A jovem doutora do poeta dos vazios, dos grandes sertões e dos gatos

A jovem doutora do poeta dos vazios, dos grandes sertões e dos gatos

Susanah Romero é a mais jovem doutora da área de Estudos da Linguagem e a segunda mais jovem doutora do país.

Susanah Yoshimi Watanabe Romero tinha 25 anos e 10 meses quando defendeu sua tese de Doutorado no Programa de Pós-Graduação em Estudos da Linguagem, pela UEL, no dia 15 de agosto. Isso fez dela a mais jovem doutora na área em todo o país, e segunda mais jovem do Brasil, considerando todos os campos de conhecimento. A data da defesa não foi aleatória: foi o aniversário de sua avó, Yoshiko, formada na primeira turma de Letras da UEL, homenageada pelo 50º aniversário do curso, e grande incentivadora da neta.

Orientada pela professora Edina Panichi e intitulada “Entre a risada e a aletria: estilística lexical e processos de transformação em Guimarães Rosa”, a tese de Susanah foi uma análise de dois textos do escritor mineiro, nascido em 1908: “Risada e meia” e “Aletria e Hermenêutica”. Na verdade, duas versões do mesmo texto, a primeira publicada no jornal Correio da Manhã, em 1954, e a segunda como prefácio do último livro publicado pelo autor em vida, em julho de 1967. Guimarães Rosa morreu em novembro do mesmo ano.

A jovem doutora tem se dedicado a Guimarães Rosa desde a graduação. Ingressou diretamente no mestrado, quando trabalhou os textos através da Análise do Discurso. No doutorado, debruçou-se sobre as incontáveis minúcias, combinações, transformações, trocas de sentido de palavras e neologismos encontrados no segundo texto, três vezes maior que o primeiro. A pesquisadora pôs sua lente linguística sobre cada rascunho, cada rabisco, cada correção que pôde encontrar. Só não conseguiu trabalhar com originais porque a pandemia atrapalhou o acesso aos documentos. Recorreu à Crítica Genética para apoiar as análises.

Susanah explica que os 13 anos entre as duas versões foram intensos na vida do poeta, e isso aparece nos textos. Guimarães Rosa era médico e diplomata, no tempo da Guerra Fria e do início da Ditadura Militar, o que o fez se confrontar com os conceitos de distância (da família), morte e vazio humano, entre outros. “Na leitura de cartas e outras correspondências, vi como elas reavivavam memórias no autor”, comenta.

Orientadora e orientanda: professora Edina Panichi e Susanah, no lançamento do livro “Estudos em estilística e crítica genética: homenagem à Edina Regina Pugas Panichi”, no Museu Histórico Padre Carlos Weiss, em abril (Arquivo pessoal)

Novas descobertas

A ideia, agora, é se aprofundar ainda mais no pós-doutorado, que está no horizonte da pesquisadora. “Guimarães Rosa é um clássico com leituras várias, coisas novas e descobertas a cada vez. Ele faz muitas referências, cita escritores europeus e americanos, filosofia budista e taoísta”, diz Susanah. Segundo ela, o poeta nunca estava satisfeito com seu texto. “Uma escrita nunca está boa por si”, reitera a doutora. “Ele viajava com seus cadernos, sujos, por onde ia, no sertão, a cavalo, sempre escrevendo, rasurando, corrigindo, anotando algo que observava”, ilustra. Tudo isso aparece em sua obra.

Para a pesquisadora, ler Guimarães Rosa é também uma descoberta de si mesma, dos silêncios e dos vazios humanos. Em comum com ele outro ponto: o gosto pelos gatos. Filemon (“amigo”), o dela, figura entre os agradecimentos da tese.

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