Bacia do Rio Tibagi sofre com aumento de temperatura, aponta pesquisa
Bacia do Rio Tibagi sofre com aumento de temperatura, aponta pesquisa
Primeiro de Maio, Assaí e Londrina sofrem os efeitos da demanda atmosférica com maior intensidade, avalia estudo da doutoranda Ana Karlla Penna Rocha.Pesquisa desenvolvida pela doutoranda do Programa de Pós-graduação em Geografia (PPGeo) da UEL traz fatos novos sobre a adoção de ações sustentáveis para a preservação das águas e da vida do Rio Tibagi, de toda a bacia hidrográfica, que sofre impactos com a crescente intensidade de fenômenos climáticos. Enquanto o Brasil assiste assustado às consequências das cheias provocadas por chuvas surpreendentes no Rio Grande do Sul, é fundamental, para pesquisadores da área, atentarem-se para possíveis efeitos de secas e inundações prolongadas, que podem trazer danos ambientais, sociais e econômicos em todas as regiões brasileiras.
A pesquisa “Eventos Hidroclimáticos e sua Influência na Disponibilidade Hídrica na Bacia do Rio Tibagi” representa a tese de doutorado da engenheira agrônoma e geógrafa Ana Karlla Penna Rocha, orientada pelo professor Maurício dos Santos, dentro da área “Análise Ambiental, Hidrogeografia, Manejo e Gerenciamento de Recursos Hídricos”. A pesquisa pretende analisar a intensidade das chuvas, estimar o volume de reservas subterrâneas e, por fim, verificar o efeito das mudanças climáticas e os recursos hídricos da bacia, que enfrenta cotidianamente problemas causados por extremos climáticos, como inundações e secas, em vários pontos.
Segundo Ana Karlla, nesta fase da pesquisa já dá para afirmar que Primeiro de Maio, Assaí e Londrina (municípios compreendidos no Baixo Tibagi) sofrem os efeitos da chamada evapotranspiração (demanda atmosférica por água), o que significa que setores como a agricultura precisarão de suprimento de água de forma crescente, caso contrário, sofrerão com maior rigor os efeitos das secas, com redução no rendimento da atividade agrícola.
O estudo demonstrou ainda que a temperatura aumentou em toda a área da bacia. Entre 1976 e 2021 houve um acréscimo de quase 2,5 ºC, segundo a pesquisadora, com destaque para a região do Baixo Tibagi, no Norte do Paraná.
A UEL tem grande tradição em estudos sobre o Tibagi, envolvendo pesquisadores de várias áreas que se dedicam a verificar desde qualidade de água, impactos ambientais, bem como a fauna e flora existente. A importância em pesquisar essa área está relacionada às dimensões espaciais. A bacia tem aproximadamente 25 mil km² de área de drenagem e representa cerca de 13% do território do Paraná, onde se desenvolvem atividades como agricultura, pecuária, mineração e aquicultura. A região se localiza na porção Centro-Leste do estado, envolvendo 49 municípios, onde moram 2,1 milhões de habitantes, de acordo com os dados do IBGE (2022).
A seguir os principais trechos da entrevista com a pesquisadora Ana Karlla Penna Rocha.
Agência UEL – Nessa fase da pesquisa é possível mensurar quais os impactos ambientais causados por fenômenos climáticos recentes em toda a extensão da bacia do Tibagi?
Ana Karlla – Sim. Há uma maior percepção na ocorrência, frequência e intensidade de eventos extremos, a exemplo de secas, inundações, enxurradas, deslizamentos de terra e ondas de calor. Esses acontecimentos resultam em perdas econômicas, ecológicas e sociais.
Existe alguma área geográfica que merece maior atenção pelos graves prejuízos?
Por meio da pesquisa é possível observar que há uma tendência crescente espaço-temporal da temperatura do ar e evapotranspiração (demanda atmosférica por água) em todos os municípios analisados.
As localidades com o maior incremento da evapotranspiração foram Primeiro de Maio, Assaí e Londrina (compreendidas no Baixo Tibagi), o que significa que setores como a agricultura precisarão de suprimento de água de forma crescente, caso contrário, sofrerão com maior rigor os efeitos das secas, como redução no rendimento agrícola. Quanto à temperatura média do ar, de 1976 a 2021 houve um acréscimo de quase 2,5 ºC em toda a bacia, com destaque para os mesmos municípios anteriores.
Ana Karlla Penna Rocha, doutoranda em Geografia (PPGeo).
Sobre a precipitação pluviométrica, o comportamento das chuvas não foi uniforme nas diferentes localidades estudadas. Enquanto alguns municípios (Tibagi e Piraí do Sul) apresentaram tendência no aumento das chuvas de até 6 mm/ano, outros demonstraram redução, como é o caso de Primeiro de Maio, com os mesmos 6 mm/ano. Além disto, foi identificado uma forte correlação positiva entre os índices pluviométricos e ocorrência de eventos extremos, ou seja, quanto maior o volume de chuva, maior o número de pessoas afetadas.
É possível quantificar os efeitos desses fenômenos climáticos – secas ou chuvas excessivas – que ocorreram e que de alguma forma trouxeram prejuízos à bacia?
Sim. Por meio do acesso aos dados disponibilizados por instituições como a Defesa Civil do Estado do Paraná (número de pessoas afetadas e óbitos) e da Companhia Nacional de Abastecimento – CONAB (estimativas e levantamentos de safras e perdas) é possível fazer essas correlações com os índices climáticos.
A pesquisa utiliza o chamado modelo Swat, fundamentado em características físicas e contínuo no tempo, com capacidade de simular longos períodos. Por que a escolha dessa metodologia?
Este modelo hidrológico foi desenvolvido no início da década de 90 por pesquisadores da Universidade Texas A&M, nos Estados Unidos. Possui constantes atualizações e é amplamente utilizado ao redor do mundo. Esta metodologia pode inclusive ser adaptada para as mais diferentes bacias hidrográficas. A comunidade científica referenda a sua utilização e aplicabilidade na gestão dos recursos hídricos, prevenção de efeitos extremos de chuvas intensas, planejamento no uso do solo, controle de poluição hídrica, entre outras.
Poderia dar uma dimensão da bacia do Tibagi e sua importância do ponto de vista ambiental e social? A literatura aponta que está entre as maiores do Paraná, localizada na região Centro-Leste e com área total de 24.530 km². Qual o número de municípios? E de população abrangida?
A área de estudo limita-se a Bacia Hidrográfica do Rio Tibagi. A região localiza-se na porção Centro-Leste do estado do Paraná, no sentido Sul-Norte, e é composta por 49 municípios. De acordo com os dados do IBGE, contava com uma população de 2,1 milhões de habitantes em 2022.
A bacia apresenta aproximadamente 25 mil km² de área de drenagem, cerca de 13% do território do estado, sendo as principais atividades econômicas a agricultura, pecuária, mineração e aquicultura.
Ana Karlla Penna Rocha, doutoranda em Geografia (PPGel).
Em que fase da pesquisa você se encontra? Tem um prazo para finalizar? O que se espera, ao final, apontar ações que possam mitigar os impactos e os efeitos?
Iniciei meu doutorado em 2021 e estou na fase final, ou seja, na análise dos dados e discussão dos resultados obtidos durante este período. Nesse contexto, podemos concluir que todo o ciclo hidrológico é afetado. Este, por sua vez, influencia na ocorrência e no número de pessoas afetadas pelos eventos extremos (inundações, secas e ondas de calor). Ainda reflete na economia da bacia, uma vez que há predominância da implantação de culturas temporárias, como a soja e milho, que dependem muito dos fatores climáticos para um bom rendimento produtivo.