Pesquisa mergulha na Literatura produzida por imigrantes italianos

Pesquisa mergulha na Literatura produzida por imigrantes italianos

Coordenação do projeto é da professora Marcia Rorato, do Departamento de Letras Estrangeiras Modernas do CCH.

José de Arimathéia

Agência UEL


Valorizar a produção artística, sobretudo literária, de autores italianos ou descendentes de italianos, e assim construir e preservar um acervo robusto de obras que possam se tornar fontes de pesquisa e objetos de estudo, consolidando o estudo da língua e da literatura italiana. É este o objetivo que está no horizonte da professora Marcia Rorato, do Departamento de Letras Estrangeiras Modernas do Centro de Letras e Ciências Humanas.

A professora, que coordena um projeto de pesquisa neste sentido, tem uma trajetória de quase 30 anos de estudos, desde sua graduação. No Mestrado, investigou  a produção literária em língua italiana em São Paulo, no período de 1896 a 1929. No Doutorado, debruçou-se sobre o jornal “Il Moscone”, um jornal de tendência fascista que circulou por 36 anos (1925-1961) pela colônia italiana de São Paulo. O periódico reforçava a identidade e as tradições italianas na sociedade paulista da época.

A tese destacou Vicente Ragogneti, fundador e diretor do jornal, e também um dos fundadores do clube Palestra Itália, o Palmeiras. Como autor, esteve na Semana de Arte Moderna de 22 e escreveu para a Klaxon, revista produzida pelos artistas da Semana de 22, lançada três meses após o evento para divulgar o Modernismo brasileiro. De acordo com a professora Marcia, Ragogneti era paulistano, mas considerado estrangeiro. Filho de pais napolitanos e calabreses, já veio com experiência da Itália, pois atuou num jornal napolitano que recentemente havia fechado sua sede, após 100 anos de funcionamento. A pesquisa destacou também Michele Carnicelli, desenhista e pintor, que estabeleceu uma amizade e parceria com Ragogneti, e ilustrou o “Il Moscone” por 36 anos.

Talian – Segundo a professora Marcia Rorato, existe uma expressiva produção literária em italiano no Brasil, incluindo textos dramáticos (teatro) e para televisão. A maior parte no sul do país, onde a colonização foi mais intensa. As obras foram, sobretudo, escritas em Talian, conhecida também como “vêneto brasileiro”, uma variante do vêneto original (norte/nordeste da Itália) que vem sofrendo contínuas influências da língua portuguesa. Embora possam ser encontradas obras (e portanto falantes) de talian em estados do Sudeste, como São Paulo, Minas Gerais e Espírito Santo, a pesquisadora disse que é muito mais difícil. “Foram perdidas”, lamenta. Ou talvez estejam em algum baú antigo de família, esperando serem descobertas.

O mesmo acontece em Londrina e região – existem, mas onde estão? Como Marcia está reelaborando o projeto para iniciar uma nova fase na pesquisa, ela já segue pistas, baseadas nas diretrizes. Já que vai pesquisar autores dos anos 70 do século XX em diante, em Londrina e depois região, já está programando entrevistas com artistas das famílias londrinenses Pellegrini, Mascchio, Fabiani, entre outras. Além de escritores, há artistas plásticos e outros. Da mesma forma, já sabe de alguns em Rolândia, para uma investigação posterior.

Ensino – Em seu Pós-Doutorado, desenvolvido entre 2018 e 2019, a professora Marcia promoveu uma “didatização” do acervo literário, ou seja, reuniu e organizou as obras já registradas pelo projeto e estudos, incluindo algumas bem raras, para torná-las objetos e fontes de pesquisa, assim como material de apoio para o ensino. Quando menciona obras raras, ela exemplifica com o primeiro romance escrito em italiano em São Paulo, publicado em forma de folhetim no Jornal Avanti, outro periódico de tendência socialista fundado por imigrantes italianos, e que circulou entre 1900 e 1919.

Além da reestruturação do projeto, a pesquisadora está com a tese em processo de publicação e aguarda a publicação de um artigo em Veneza. Atualmente, a professora conta com a participação de dois estudantes no projeto, um da graduação e outro da pós-graduação. Marcia lembra a importância da língua e cultura italianas na região de Londrina, e observa que o italiano é uma área que na UEL está no ensino, na pesquisa e na extensão (Laboratório de Línguas). “Estou há 23 anos na UEL, mas o italiano já estava aqui mais de 20 anos antes de mim”, lembra.

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