Instituto Nacional oferece suporte a estudos sobre toxoplasmose
Instituto Nacional oferece suporte a estudos sobre toxoplasmose
Pesquisadores de todos os estados do Brasil e de outros países se unem em projeto capitaneado pela UEL e sob uma visão de saúde única, em torno do diagnóstico, prevenção e tratamento da doença parasitária.De acordo com o Instituto Adolfo Lutz (São Paulo), reconhecido pelo Ministério da Saúde como Laboratório Nacional em Saúde Pública, aproximadamente 1 em cada 3 brasileiros está, neste momento, com toxoplasmose – número que cresceu justamente no período de pandemia, de 2019 a 2022, especialmente nas regiões Sudeste e Nordeste.
Trata-se de uma zoonose causada pelo parasita Toxoplasma gondii e que pode ser assintomática ou confundida com uma virose qualquer quando a pessoa a contrai pela primeira vez. O parasita permanece no organismo e pode se manifestar outras vezes (ou não), dependendo de fatores como a imunidade do indivíduo. Em suas manifestações mais graves, pode causar cegueira, surdez e abortos espontâneos.
O Departamento de Medicina Veterinária Preventiva da UEL (DMVP) sedia o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT) Toxoplasmose, projeto responsável por apoiar, dentro de uma perspectiva de saúde única (animal, humana e ambiental), trabalhos no Brasil e no exterior. São mais de 80 profissionais e pesquisadores, de todos os estados do Brasil e de países como Suíça, França, Espanha, Inglaterra e Estados Unidos, envolvidos em estudos de diagnóstico, prevenção e tratamento da doença em todo o seu espectro: da profilaxia doméstica a vacinas; do mapeamento de cepas à capacitação profissional; de estudos genéticos aos de animais silvestres; de estudos epidemiológicos ao desenvolvimento de testes rápidos que possam ser feitos nos mais remotos lugares do país.
O INCT foi um dos projetos contemplados com Bolsa Produtividade pelo CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) na mais recente chamada, mas, segundo o coordenador do projeto, professor João Luiz Garcia, não é a primeira vez. Além da Veterinária, na UEL o projeto envolve também 11 colaboradores do Centro de Ciências da Saúde e do Hospital Universitário, e conta no momento com a participação de seis estudantes de Iniciação Científica (graduação), dois mestrandos e dois doutorandos (todos bolsistas) e um pós-doutorando, que desenvolve sua pesquisa na Universidade de Charlotte, na Carolina do Norte (EUA).
O Instituto, portanto, avalia, aprova, coordena e acompanha projetos de todo o Brasil e do exterior, o que inclui a gestão financeira, ou seja, é ele que vai liberando recursos. Para se ter uma ideia, este ano já foram liberados praticamente 780 mil reais, vindos do CNPq. Além de cientista e pesquisador, o professor João Garcia é responsável por um sem-número de relatórios e outras tarefas menos acadêmicas e mais administrativas. Nesta equação ainda deve entrar a produção e disseminação científica. Em sua nova fase, iniciada ano passado, o projeto já publicou três resumos em importantes eventos, como o 17º Congresso Internacional sobre Toxoplasmose, realizado em maio passado, presencialmente, em Berlim. Tais ações são, conforme o professor João Garcia, a contrapartida do projeto. Ele informa ainda que vários artigos estão em preparação.
Na avaliação do coordenador do INCT, embora se tenha aprendido muito sobre a toxoplasmose nos últimos anos, ainda há muito o que saber. Não existe, por exemplo, uma vacina contra a doença para os seres humanos. E a grande variação genética do parasita, manifestada na ampla diversidade de cepas, torna o trabalho dos cientistas ainda mais desafiador, e a doença mais perigosa.
De acordo com o professor João Garcia, o Brasil conheceu dois grandes surtos da doença: o primeiro no noroeste do Paraná, em Santa Isabel do Ivaí, em 2002. Na época, foi considerada a maior epidemia do mundo. O município tinha 9.100 habitantes e 1.100 apresentaram sintomas, embora a maioria não tivesse diagnóstico confirmado àquela altura. O segundo surto foi no Rio Grande do Sul, em Santa Maria (região central) e em São Marcos (região de Caxias do Sul), em 2018. Os números superaram o surto paranaense. E o professor alerta: é bom lembrar que existe muita subnotificação.
Uma doença silenciosa e insidiosa
A toxoplasmose pode ser contraída pela ingestão de água ou alimentos crus, mal higienizados e mal cozidos. Carne crua, defumada ou embutidos inadequadamente preparados e contaminados podem também transmitir a doença. O parasita pode ainda estar presente nas fezes de gatos. Por isso, durante a limpeza da caixa de areia, por exemplo, é recomendável usar luvas e máscaras e lavar bem as mãos depois. Animais silvestres também podem ser vetores da doença: “qualquer mamífero ou ave”, resume João Garcia.
O parasita é também capaz de atravessar a placenta, por isso uma mulher grávida que se contamine pode transmitir a doença ao bebê, particularmente se estiver no primeiro trimestre de gravidez e imunodeprimida. Geralmente não é grave, mas pode evoluir e provocar sequelas na criança, como surdez, malformação e, em casos mais extremos, parto prematuro ou interrupção de gravidez.
A toxoplasmose pode então ser congênita (mãe-filho), mas também pode ser ocular, quando atinge a retina e causa uma inflamação que pode até causar cegueira, e ainda cerebroespinal ou meningoencefálica, mais associada a pessoa com AIDS, e provoca febre, confusão mental, dores de cabeça, perda de coordenação muscular e cansaço excessivo. Pode levar ao coma e a óbito.
Tratamentos
Para os casos mais leves, normalmente são combatidos os sintomas. Quem tem a imunidade comprometida ou já desenvolveu complicações da doença deve procurar ajuda médica especializada. No caso de doença em grávidas, o acompanhamento e orientações são importantes. O Sistema Único de Saúde presta atendimento integral e gratuito, e o Ministério da Saúde publicou uma série de protocolos e recomendações a serem seguidas, caso a caso, voltados tanto à gestante, quanto à criança e aos profissionais da saúde. O conhecido Teste do Pezinho é capaz de diagnosticar a forma congênita da toxoplasmose.