Primeira mestre indígena do CLCH defende dissertação

Primeira mestre indígena do CLCH defende dissertação

Damaris Felisbino defende sua dissertação de mestrado em Estudos da Linguagem nesta sexta-feira (7), na Terra Indígena Apucaraninha.

Primeira estudante indígena do Centro de Letras e Ciências Humanas (CLCH) a obter o título de mestre na UEL, Damaris Kaninsãnh Felisbino defende a sua dissertação nesta sexta-feira (7), na Terra Indígena Apucaraninha. Felisbino se tornou a primeira estudante indígena a concluir a graduação em Letras Português, a fazer a especialização, e, agora, a terminar o mestrado em Estudos da Linguagem. Com a defesa da tese, ela se tornará a segunda estudante indígena da UEL a obter o título de mestre. Em junho do ano passado, o Programa de Pós-Graduação em Serviço Social e Política Social da UEL concedeu o título à estudante Gilza Ferreira de Felipe Pereira, orientanda do professor Wagner Roberto do Amaral, do Departamento de Serviço Social (Cesa). 

Filha de um professor da língua Kaingang do Colégio Estadual Indígena Benedito Rokag (Tamarana), Damaris Kaninsãnh Felisbino ingressou na graduação aos 19 anos, em 2012, ao lado da mãe, Jandira Grisãnh Felisbino. À época, a UEL ainda não contava com o ciclo de 480 horas de atividades formativas, voltadas à adaptação dos ingressantes indígenas. “Foi ‘direto’ e bem complicado porque o ritmo era diferente do colegial. Para entender a linguagem acadêmica foi difícil”, lembra a mestranda, que trabalha como professora em Tamarana.

O ciclo de atividades foi instituído em 2014 por meio da Resolução Cepe/Ca nº 133/2013.

Damaris Felisbino na formatura. Estudante é a primeira indígena a concluir graduação, especialização e mestrado na UEL (Agência UEL).

Banca examinadora

Com a orientação do professor Marcelo Silveira, do Departamento de Letras, Felisbino concluiu a sua dissertação de mestrado, que leva o título “Variação diamésica na Língua Kaingang: reflexões a respeito da variação diamésica, a formalidade e a informalidade na lingua Kaingang”.

“Eu acho que essa dissertação mostra a realidade da língua Kaingang porque ela é riquíssima nas variações. Alguns professores que pesquisaram não falam disso, dessas variações específicas do Apucaraninha. Não sei como está nas outras regiões, mas essa dissertação é específica. Quem for ler, vai ter como base a metodologia de como fazer uma entrevista com o povo de lá. Acho que vai ser muito importante para quem quiser estudar a língua futuramente, tanto os indígenas quanto não indígenas”, avalia Damaris.  

A banca examinadora vai ser formada pelos professores da UEL Marcelo Silveira e Wagner Roberto Amaral, e pela docente do Departamento de Linguística, Português e Línguas Clássicas, da Universidade de Brasília (UNB), Ana Suelly Arruda Câmara Cabral. 

Motivação

Para e estudante, a conclusão do mestrado representa a superação de parte das dificuldades impostas pelo histórico processo de exclusão socioeconômico da população indígena. No entanto, há, também, um elemento de sua história de vida que a fez continuar motivada durante o mestrado: o falecimento da mãe e colega de classe na graduação na semana anterior à formatura em Letras pela UEL. Como forma de homenagear e honrar os ensinamentos passados por suas antepassadas, Felisbino quer continuar atuando na educação e na inclusão de crianças e jovens kaingang´s.

“A maioria da população não indígena não acredita no indígena, até os próprios indígenas por conta de tudo o que aconteceu no passado, de mostrar o indígena como inferior. Eu falei bastante para os alunos, no mestrado, para entrar, foi juntamente com os não indígenas que estavam ali. Então, falei que se o indígena quer ele pode, sim. Se tem um sonho é para seguir. Depois que eu conclui, falei isso para eles, pensando no que a minha mãe dizia”, afirma. 

Mãe de uma menina de 11 anos, Manoela, a mestranda acredita na educação como ferramenta de transformação social e construção de uma sociedade menos desigual. “Para o futuro dela, eu queria um Paraná com oportunidade para a diversidade, porque hoje em dia é difícil. Até para quem está estudando. Queria um futuro em que a aceitassem como ela é, indígena kaingang, que tem uma cultura diferente. Que as pessoas possam respeitá-la como ela é.”

História

O primeiro mestre indígena no Paraná recebeu o título em 2016. Trata-se de Florencio Rekayg Fernandes, formado pelo Programa de Pós Graduação em Educação (PPE), da Universidade Estadual de Maringá (UEM). O Paraná é pioneiro no país na inclusão dos indígenas no ensino superior. Desde 2002, existe o Vestibular dos Povos Indígenas, política pública que incentiva jovens a ingressarem nas sete universidades estaduais e na Universidade Federal do Paraná (UFPR).

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