados, mas uma valorização da cidadania pelo trabalho. Como atividade coletiva e de autogestão, o empreendimento solidário agrega o valor de cada um (com seus saberes e trabalho), combate a desigualdade e a exclusão, estimula a cooperação, além de promover o desenvolvimento local em vários sentidos, não apenas econômico, e ainda respeitar o meio ambiente. “Os empreendedores se veem como sócios. Há uma integração da família, da comunidade e entre comunidades. Além disso, economia solidária é um investimento baixo e um retorno alto”, pondera.

Além de contar com estudantes de graduação e pós-graduação, o Programa tem parcerias com colaboradores externos, como a Prefeitura Municipal, através da Secretaria da Mulher, em ações de geração de emprego e renda, e a Cáritas Londrina, rede ligada à Igreja Católica que desenvolve ações sociais e humanitárias em mais de 200 países. A INTES também mantém vínculos com a Secretaria Nacional de Economia Solidária (Senaes), criada em 2003 no âmbito do Ministério do Trabalho e Emprego. Aliás, a professora Terezinha anota que o Governo Federal já retomou algumas ações, como um mapeamento das incubadoras existentes no país.

O Programa não fica por aí. Terezinha anuncia mais um projeto de extensão que se junta aos demais, coordenado pela professora Simone Vinhas de Oliveira (Direito), que terá bolsas e recursos do Programa Universidade sem Fronteiras (USF), do Governo Estadual, e participação dos cursos de Arquitetura, Relações Públicas, Contábeis, Economia e Administração, além de um egresso do curso de Direito. A inclusão de alunos pela curricularização da extensão está no planejamento dos projetos.

Paralelamente, já renderam frutos acadêmicos, como a publicação de livros, capítulos, trabalhos de graduação e pós-graduação, apresentações em eventos científicos, e há uma tese de Doutorado em andamento, em Economia, na Universidade Federal do Rio de Janeiro.

“Qualquer professor, de qualquer curso, pode participar do Programa”, destaca a professora Terezinha.
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