Pesquisa identifica fraudes na produção de cafés moídos e torrados

Pesquisa identifica fraudes na produção de cafés moídos e torrados

A pesquisa combina fluorescência de raios X e espectroscopia de infravermelho para detectar adulterações em cafés moídos e torrados, oferecendo solução sustentável e promissora para a fiscalização do setor

Café é a segunda bebida mais consumida do mundo, atrás apenas da água. O Brasil se destaca como um dos maiores produtores do setor cafeeiro e a produção do grão tem crescido exponencialmente nos últimos anos. Porém, com o crescimento do setor, aumenta também o número de fraudes. Pensando nisso, o professor Felipe Rodrigues dos Santos, do Departamento de Física da UEL, passou a estudar métodos de identificação de fraudes em cafés moídos e torrados.

O professor explica que a ideia de realizar a pesquisa surgiu durante seu pós-doutorado, quando ele e colegas passaram a refletir sobre a possibilidade de identificar as diferenças entre cafés saudáveis e cafés defeituosos (grãos verdes, pretos ou ardidos) através de uma combinação de técnicas de fluorescência de raios x (XRF) e espectroscopia de infravermelho próximo (NIR). A hipótese se mostrou possível e, após sua vinda para UEL, Felipe decidiu ampliar as análises. “Nós identificamos que conseguimos diferenciar cafés saudáveis de cafés defeituosos usando a XRF e ali eu comecei a trabalhar em algumas amostras. Na sequência formulei um projeto mais amplo para tentar identificar também fraudes”, relembra.

Um café é considerado fraudulento quando há presença de outros materiais ou mistura de espécies diferentes de café em sua composição. A legislação brasileira permite que até 1% de outros materiais estejam presentes em cafés moídos e torrados, e os mais comuns são a soja, cevada, milho e coquinho de açaí. Porém, muitos produtores adicionam mais do que o permitido, a fim de aumentar o lucro e, por consequência, prejudicam a qualidade do café e o consumidor final. Há também a mistura de espécies diferentes, sendo as mais comuns a Coffea Arabica e a Coffea Canephora. 

Apesar da mistura de espécies não ser proibida, o produtor deve discriminar no rótulo do produto a presença de diferentes cafés, o que, economicamente, não é benéfico. 

“A ideia é tentar desenvolver uma metodologia que seja rápida e mais acessível para as agências reguladoras, para tentar identificar essas fraudes. Os cafés da espécie arábica tem um valor comercial maior do que o café da espécie canephora. Então, os produtores misturam café da espécie canephora e vendem como 100% arábica, para aumentar a quantidade e o valor comercial”, explica Felipe.

Inovação

Segundo o professor Felipe Rodrigues, não há estudos na literatura que combinem as técnicas de fluorescência de raios x e de espectroscopia de infravermelho para a fiscalização destes grãos. A inovação tem se mostrado eficiente na análise preliminar de amostras de café, com uma taxa de acuracidade de 97%. “Alguns estudos bem recentes, desse ano, estão tentando desenvolver metodologias para a identificação do teor mineral no café usando a fluorescência XRF, mas combinando essas técnicas para identificação de fraudes não existe nenhuma publicação. Então, isso é um avanço científico, uma contribuição científica que nós podemos dar”, afirma Felipe.

Além disso, o método é livre de resíduos, e é uma forma mais sustentável e barata de fiscalização. “Pensando hoje numa química verde, que você quer metodologias rápidas e que não demandam de reagentes químicos, a fluorescência é uma alternativa muito viável e boa. Nós estamos construindo uma metodologia para quantificar o teor elementar no café. Então, além de identificar a fraude, nós podemos identificar também se existe algum metal pesado, por exemplo, nocivo à saúde”.

Contudo, o professor explica que as amostras analisadas são muito locais e, para confirmar o sucesso do estudo, é necessário analisar um número maior de amostras. Para isso, o projeto firmou uma parceria com o Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR-PR), e com a ajuda da pesquisadora Patrícia Santoro estão analisando mais de 100 amostras de cafés moídos e torrados. 

“A ideia é tentar desenvolver uma metodologia que seja rápida e mais acessível para as agências reguladoras, para tentar identificar essas fraudes”, explica o professor Felipe. (Foto: André Ridão / Agência UEL)

“Já temos alguns resultados bastante interessantes, só que em conjunto de amostras reduzido. Agora, com a ajuda da Patrícia, nós pretendemos adquirir em torno de 100 amostras de diferentes localidades. O teor mineral, por exemplo, é muito influenciado pela localidade onde foi cultivado aquele café e isso pode influenciar muito nos modelos”, explica.

Além de Felipe e Patrícia, a equipe também conta com a colaboração dos professores Fábio Luiz Melquiades e Fábio Lopes, do Departamento de Física, e dos alunos João Vitor Lima de Andrade, bolsista de iniciação científica, e José Vinicius Ribeiro. 

Próximos passos

Com o aumento no número de amostras analisadas, a expectativa é que a pesquisa evolua ainda mais. O professor Felipe Rodrigues se mostra esperançoso em relação aos resultados e ao impacto da pesquisa no campo da ciência e de políticas de fiscalização. “É uma metodologia que também poderia ser aplicada a outros tipos de amostras. Dependendo da viabilidade e dos resultados, eu creio que poderia sim ser patenteado o processo. E isso também poderia ser útil, quem sabe no futuro, para agências reguladoras”, comenta.

*Estagiária de Jornalismo da Coordenadoria de Comunicação Social.

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