Ex-vice-reitora da UEL Nitis Jacon recebe primeira homenagem póstuma

Ex-vice-reitora da UEL Nitis Jacon recebe primeira homenagem póstuma

Encontro vai lembrar participação da mulher de todas as artes na cultura de Londrina, que ajudou a definir desde o fim dos anos 1960.

“Nitis Jacon, uma mulher para se lembrar”. Esse é o tema do encontro neste
domingo (dia 10), no Sesc Cadeião Cultural, que vai reunir a educadora Mira
Roxo, a jornalista Célia Musili e a professora da UEL Sonia Pascolati. A
atividade integra a programação do Sesc Mulheres, que promove e discute o
protagonismo feminino no campo das artes e da cultura. O encontro vai das 16h
às 18h e é gratuito. A instituição pede ao público a doação de um item de
higiene feminina. O Sesc Cadeião fica na rua Sergipe, 52.

Será a primeira homenagem a Nitis Jacon desde a sua morte, em 19 de
dezembro de 2023. Ela tinha 88 anos. Ex-vice-reitora da UEL, a atriz, diretora
de teatro, médica, escritora e professora era considerada uma “mulher de todas
as artes”. Ela criou o Festival Universitário de Londrina (hoje Filo), em 1968.
Professora do Departamento de Letras Vernáculas e Clássicas da UEL, Sonia
Pascolati é autora de “Bodas de Café – Nitis Jacon Araújo Moreira e Grupo
Proteu”, lançado em 2019 pela Editora da UEL (Eduel). A obra recupera a
dramaturgia do Proteu sobre a história de Londrina e aponta a perspectiva do
cidadão comum: o trabalhador rural, o corretor de imóveis, a prostituta. O
espetáculo marcou as comemorações dos 50 anos de Londrina e foi
apresentado ao público em dezembro de 1984, no Ouro Verde.

No encontro deste domingo, Sonia Pascolati pretende focar na atividade de
Nitis como diretora e dramaturga do Proteu, além de defender o texto-
espetáculo Bodas de Café como revisão crítica da história da fundação de
Londrina. Sonia apontará, ainda, a força da mulher na construção da cidade,
por meio das figuras femininas de Bodas de Café.

O lançamento de Sonia, em 2019, foi no dia da apresentação do espetáculo
Tango. Que trouxe, no elenco, ex-integrantes do Proteu, fundado em 1978.
Como a educadora Mira Roxo. “Fiquei no grupo desde seu início até a
montagem de “A busca do cometa”, de 1983. Saí para me dedicar ao Seta
Nossa Escolha. Cuja sala de teatro chamava Nitis Jacon. Foi muita emoção da
Nitis ao ver seu nome naquela sala”, recorda.

Segundo Mira, as crianças da escola desenharam o cartaz da peça do cometa,
que hoje faz parte do acervo do Itaú Cultural. No encontro do Cadeião, Mira
também pretende relembrar histórias da amizade cultivada com Nitis durante
décadas de convivência. “A casa da Nitis em Arapongas sempre teve as portas
abertas. Muitas festas, muita conversa. Darcy Ribeiro (antropólogo) entrou por
aquela porta e nós, do Proteu, também”.

Nos últimos anos, Nitis vinha sofrendo os efeitos do Alzheimer e nem sempre
reconhecia as pessoas. Mira e Cláudio Rodrigues, que também integrou o
Proteu e é professor na Escola Municipal de Teatro, sempre a visitavam em
Arapongas. “Ela sempre nos recebia dizendo os nossos nomes. Fazíamos um sarau em que recitávamos, nos fantasiávamos e ríamos muito. Viajamos com
ela por esse tempo todo, apesar da distância tempo-espaço-corpo”, relembra.

Para Mira, esse tipo de distância, cercada de momentos potentes, aproxima as
pessoas. “Aproximação essa constatada nos 40 anos do Proteu com a peça
Tango. A equipe trabalhou para enviar toda a energia para Nitis e estou segura
que chegou”. Durante a montagem de Tango, o grupo perdeu o ator Remir
Trautwein, que teve um infarto fulminante e morreu aos 58 anos, em abril de
2019.

Para a jornalista Célia Musilli, editora da Folha 2, caderno de cultura da Folha
de Londrina, Nitis influenciou o modo de fazer e entender cultura na cidade.
“Nos anos luminosos do Filo, especialmente na década de 90, quando lançou
a ideia de um Festival de Todas as Artes, a Nitis trouxe a Londrina, em primeira
mão, a compreensão de cultura como fator de transformação da sociedade”.
Segundo Célia, Nitis tinha visão de teatro projetada além do teatro. “Nas ruas,
nas suas incursões pelas periferias e movimentos sociais para onde eram
levados e produzidos espetáculos coletivos”, recorda.

A jornalista destaca ainda o fato de o Filo ter conectado a cidade com as
vanguardas do teatro brasileiro, latino-americano e europeu. “Provavelmente
nunca teríamos contato com algumas obras a não ser pelo FILO”. Ela reflete,
ainda, sobre o fato de o FILO ter inaugurado, no Paraná, um formato de festival
inédito. “Hoje, em Curitiba, o Festival de Teatro tem a visibilidade que deixamos
de ter por circunstâncias econômicas e de gestão cultural, mas não tenho
dúvidas de que Londrina deu origem à vanguarda cultural no Estado, graças à
visão da Nitis”.

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