Sobre dragões, orcs e debates políticos: RPG ensina valores democráticos na 75ª SBPC

Sobre dragões, orcs e debates políticos: RPG ensina valores democráticos na 75ª SBPC

Ação de professores e estudantes de Ciências Sociais da UEL visa ensinar, por meio gamificação, valores democráticos em um RPG.

Valorizar o debate político e as discussões que envolvem participação, cidadania e democracia, tudo isso num ambiente fantástico, com orcs, anões, magos e outras criaturas míticas – e políticas. Esse é o objetivo do jogo “Games na ciência política: a democracia através do RPG”, trazido pelos professores Renata Schevisbiski e Rodrigo Mayer, do Departamento de Ciências Sociais (CLCH) e os estudantes de Ciências Sociais Anna Vieira e Lucas Marsuchelo. A iniciativa integra as atividades desenvolvidas pela UEL na 75ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), que prossegue até este sábado (29), na Universidade Federal do Paraná (UFPR), em Curitiba.

O RPG “Ensipol” reúne magos, orcs, anões e outros seres fantásticos e mitológicos em pelejas políticas, cada personagem com suas peculiaridades e características políticas, que são trabalhadas pelos jogadores, como em qualquer boardgame por aí. O anão, por exemplo, explica a professora Renata, é um aguerrido líder de trabalhadores. Vindo de uma família de mineiros (ou seja, um operário, segundo o verbete da área), o pequeno aventureiro tem características nobres, um senso de justiça muito grande e muita preocupação com os problemas de sua classe social. Ou seja, é um líder do movimento dos trabalhadores.

“O jogo busca, usando personagens característicos do RPG, favorecer o diálogo e a participação entre os jogadores, o que é essencial para a política. Alguns assuntos bastante atuais, como fake news e polarização, por exemplo, também são tratados”, emenda a pesquisadora. Toda a trama, que pode envolver até 3 jogadores, é coroada com uma figura especial, que aparece no estande da UEL a caráter para guiar os jogadores: o mestre de RPG. O mestre é o responsável por explicar aos jogadores o mundo em que estão inseridos e guiá-los no decorrer da partida.

Lucas Marsuchelo encarnou o mestre do jogo, responsável por guiar os jogadores durante a partida (Willian Fusaro/Agência UEL)

O jogo demorou um ano para ser concluído, segundo a professora. A ideia inicial, conta, veio do professor Rodrigo, fã de RPGs que trouxe os elementos a partir dos quais foi possível arquitetar os primeiros cenários e possibilidades. O objetivo é mostrar, também, como uma democracia pode ser deturpada até cair em uma autocracia. “Mostramos como se forma e como se mantém essa figura do autocrata na democracia. É, por fim, um jogo que trabalha a ideia de reinvenção democrática”, avalia. O game foi baseado no livro “Como as democracias morrem”, dos cientistas políticos Steven Levitsky e Daniel Ziblatt, dos EUA.

Gabriel e Luiza. Jogo foi aprovado por quem já entende do assunto

A ideia foi bem avaliada pelos estudantes Luiza Teixeira, 19, e Gabriel Burak, 22. Graduandos de Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), os dois ficaram bastante instigados por pensar a democracia e a sociedade a partir do game. “Achei muito interessante. Já tinha familiaridade com RPG, mas achei uma ideia bastante complexa por trás, para se criar uma narrativa”, comenta Burak. “Eu achei bem fácil de jogar. As cartinhas que eles fizeram também ficaram muito bonitas”, avaliou Luiza.

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