O futuro do comércio (e o comércio do futuro)

O futuro do comércio (e o comércio do futuro)

Universidade e diversos setores se unem para criar o Centro de Inovação do Comércio de Londrina, um apoio aos empreendedores da cidade.

Prestes a completar 90 anos (no próximo dezembro), Londrina comemora seu sucesso em várias frentes, como a economia. Vale lembrar que, a exemplo de todo o país, a cidade emerge de um período desfavorável – a pandemia. Só para dar alguns exemplos, Londrina foi a líder nacional na abertura de franquias entre 2022 e 2023, segundo levantamento da Associação Brasileira de Franchising. Ao lado dos Serviços, o Comércio ajudou a fechar o ano passado com um saldo positivo de 7 mil empregos.

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Edição número 1428
de março de 2024
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Os bons índices econômicos do município são acompanhados de outros, correlacionados. Exemplo é a cidade ter sido considerada ativa e sustentável. No ranking da plataforma Bright Cities, é a 1ª do Paraná, 2ª do sul e 9ª em todo o país. Estes e outros marcadores colocaram Londrina entre as 50 maiores economias do Brasil, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2023).
O presente é para comemorar, mas o futuro exige planejamento, trabalho e investimento. Por isso, desde 2021, um grupo de empresas, entidades, instituições de ensino superior e poder público criou uma Governança para avaliar o cenário econômico local, propor iniciativas e estimular a inovação e o desenvolvimento. O Grupo de Trabalho já realizou um levantamento do panorama dos últimos anos e, a partir destes dados, mira as próximas quatro décadas.

Destas ações nasceu o projeto “Estruturação e Implementação do Centro de Inovação do Comércio de Londrina”, coordenado pela professora Marli de Lourdes Verni (Departamento de Administração). Ela comenta que com este levantamento foi possível descobrir “quais as dores do comércio”. Além disso, o Grupo de Trabalho se reúne mensalmente para deliberar suas estratégias. Dele participam UEL, Associação Comercial e Industrial de Londrina, Senac (Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial), Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), Sincoval (Sindicato do Comércio Varejista de Londrina), Codel (Companhia de Desenvolvimento de Londrina), Fecomércio (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Paraná), entre outras.

Rua Sergipe.

Um dos pontos mais positivos do GT e do projeto são seus valores, como a cultura da inovação, que não necessariamente é sinônimo de alta tecnologia; e ainda o desenvolvimento de protótipos, serviços, e aspectos como a inovação na forma de atendimento e na própria exposição dos produtos. Já o projeto objetiva promover o processo de inovação pautado na modelagem da chamada “quádrupla hélice”: academia, governo, setor empresarial e sociedade civil organizada.

Entre as dificuldades detectadas pelo projeto, estão questões relativas à gestão financeira, um certo medo ou desconfiança de novas tecnologias (como o pix) e a aposta em novidades muito diferentes do habitual. Também existe a preocupação com a competição com o e-commerce, segurança de lojistas e clientes (o que envolve o poder público) e um problema típico de grandes cidades – vagas de estacionamento. Mesmo os shopping centers falaram de dificuldades, como acesso (distância), necessidade de tecnologia e de experimentar coisas novas, e também a preocupação com a concorrência das lojas virtuais. Na avaliação da professora Marli Verni, parte dos comerciantes londrinenses tem receio de ousar porque é ligada a tradições e antigos hábitos, muitas vezes familiares.

Contudo, a professora Marli é categoricamente enfática ao dizer: “O comércio de rua não vai morrer”. E ilustra com o exemplo da rua Sergipe, tradicional no comércio e protagonista de décadas de história e memória de Londrina. “A rua Sergipe é um laboratório”, sintetiza. Como ela, muitas outras são assim, como a Guaporé (Vila Nova) e a Duque de Caxias (Centro), também foco de pesquisadores da UEL. Isso porque os comerciantes também possuem expectativas, e algumas já estão sendo preenchidas graças a ações do projeto com seus parceiros. Exemplo é o treinamento para gestores e colaboradores dos estabelecimentos, com apoio do Senac e Sebrae. “Trazemos palestrantes que mostram como experimentar e explorar possibilidades”, comenta a coordenadora.

Centro de Inovação

O Centro de Inovação proposto pelo projeto está sendo estruturado no Sincoval (rua Governador Parigot de Souza, 220, próximo à Prefeitura), na Sala Google, um espaço interativo, com estações de trabalho e outros recursos, que propiciará diversas atividades, como reuniões, pesquisas, orientações e treinamentos. Participam estudantes bolsistas e empreendedores. Muitos poderão conhecer o Centro a partir das redes sociais, que estão sendo criadas.

“O comércio de rua não vai morrer”, sentencia a professora Marli Verni (Administração).

O projeto também deve inaugurar, ainda este semestre, uma “loja-modelo”. Será uma espécie de loja-escola para treinamento, com todos os equipamentos e mobiliário necessários para funcionar como qualquer outra. Detalhe é que, periodicamente, a loja vai mudar de segmento para atender a todo tipo de comércio e serviços. Assim, por um tempo poderá ser uma perfumaria; depois, uma lanchonete; depois um salão de beleza; e assim por diante.

Pesquisas

Apesar de toda esta aparência de projeto de extensão, há muita pesquisa e – por consequência – ensino envolvidos, pois também é um campo de estágio para graduandos. A Fecomércio também encomendou uma pesquisa ao projeto. Outras três estão em andamento, uma delas será concluída em maio. Foram ouvidos empreendedores e consumidores, para subsidiar um trabalho futuro direcionado.
O projeto conta atualmente com três docentes, 1 técnico e 7 bolsistas de Iniciação Científica. Na próxima fase, haverá mais 7 bolsistas da Fundação Araucária. A Fundação e a deputada estadual Luísa Canziani, via emenda parlamentar, conseguiram recursos de R$ 1 milhão de reais para serem aplicados no Centro.

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