Projeto “Arte, Informação e Verdade” investiga a construção da verdade na arte e seus discursos

Projeto “Arte, Informação e Verdade” investiga a construção da verdade na arte e seus discursos

Ao unir arte e as Ciências da Informação, a pesquisa analisa a arte, seus discursos e como os canais de reprodução da arte reverberam o sentido de verdade

Buscando compreender a arte, seus discursos de legitimação e os canais que a reverberam, o professor do Departamento de Música e Teatro e da Pós-Graduação em Ciência da Informação da UEL, Fábio Parra Furlanete, criou o projeto de pesquisa Arte, informação e verdade. Unindo Arte e Ciência da Informação, Furlanete analisa através do método foucaultiano a construção do material artístico e o que é considerado verdade na arte.

Formado em Música e doutor em composição pela Unicamp, atuando na área de computer music (música computacional) o professor passou a direcionar seu foco de pesquisa para temas ligados à Estética, Filosofia da Música e relações de poder no campo artístico. Durante seu Doutorado, o professor tinha como objeto de estudo a livre improvisação coletiva – um tipo de prática musical na qual um grupo de pessoas se reúne para fazer músicas sem predeterminação – e passou a refletir sobre arte e as relações de poder a ela empregadas.

Fabio Parra Furnalete é formado em Música pela Unesp. Mestre em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP e doutor em Música pela Unicamp. (Foto: acervo pessoal).

Segundo o professor, a procura pela legitimação da arte aparece uma vez que a subjetividade do material artístico causa um nível de insegurança àqueles que o produzem. Furlanete explica que as relações de poder têm um papel muito importante neste processo de legitimação.  “Realizando esse tipo de processo [de livre improvisação coletiva], eu concluí que não era um problema tecnológico, material, ou de estrutura, mas era um problema de relação ao poder. Ou seja, um grupo de pessoas que estão coletivamente negociando um juízo de valor estético a respeito de qual música deve funcionar ou como a música deve ser experimentada durante a performance”, explica.

Além de Foucault, o professor também usa como base para sua pesquisa as obras do filósofo francês Jacques Rancière. Nascido em 1940, o filósofo contemporâneo concentra seus estudos na relação entre estética e política e atualmente é professor emérito da Universidade Paris 8. A partir disso, busca compreender os juízos de valor empregados na arte através da estética e que, por sua vez, criam juízos de verdade.

Arte a as Ciências da Informação

Apesar da clara diferença entre as áreas, Furlanete afirma que elas estão diretamente relacionadas quando se trata da legitimação dos discursos da arte. O professor explica que as ciências da informação (Biblioteconomia, Arquivologia e Museologia), assumem uma posição de poder durante a reverberação desses materiais. 

“Na Ciência da Informação, existe todo um aparato técnico, tecnológico e conceitual não só para a veiculação de trabalhos artísticos, mas de multiplicação dos discursos a respeito de arte. Então, é claro para mim que a ciência da informação, não como área mas como objeto, é estruturada como uma espécie de câmera de ressonância desses discursos de legitimação da arte. E não é uma câmera neutra, ela interfere nesses discursos.”, afirma Furlanete.

Além disso, o professor ressalta como as duas áreas podem e irão aprender uma com a outra. “Parece-me razoavelmente claro que, para a ciência da informação, o contato com a arte é muito útil na medida em que torna mais evidente a fugacidade desse objeto. A ideia de que a ciência da informação não só disponibiliza a arte, ela interfere na arte, ela acaba fazendo parte da arte na medida em que a arte não é só uma coisa mas é também um regime de visibilidade. Faz parte integral da prática artística construir modos de dar a ver”, explica.

Já na área da arte, o professor entende que o movimento deve ser na mesma direção, haja vista que muitos artistas desconsideram o regime de visibilidade como parte do fazer artístico. “Na música isso é muito forte, no sentido de que eles entendem que música tem haver com o fazer técnico e o músico muitas vezes deixa de considerar esse regime de visibilidade”, comenta.

Próximos passos

Com término previsto para fevereiro de 2027, a pesquisa ainda está em caráter exploratório, realizando os estudos da literatura e organizando as primeiras discussões sobre o assunto. Apesar disso, o professor Fábio Furlanete se mostra esperançoso em relação aos resultados.

“A gente está em um momento intenso de estudo da literatura e esperamos coletar dados suficientes para ter uma análise de discurso consistente, tanto no campo da musicologia quanto no campo da ciência da informação. A gente deve reunir o suficiente para estabelecer tendências de discurso e perceber a reverberação de alguns enunciados e, neste sentido, construir essa crítica nos dois campos”, diz Fábio. 

O professor também ressalta como a pesquisa servirá de ponte entre as duas áreas. “Sensibilizar essa interface entre os dois campos no sentido de que ela não é de fato uma interface que os conecta e sim a zona de sobreposição desses campos. Se a gente conseguir, a partir do nosso trabalho acadêmico, gerar consciência disso, eu acho que o projeto vai ter alcançado seu objetivo”, declara o professor.

*Estagiária de Jornalismo da Coordenadoria de Comunicação Social.

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