Pregão, megafone e show ao vivo: estudantes roubam a cena na Feira das Profissões
Pregão, megafone e show ao vivo: estudantes roubam a cena na Feira das Profissões
Monitores fizeram o possível para chamar a atenção das dezenas de milhares de jovens do Ensino Médio que lotaram o Campus, no evento nesta quinta (15).Megafones, fantasias, música ao vivo, pinturas indígenas. Universitários usaram a criatividade para chamar a atenção dos estudantes do Ensino Médio na 12ª edição da Feira das Profissões, realizada nesta quinta-feira (15), no Campus da UEL. O levantamento completo sobre a participação do público sai no início da próxima semana, mas a UEL contabiliza ter recebido pelo menos 20 mil estudantes no Campus, parte deles do interior de São Paulo.
O calçadão foi um dos espaços mais disputados para “capturar” os jovens que começaram a transitar na UEL desde o início da manhã até o período da noite. “Arquitetura é melhor que Engenharia”, entoavam, em coro, veteranos do Centro de Tecnologia e Urbanismo (CTU). “Venham conhecer o Centro de Ciências da Saúde, gente: Enfermagem, Medicina, Nutrição, Farmácia, Fisioterapia, Odontologia”, dizia, num megafone, uma estudante com jaleco branco, perto de três alunas com fantasia de fada. “Somos do curso de Odonto”, explicou uma delas.
O pregão seguiu por outros pontos do calçadão. Em frente ao Centro de Ciências Exatas (CCE), estudante de Química fazia sua propaganda, também com megafone na boca: “Melhor curso da universidade! Não vai embora, não”, emendou ele, depois que um grupo de alunos do Ensino Médio recusou o convite. “Já ofereci bala, água, banheiro. Pessoal topou conhecer o CCE, mas não exatamente o curso”. “Venham conhecer a Física, gente! Vem dar uma olhada, entender como as coisas funcionam e descobrir os segredos do universo”, propôs Júlia Vitória Barbosa, estudante do primeiro ano.
“Estou falando sobre o curso de Letras. Acabou de passar o pessoal do colégio Monteiro Lobato e fiz a divulgação. A gente gosta da educação e de contar sobre autores renomados. Queremos mais pessoas no curso e estamos mobilizando pelo Calçadão, que é o meio mais fácil de conectar com as pessoas”, disse Luiza Alcará Engelmann, do primeiro ano do curso de Letras-Português.
Na praça do Centro de Educação, Comunicação e Artes (Ceca), um palco foi montado para estudantes do curso de Música se revezarem em apresentações com diferentes gêneros, ritmos e estilos. Os shows chamaram a atenção das amigas e ingressantes de Biomedicina Rebeca Doris da Silva Headley, Maria Júlia Andrade de Assis e Ana Gabriela Vilela de Araújo. Elas aproveitaram a Feira das Profissões para conhecer outros espaços da própria UEL e elegeram o Ceca como o espaço em que se sentiram mais à vontade. “A gente tá passeando porque a gente só conhece a nossa área. É muito legal conhecer o que os outros cursos fazem. O que mais me marcou foi fazer a pintura indígena e visitar a Rádio UEL”, disse Maria Júlia. “Ver as pessoas cantando, gente tocando. Eu achei incrível. E também o significado dos símbolos das pinturas indígenas”, emendou Ana Gabriela. “Vou repetir as palavras das minhas amigas: o espaço que mais gostei foi o Ceca. Por causa da energia”, explicou Rebeca.
As pinturas indígenas foram feitas com caneta para o público que visitou o Ceca. Iniciativa da Articulação dos Estudantes Indígenas da UEL (Artein). “Grafismo é uma arte indígena e cada povo tem o seu. Esse grafismo a gente faz para mostrar a nossa cultura. E também para falar do respeito e da importância de reconhecer a história dos povos indígenas”, explicou Ana Lúcia Ortiz Martins, da etnia Guarani Nhandeva.
Ela está no 5º ano do curso de Psicologia. “Nossos parentes estão fazendo nos braços das pessoas que estão visitando a feira. Por trás de cada grafismo há uma história e aproveitamos para passar um pouco do nosso conhecimento para os não-indígenas”, emendou Kronun Kaingang, da terra indígena Apucaraninha, em Tamarana, estudante do primeiro ano do curso de Jornalismo da UEL.
Ana Lúcia explicou que, nas aldeias, as pinturas mudam de acordo com a ocasião. “Se é uma festa é um grafismo; se é luto é outro. E os símbolos vêm da floresta, da nossa relação com a terra, com os animais, com a nossa vivência no território”. Ela estava usando uma pintura vermelha e preta no braço. “Esse eu fiz hoje aqui e me lembra da necessidade de ter força. Para nós, guarani, a cor preta é da resistência. E o vermelho nossas lideranças dizem que é uma forma de lembrar dos que já se foram. Para que nós pudéssemos te dar essa entrevista aqui muitos tiveram que morrer”. Ana Lúcia esclareceu que na feira da UEL as pinturas foram feitas com canetão. “Mas no território é com tinta natural. O preto do jenipapo. E tem povos que misturam com carvão. A cor vermelha é do urucum. Eu estava contando para os adolescentes que não fizemos com tinta natural porque teria de ter autorização dos pais. O jenipapo dura uns 15 dias na pele e funciona como uma tatuagem provisória”. Kronun esclareceu que os grafismos também são utilizados em protestos e mortes. “Na minha aldeia quando alguém falece utilizamos um tipo de grafismo”.
Revista do Meio-Dia
Reportagem veiculada nesta sexta-feira (16), na Revista do Meio-Dia, da Rádio UEL FM, trouxe também depoimentos de um grupo de quatro estudantes do Instituto Federal de Educação de Jacarezinho, Norte Pioneiro. Eles estiveram na UEL pela primeira vez para a Feira das Profissões, saíram encantados com a experiência e querem vir estudar na universidade. “É maravilhoso, muito grande e fácil se perder. Tem que pegar carrinho de golfe para andar aqui dentro”, brincou Letícia Galvão Nogueira, 17 anos.
“Eu gosto de sonhar longe e sinto que é a UEL”, emendou Erick Rafael Batista Barbosa, 16 anos, que está no segundo ano do ensino médio. Letícia e Maria Eduarda Panigada atuam na UENP (Universidade Estadual do Norte Pioneiro – campus de Jacarezinho) – Letícia na área de Tecnologia da Informação e Maria Eduarda como estagiária no parque da UENP. “É uma universidade excelente, mas Jacarezinho tem poucas oportunidades. Queremos novas experiências”, explicou Maria Eduarda. Para Beatriz Toneti Gonçalves, o ideal é fazer universidade numa cidade grande.