Professor desenvolve novo estudo sobre charges e ditadura militar
Professor desenvolve novo estudo sobre charges e ditadura militar
Pesquisa foca charges censuradas do jornal Movimento, periódico de resistência que circulou entre 1975 e 1981, no auge do regime militar.O professor do Departamento de Comunicação da UEL, Rozinaldo Antonio Miani, foi recentemente contemplado com a Bolsa Produtividade, um reconhecimento concedido pelo CNPq a pesquisadores de altíssimo nível. Esta é a primeira vez que Miani recebe essa bolsa e, segundo ele, marca um momento significativo em sua carreira acadêmica e consolida suas contribuições ao estudo das charges como reflexo das transformações políticas no Brasil.
Miani iniciou sua trajetória profissional na imprensa sindical, quando utilizava charges como uma ferramenta de comunicação. Agora, ele direciona seus esforços para o projeto intitulado “Revelando arquivos da ditadura no Brasil: uma análise das charges censuradas do jornal Movimento”. Financiado pela Bolsa Produtividade, o projeto, com duração prevista de três anos, é dedicado ao estudo das charges censuradas durante a ditadura civil-militar brasileira, focando especificamente no referido jornal, que circulou entre 1975 e 1981.
O jornal Movimento teve papel crucial na resistência à ditadura, operando sob censura prévia durante seus primeiros três anos. A pesquisa de Miani busca desvendar qual era o Brasil censurado por meio do que as charges revelam sobre essa censura. No entanto, o projeto também enfrenta desafios. Em uma tentativa de localizar as charges censuradas, o professor viajou ao Rio de Janeiro, onde acreditava que o material estava arquivado mas, para sua surpresa, os documentos não estavam no local esperado, e agora ele precisa rastrear o material. “A informação que me parecia sólida é de que estava no Rio de Janeiro o arquivo específico, mas não estava lá. Então eu vou ter que fazer uma garimpagem para encontrar esse material e logo que encontrar, começar a estudar”, conta, determinado a superar esse obstáculo.
Programa maior
Esse projeto faz parte de um programa de pesquisa maior que Miani desenvolve desde 2007, quando começou a estudar charges em diferentes contextos políticos do país. Sua pesquisa abrange desde o governo de José Sarney até os dias atuais, passando pelos governos FHC, Lula e Dilma Rousseff. E ele não pretende parar por aí: “Logo que terminar, virão os próximos governos, o governo Temer, o governo Bolsonaro, o novo governo Lula”, afirma, destacando que o projeto pretende continuar.
Além de seu projeto financiado pela BP, o professor mantém uma intensa atividade acadêmica, colaborando com outros pesquisadores e orientando estudantes de graduação e pós-graduação. Ele é coordenador do Núcleo de Pesquisa em Comunicação Popular (NCP), que completa 20 anos em setembro, e continua desenvolvendo projetos que exploram tanto a charge quanto a comunicação popular e comunitária. “A Bolsa Produtividade exige um compromisso individual do pesquisador para desenvolver o projeto, mas a pesquisa nunca é um trabalho isolado”, afirma. Ele ressalta que, embora a bolsa seja destinada exclusivamente a ele, há um diálogo constante entre essa pesquisa e outros projetos de que ele participa na Universidade, envolvendo também seus alunos.
Disseminação
A disseminação do conhecimento gerado por suas pesquisas é ampla. Miani já publicou diversos artigos, capítulos de livros e ano passado lançou o livro ‘’Charge: elementos de teoria e subsídios para uma metodologia de análise”, no qual compartilha uma metodologia para a análise de charges. “Eu fui utilizando e exercitando diferentes metodologias até chegar a uma que me parecia bastante adequada para analisar a charge, resultando então na produção de um livro em que eu apresento as principais características da metodologia, da análise do discurso chárgico, que é o que eu tenho desenvolvido ao longo de toda essa trajetória”, destaca.
Miani também reflete sobre como sua pesquisa se relaciona com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, especialmente no que diz respeito à educação. “Estudar a charge também é uma forma de você ter um conhecimento sobre a realidade, entender os movimentos que ocorrem e que de alguma forma impactam a nossa vida cotidiana”, explica. Embora as ODS não contemplem diretamente a análise de produções comunicativas como a charge, Miani acredita que, de maneira transversal, seu trabalho contribui para uma compreensão mais profunda das dinâmicas sociais e políticas, alinhando-se aos princípios de educação e conscientização promovidos pelas ODS.
*Estagiária de Jornalismo na COM/UEL.