Professor da UEL discute ética em pesquisas em Humanidades na 75ª SBPC

Professor da UEL discute ética em pesquisas em Humanidades na 75ª SBPC

Discussões movimentaram pesquisadores de Ciências Humanas, Sociais, Artes e Letras sobre ética em pesquisa.

O professor do Departamento de Letras Vernáculas e Clássicas (CLCH) Frederico Augusto Garcia Fernandes integrou, na tarde desta quinta-feira (27), a Reunião do Conselho do Fórum das Ciências Humanas, Sociais, Sociais Aplicadas, Letras, Linguística e Artes (FCHSSALLA), realizada na 75ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), que ocorre em Curitiba, no Campus Politécnico da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Também participou da reunião a professora Andreia Barbosa Gouveia, do Curso de Pedagogia da UFPR.

O debate se concentrou em um documento, elaborado pelo Fórum CHSSALLA, que versa a respeito da ética no campo das Ciências Humanas e Sociais. Segundo o professor, é um debate antigo na área, que trata principalmente do estabelecimento de parâmetros próprios para a avaliação dos comitês de ética nas pesquisas nas referidas áreas. As atividades de Ensino, Pesquisa e Extensão nessas áreas, explica Fernandes, são balizadas pelos comitês de ética da área da Saúde – ligados, inclusive, ao Ministério da Saúde (MS), do Governo Federal, ou seja, a outra área do conhecimento.

“Temos especificidades que nos são muito caras, nas nossas áreas de pesquisas. As questões trazidas pelos organismos de avaliação, muitas vezes, recaem sobre os nossos métodos de pesquisa, que são muito diferentes dos métodos utilizados pelas Biológicas ou Exatas”, explicou o professor.

O documento do Fórum ficou sob consulta pública, por 60 dias, para pesquisadores, graduandos, pós-graduandos e docentes, também associados a entidades de Ciências Humanas, Artes, Letras e Ciências Sociais Aplicadas de todo o Brasil, a partir do mês de março deste ano. Dentre essas associações, destacam-se as nacionais de História (ANPUH) e de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (ANPED). 

Professor Frederico Fernandes (à esquerda). Mesa-redonda realizada à tarde, com pesquisadoras das áreas das Humanidades, debateu questões éticas da pesquisa (Willian Fusaro/Agência UEL).

Na reunião do FCHSSALLA, também foram abordados assuntos como a 5ª Conferência de Ciência e Tecnologia, ligadas às Humanidades, um Grupo de Trabalho (GT) de Bolsa Produtividade em Pesquisa para estudantes das áreas. Por fim, também foi discutido o novo Plano Nacional de Pós-Graduação, uma expectativa dos pesquisadores da área, já que o último plano nacional ficou vigente até o ano de 2021. O Fórum Nacional CHSSALLA foi criado em junho de 2013, tendo como luta específica a construção de um sistema de avaliação ético em pesquisa nas áreas de Humanas.

Humanidades e redemocratização

O professor Fernandes participou, também, de uma mesa-redonda sobre o papel das Humanidades na Redemocratização do Brasil, coordenada por Fernanda Antônia da Fonseca Sobral, socióloga e professora senior da Universidade de São Paulo (USP), na tarde desta quinta (27). Foram discutidos, entre outros pontos, o papel das Humanidades nos processos de redemocratização, evidenciado há 30 anos, mas que tomou contornos diferenciados nos últimos seis – considerado pelos pesquisadores da mesa como um período de “inflexão” democrático do Brasil com a ascensão de líderes da ultradireita. 

“Nesse sentido, precisamos pensar na redemocratização como uma reinvenção da democracia. Os institutos e pesquisadores das Ciências Humanas são vitais nesse processo”, destacou. As discussões a respeito do parâmetro ético de avaliação nas pesquisas em Ciências Humanas também foram abordadas pelo pesquisador no encontro. “Nós temos casos de orientandos que submetem pesquisas à avaliação ética e demoram 3 meses para obter um parecer. Isso atrasa demais as pesquisas na área”, definiu.

Participou da mesa-redonda, além do professor Fernandes, Edna Maria Ramos de Castro, pesquisadora da Universidade Federal do Para (UFPA). Edna trouxe contribuições a respeito da Região Amazônica e sua interface com o desenvolvimento econômico, conflitos com as populações originárias e as desigualdades no investimento em pesquisa na região.

“Aproximadamente 60% do território brasileiro é composto pela região amazônica e boa parte dos institutos de pesquisas e universidades que estudam a região não estão lá. Isso é muito interessante: por que não destinamos parte significativa desse recurso para museus e universidades de lá, como a Universidade Federal do Amazonas (UFAM) e a UFPA? Por que esses recursos vão para institutos do Sul e Sudeste estudarem a nossa região?”, provocou a pesquisadora.

Também compôs a mesa-redonda a professora Geovanna Mendonça Lunardi Mendes, da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc). Da área da Educação, a pesquisadora lembrou do papel importante da área no processo de redemocratização, a despeito de os pesquisadores serem “pouco ouvidos” em suas demandas por políticas públicas. “É a área onde mais existem sujeitos de outras áreas para opinar. Isso, pós-2014, com a emergência de atores políticos de ultradireita, trouxe uma situação catastrófica para a área.”

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