Paraná tem grande potencial para descoberta de caranguejos de água doce, avalia pesquisa

Paraná tem grande potencial para descoberta de caranguejos de água doce, avalia pesquisa

Projeto busca entender a pluralidade de espécies existentes nas bacias hidrográficas do Paraná, bem como preservar ecossistema em que caranguejos vivem.

Os caranguejos dulcícolas do gênero Aegla são naturais do Sul da América do Sul. Geralmente, são encontrados em riachos de cabeceira e, por isso, suscetíveis a perturbações ambientais, desaparecendo com a degradação do meio ambiente. Devido a essa característica, podem ser considerados bons bioindicadores de qualidade do hábitat: estudando os crustáceos, é possível compreender questões relacionadas à saúde dos próprios riachos. Mesmo assim, algumas regiões ainda apresentam informações escassas sobre esses animais.

Foi com o objetivo de entender a pluralidade das espécies existentes nas bacias hidrográficas do Paraná, bem como preservar os caranguejos e o ecossistema em que vivem, que surgiu o projeto de pesquisa Diversidade e taxonomia de Aegla (Crustacea, Anomura) no Centro-Norte e Noroeste do Paraná. “Nós precisávamos conhecer a real diversidade e a distribuição desses animais nas bacias hidrográficas da nossa região”, explica o professor Gustavo Monteiro Teixeira, do Departamento de Biologia Animal e Vegetal (CCB) da UEL.

Segundo o docente, que coordena o estudo, trata-se, sobretudo, de um trabalho de inventário. A equipe do projeto realiza expedições em riachos localizados no estado com o objetivo de identificar quais são as espécies nativas. Para as pesquisas, utilizam análises morfológicas e moleculares. Até o momento, a equipe já fez expedições de coleta pelas bacias dos rios Ivaí, Pirapó, Tibagi e Cinzas. Os resultados indicaram que a região apresenta um elevado potencial para a descoberta de espécies e para a ampliação da distribuição de animais já conhecidos.

As investigações têm sido publicadas em artigos científicos, produzidos com a intenção de preencher lacunas importantes no conhecimento sobre os caranguejos eglídeos. O projeto tenta visitar o maior número possível de microbacias durante as viagens a fim de descrever a distribuição e a riqueza das espécies nas regiões Centro-Norte e Noroeste do Paraná. “Nós já descrevemos sete espécies novas desde que começamos a trabalhar nessa linha de pesquisa”, afirma Gustavo. “Ainda temos na nossa coleção pelo menos outras seis ou sete espécies que estão em processo de descrição.”

Equipe da UEL em busca de espécies nativas em riachos. Estudo dos caranguejos ajuda a avaliar qualidade da água dos riachos (Foto: Arquivo pessoal)

Registros importantes

De acordo com o professor, o estudo é necessário, pois esses animais estão entre os grupos de invertebrados de água doce mais ameaçados do mundo, com aproximadamente 70% das espécies formalmente conhecidas sob algum nível de ameaça de extinção. “Temos casos de animais que estão na nossa coleção, coletados em 1992 e 1994, que não foram mais encontrados em coletas recentes. Precisamos estudar mais para ter certeza, mas são indícios de casos de extinção local por conta da degradação do hábitat”, relata Teixeira.

Entre as descobertas registradas recentemente, estão os caranguejos Aegla santosi, Aegla abrupta e Aegla nanopedis, encontrados no Rio Tibagi. As descrições foram publicadas, em 2021, no artigo “Cryptic diversity among: populations of Aegla Leach, 1820 (Decapoda: Anomura: Aeglidae) from Tibagi River basin, Paraná state, Brazil, with descriptions of three new species”. O estudo, realizado em parceria com outros quatro pesquisadores, destaca a importância dos inventários, da identificação correta das espécies e de como essas investigações podem ser significativas para o reconhecimento do status de conservação.

Estudos são necessários para ajudar no combate à extinção de espécies de caranguejos. Cerca de 70% das espécies formalmente conhecidas estão em vias de extinção (Foto: Arquivo pessoal)

*Estagiária de Jornalismo na COM/UEL.

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