Ciência cidadã nas escolas
Ciência cidadã nas escolas
Em sua segunda fase, projeto estimula prática e pesquisa científica em 200 escolas públicas, e deve crescer mais ainda.A professora Mariana Aparecida Bologna Soares de Andrade (Departamento de Biologia Geral) coordena um projeto de pesquisa intitulado “Educação para a Ciência e divulgação científica: implementação e análise do desenvolvimento e impacto do ‘Ciência Cidadã na Escola’”. Previsto para ser concluído em outubro, ele está em fase de transição para sua segunda fase, que teve início no começo de 2024.
O projeto tanto se caracteriza como um NAPI (Novos Arranjos de Pesquisa e Inovação), quanto está relacionado ao PICCE (Programa Interinstitucional de Ciência Cidadã na Escola). No primeiro caso, integra uma rede do governo estadual (via Fundação Araucária) que objetiva conduzir a produção de conhecimento de forma colaborativa pelos pesquisadores paranaenses, a partir de demandas reais de desenvolvimento de setores estratégicos para o Estado, mediante o aporte de recursos financeiros (chamadas públicas) com base uma plataforma digital. Já dentro do PICCE, originário da Universidade Federal do Paraná (UFPR), visa promover a construção da Ciência Cidadã nas escolas da rede de ensino do estado por meio de um processo formativo, pautado em metodologias de ensino e aprendizagem aliadas à inovação e ao pensamento crítico. Ele envolve o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI).
Para a professora Mariana, a importância de o projeto ser um NAPI está, entre outros aspectos, no fato de que este modelo estimula, articula projetos e permite estabelecer muitas metas, porque pode envolver muitos pesquisadores. Além disso, prevê a concessão de bolsas em vários níveis, da Iniciação Científica (graduação) ao Pós-Doutorado, passando por técnicos de nível médio e superior. E mais: fomento para as escolas, como recursos para implantação de laboratórios e museus de ciência. Em nível estadual, o NAPI é coordenado pelo professor Rodrigo Arantes Reis, da UFPR.
A coordenadora do projeto na UEL vê com entusiasmo (e um certo alívio) as possibilidades abertas por estas estratégias de fomento e qualificação, diante do cenário de cortes de recursos na pesquisa enfrentado por vários anos, no passado recente. Ainda mais considerando a união de instituições federais e estaduais nestes esforços. Para se ter uma ideia, em sua primeira fase o projeto uniu pesquisadores da UEL, UFPR, UEM, Unespar, Unila, UTFPR, IFPR e Secretaria Estadual de Educação. Outra vantagem, segundo ela, é que a participação nestes programas abre as portas para buscar mais fomentos, em outros editais.
Primeiras ações
Nessa fase, iniciada há cerca de dois anos e meio, o projeto investiu em atividades da “Ciência cidadã” na Educação Básica, ou seja, atuou na formação de professores e estabeleceu protocolos nas escolas. Analisou o perfil, engajamento, motivação e experiência dos participantes, assim como o impacto do projeto em sua formação científica. O foco girou em torno de temas como o capital científico, a comunicação pública da Ciência e o diálogo entre divulgação científica, ciência cidadã e ambiente escolar.
Um momento importante, em que foi possível aquilatar os primeiros resultados do projeto, foi a Semana Estadual de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior do Paraná (Paraná faz Ciência), realizada na UEL em novembro passado. Na avaliação da professora Mariana, o projeto mostrou seu êxito, e mais que isso: expandiu-se a partir de então. “Temos muito mais metas agora”, comenta.
Um exemplo está na criação, em até dois anos, dos Clubes de Ciência, que deverão contemplar 200 escolas em todo o Paraná. Fundação Araucária e MCTI são responsáveis pelo fomento desta iniciativa, que inclui formação para professores, realização de feiras de ciências e recursos financeiros para três museus de Ciência e Tecnologia: da UEL, UEM e UFPR. O projeto da UEL entrará com ministrantes (formadores) e receberá recursos (bolsas) das duas instâncias. Os clubes envolverão todas as instituições de ensino superior estaduais e federais do Paraná.
Mais novidades
No caso da UEL, a professora Mariana anuncia mais novidades: verbas específicas para atender dois novos projetos de extensão a serem implantados em breve, que visam qualificar professores e articular os vários museus de C&T da instituição: Zoologia, Anatomia, Geografia, e Ciência e Tecnologia. A ideia é criar uma “rota de museus” aberta à comunidade, especialmente aos alunos da rede pública.
Tudo isso tem como objetivo, de acordo com a coordenadora do NAPI na UEL, estimular a participação de professores e especialmente de estudantes da rede básica em projetos científicos. “É a alfabetização científica do cidadão”, resume. Não se trata, necessariamente, de formar cientistas, mas de aumentar a criticidade e possibilitar que os alunos possam distinguir as diferentes formas de conhecimento.
Mas é claro que a professora torce para que muitos se interessem pelas carreiras de cientista e de docentes, buscando os bacharelados e licenciaturas correspondentes. “De qualquer maneira, aproximamos os alunos da educação básica da Universidade, trazendo-os para cá”, comenta.
Aprimorar o senso crítico também tem a ver com aprender a “boa ciência”, aquela obtida com a aplicação de protocolos validados, e não “produzida” em redes sociais ou outras fontes nada confiáveis. Neste ponto, destaca Mariana, a participação dos professores da rede básica é fundamental. “São eles que conhecem a realidade da escola e dos alunos. Por isso, não é nosso objetivo levar conhecimento, mas unir conhecimento”.
E o conhecimento gerado pelo projeto já é expressivo: rendeu dois Trabalhos de Conclusão de Curso (graduação), uma dissertação de Mestrado e uma pesquisa de Pós-Doutorado, além de quatro trabalhos apresentados em eventos científicos, inclusive internacionais, três estudos submetidos a publicação, e e-books. Está no horizonte a participação na Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, que será em outubro e discutirá os biomas brasileiros, a biodiversidade e as tecnologias.
Na UEL, o projeto já contabilizou a participação de 15 professores de sete Departamentos de três Centros de Estudos. Também alunos bolsistas de Iniciação Científica, Capes, Iniciação Extensionista e técnico de nível médio. Mariana revela, por fim, que pretende trazer mais docentes para o NAPI.