Pós-graduação em Educação forma primeira mestra indígena

Pós-graduação em Educação forma primeira mestra indígena

Jaqueline Sabino, geógrafa de formação pela UEL, diz que o título abre novas oportunidades e representa uma conquista para comunidade indígena.

Na última sexta-feira (2), o Programa de Pós-Graduação em Educação (PPEdu) da UEL celebrou a conquista da geógrafa Jaqueline de Paula Sabino, primeira indígena a obter o título de Mestra em Educação. Jaqueline, da etnia Kaingang, apresentou sua dissertação de mestrado com o tema “Professores Indígenas de Geografia: Os Limites e Potencialidades Acerca de suas Formações Acadêmicas e o Desenvolvimento de uma Geografia Intercultural”.

Segundo a estudante, que defendeu sua dissertação na última sexta-feira (2), a  conquista é significativa, pois demonstra para a comunidade indígena, tanto interna quanto externa à UEL, que é possível e necessário ocupar espaços de formação e qualificação profissional. Isso visa garantir visibilidade e voz aos povos indígenas, além de fortalecer a interculturalidade nos ambientes educacionais.

Jaqueline expressa sua satisfação com a conquista. Ela ainda observa que o título de mestra abrirá novas oportunidades para desenvolver iniciativas que melhorem a educação escolar indígena, um tema ainda pouco explorado nas universidades, conforme destacado em sua dissertação. “É um prazer e uma realização muito significativa para mim poder conquistar esses espaços que por muito tempo foram inacessíveis para nós e que hoje estão se tornando realidade”, afirma a mestra em Educação.

Jaqueline Sabino, mestra em Educação pela UEL. Conquista traz força à pauta dos estudantes indígenas na Universidade (Fotos: Arquivo pessoal).

Embora tenha tido uma experiência positiva durante a graduação e o mestrado, ela reconhece que outros estudantes indígenas enfrentam desafios. “Existe preconceito por parte de colegas e até mesmo de professores. É horrível pensar que a construção social imposta pela cultura euro-ocidental ainda nos vê como inferiores e incapazes. A universidade deveria ser um espaço de construção de conhecimento, onde essa visão não persistisse. Embora minha trajetória tenha sido de boas relações, não posso falar apenas por mim, pois represento uma comunidade e reconheço que as dificuldades enfrentadas por um são a luta de todos”, relata Jaqueline.

O professor Ricardo Lopes Fonseca, do PPGEdu, que orientou o trabalho, destaca que foi um processo de muita aprendizagem. Ele conheceu Jaqueline em 2015, por meio do Ciclo Intercultural, e acompanhou sua trajetória desde que ingressou no curso de Geografia da UEL, em 2016. Fonseca argumenta que “a pesquisa da Jaqueline tem impacto e relevância social, pois pode direcionar políticas educacionais na formação de professores e na educação básica. Sua dissertação oferece perspectivas formativas interculturais para instituições de ensino superior e escolas indígenas.”

Ciclo intercultural

O Ciclo Intercultural de Iniciação Acadêmica tem um ano de duração e foi pensado pela Comissão Universidade para os Indígenas (Cuia), com o propósito de ajudar os alunos indígenas no processo de ambientação e amadurecimento de ideias, sendo uma forma de amenizar o choque cultural de quando eles ingressam. 

Eu posso dizer que o ciclo me ajudou em muitas questões, tanto na adaptação quanto para minhas decisões futuras. Muitas pessoas podem dizer ‘mas é difícil pra todos estudantes que ingressam pela primeira vez’, e eu concordo, porém é preciso começarmos a deixar de querer colocar todo mundo no mesmo contexto, porque essa não é a nossa realidade. É apenas mais uma forma de tentar colonizar o outro. Nós não somos iguais, nossas filosofias culturais são tão diferentes dessa que a universidade atualmente impõe, que é exatamente por esse motivo que políticas  afirmativas como o Ciclo existem.

Jaqueline de Paula Sabino, estudante indígena mestra em Educação pela UEL.
Equipe da banca da estudante Jaqueline Sabino. Presença da estudante no mestrado abre caminhos para novas meninas e mulheres de aldeias na ciência.

O professor Wagner Roberto do Amaral, coorientador de Jaqueline e um dos coordenadores da Cuia, comenta que a presença dela no mestrado em Educação abre caminhos e inspira outras meninas e mulheres nas aldeias e territórios indígenas. “A UEL é uma universidade que tem primado pelo acolhimento dos estudantes indígenas com a criação do Ciclo Intercultural de Iniciação Acadêmica que tem como objetivo fazer com que os alunos se sintam acolhidos e fortalecidos nesse percurso, é por isso que a Cuia vem trabalhando intensamente’’, declara o professor.

*Estagiária de Jornalismo na COM/UEL.

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