Pesquisadores do HU/UEL realizam estudo inédito sobre relação entre dor e COVID-19

Pesquisadores do HU/UEL realizam estudo inédito sobre relação entre dor e COVID-19

O estudo apontou que indivíduos com menor concentração da molécula IL-10 (interleucina-10) são mais vulneráveis à dor em fase aguda da doença.

Pesquisadores e estudantes do Hospital Universitário (HU/UEL) e Centro de Ciências da Saúde (CCS) da UEL realizaram uma pesquisa sobre a relação entre as concentrações sistêmicas de algumas moléculas importantes clinicamente na Covid-19 e os níveis de dor em pacientes sintomáticos. O estudo apontou que indivíduos com menor concentração da molécula IL-10 (interleucina-10) são mais vulneráveis à dor durante a fase aguda da infecção. Mesmo com o avanço dos estudos sobre a doença, até o momento da publicação, não havia sido produzido nenhum outro material contextualizando potenciais mecanismos fisiopatológicos relacionados à manifestação de dores em pacientes infectados, tornando os dados da pesquisa inéditos.

O projeto foi coordenado pelo professor e pesquisador da área de Ciências Patológicas, Sergio Marques Borghi, e faz parte da tese de doutorado do técnico e pesquisador Allan Bussmann, do Laboratório de Anatomia Patológica do HU/UEL. Além deles, também participaram do estudo outros pesquisadores, como o professor da UEL, Waldiceu Aparecido Verri Junior, alunos de pós-graduação e residentes do curso de medicina da UEL. Alguns pontos específicos relacionados a sintomas característicos do quadro infeccioso da Covid-19, por exemplo, a dor muscular, ainda pareciam pouco explorados em meados do ano passado”, conforme Borghi. Por isso, segundo ele, a pesquisa surgiu com o objetivo de avaliar se a condição imunometabólica dos pacientes em fase aguda da Covid-19 influenciava os níveis de dor na fase aguda da doença.

Professor do CCS, Sergio Marques Borghi e o técnico e pesquisador Allan Bussmann, do Laboratório de Anatomia Patológica do HU/UEL.

Associação entre a IL-10 e os níveis de dor

Foram analisadas quatro moléculas com o intuito de estabelecer a relação entre seus níveis sistêmicos e a pontuação de dor apresentada pelo indivíduo. Já era de conhecimento dos pesquisadores que existe aumento da produção das moléculas estudadas durante a fase aguda da infecção. No entanto, a sua relação com a dor percebida pelos pacientes infectados ainda era desconhecida. A partir disso, os integrantes do projeto, autorizados pelo Comitê de Ética em Pesquisa Envolvendo Seres Humanos (CEP/UEL), analisaram os níveis de dor e coletaram amostras de sangue de 20 pacientes internados na enfermaria do HU/UEL desde o diagnóstico. Além da mensuração dos níveis plasmáticos das moléculas-alvo da pesquisa, também foi utilizada escala subjetiva de dor ou Escala Analógica Visual (EVA), instrumento em que o paciente sinaliza ao investigador o nível de dor que está sentindo.

“Nós observamos que os pacientes que fizeram as maiores pontuações de dor na EVA eram os que tinham níveis sistêmicos mais baixos de IL-10.”, ressalta Borghi. A IL-10 é uma proteína endógena conhecida por apresentar efeitos anti-inflamatórios e analgésicos. Com isso, os resultados da pesquisa sugerem que os baixos níveis da molécula contribuem para o aumento da percepção de dor em pacientes com Covid-19 sintomáticos. A constatação permite que sejam realizadas novas pesquisas de âmbito farmacológico, com o controle da dor nos indivíduos infectados, possibilitando o aumento das opções de tratamento.

O desenvolvimento da pesquisa

Todo o processo da pesquisa durou aproximadamente 10 meses e contou com financiamento próprio do grupo de pesquisa. O trabalho foi realizado somente no HU/UEL, que foi escolhido por ser referência nacional no atendimento de pacientes com Covid-19, mas também em paralelo, por ser um centro ativo no desenvolvimento de pesquisas na área de dor e doenças infecciosas.

Segundo Bussmann, a pesquisa científica é historicamente desvalorizada no Brasil, algo que se tornou ainda mais notório nos últimos dois anos, com grandes cortes de recursos destinados a esta área, e por isso, a produção de conteúdo científico de qualidade ainda pode ser muito limitada e demorada quando comparada a outros países. “Por ser uma doença emergente e de grande impacto na sociedade, dados sobre a Covid-19 têm crescido muito nos últimos meses, e obviamente, quando se tratam de estudos sérios, são do interesse de periódicos respeitados no meio acadêmico”, complementa Borghi.

Bussmann ressalta a importância de compreender melhor a doença para ampliar o seu conhecimento e, ao mesmo tempo, proporcionar avanço no tratamento e melhora do bem-estar do paciente, principalmente após passar meses acompanhando a pandemia de perto. “Nós do Laboratório de Anatomia Patológica vemos a pandemia passar diante dos nossos olhos, sem poder realizar nenhum exame ou pesquisa mais detalhado nos corpos, devido aos protocolos de biossegurança. Quando me apresentaram a sugestão, eu fiquei muito feliz em poder contribuir”, finaliza.

O estudo foi publicado em fevereiro na revista Pain & Practice. O artigo completo pode ser encontrado AQUI.

(Com texto e informações e FOTO da Assessoria de Imprensa do HU/UEL).

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