Professor coordena guia nacional de atividade física no tratamento contra o câncer
Professor coordena guia nacional de atividade física no tratamento contra o câncer
O projeto foi coordenado pelo professor Rafael Deminice, do Departamento de Educação Física, que comprova: o exercício físico é eficaz para tratar o câncer.“Dar o primeiro passo para incluir o exercício físico como parte do tratamento oncológico”. É o que espera o docente Rafael Deminice, do Departamento de Educação Física (Cefe), acompanhado de colegas pesquisadores, após a publicação do segundo volume de um documento nacional lançado durante o XXIV Congresso da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC). O documento – um guia com recomendações para pacientes que têm ou que já passaram pelo câncer e desejam se exercitar – foi idealizado e coordenado pelo docente. Publicado pela própria SBOC, o guia ainda conta com o apoio do Instituto Nacional do Câncer (INCA), da Sociedade Brasileira de Atividade Física e Saúde (SBAFS) e de pesquisadores de instituições localizadas em diversos estados brasileiros.
Desde que chegou na UEL, em 2012, Deminice trabalha com exercício físico e câncer, principalmente em modelos animais. “Para medir eficiência, eficácia, viabilidade, escolher protocolos e para medir segurança principalmente. Nós começamos a descobrir que, nos animais, o exercício é eficaz e viável, especialmente exercícios de alta intensidade. A partir de então, começamos a pensar que a população precisava saber disso”, explica.
Após uma temporada trabalhando nos Estados Unidos, o professor percebeu que as questões relacionadas ao exercício e o tratamento oncológico eram escassas no Brasil. “Quando voltei para o Brasil, descobri que havia pouquíssima coisa escrita em língua portuguesa e de fácil acesso para a população e também para profissionais de saúde. Quase, se não todo o material que a gente tem, é em língua inglesa. Então comecei a conversar com algumas pessoas e convencê-las a montar um grupo para fazer esse tipo de trabalho”, conta.
O grupo de trabalho, que envolve pesquisas em âmbito nacional, gerou dois documentos. O primeiro, publicado em 2022, foca em prevenção e mortalidade. Segundo Deminice, “foi um estudo bem grande mostrando quais são os tipos de câncer, qual a porcentagem de redução, alguns detalhes sobre como a atividade física pode prevenir o câncer e, inclusive, prevenir a recidiva (chance do reaparecimento da doença) e a mortalidade”.
O segundo e mais recente guia se atenta às recomendações de atividade física durante o tratamento oncológico. “Ele fala sobre cuidados específicos, quais são as indicações, quais são as contraindicações, inclusive por tipos de tumores diferentes, como por exemplo tumores mamários ou de próstata. Além disso, ele traz algumas evidências científicas de como o exercício pode mitigar vários dos sintomas dos efeitos colaterais que o tratamento oncológico traz”, ressalta o pesquisador.
Um manual não substitui o outro. Muito pelo contrário, os dois documentos são complementares. Segundo Deminice, foram quatro anos de pesquisa e trabalho para o lançamento dos volumes. “A ideia principal era aproximar a sociedade brasileira e os profissionais de saúde das recomendações da ciência que tem no planeta de maneira simples e clara”, diz.
Tratando Paradigmas
A associação entre repouso e doença ainda é muito comum atualmente. Deminice afirma que esse discurso está há pelo menos 15 anos ultrapassado. Para ele, outro grande objetivo dos documentos é “acabar com aquele paradigma que diz que pessoas que têm ou que tiveram câncer devem descansar (inclusive quando fazem quimioterapia) e têm que ficar em repouso. Isso era verdade há 15 anos, hoje não mais. A recomendação principal é manter-se ativo durante o tratamento”, reafirma.
Qualquer paciente pode praticar exercícios, desde que siga as indicações e especificações para cada tipo de câncer. Desta forma, o segundo volume traz detalhes de como manter-se ativo diante de diferentes tipos de complicações e tratamentos. “O documento fala sobre câncer de mama”, exemplifica Deminice. “Pessoas que têm câncer de mama são muito afetadas com linfedemas (inchaços nos membros superiores decorrente do esvaziamento axilar, quando a pessoa passa por cirurgia e retira gânglios linfáticos). Nós dizemos que o exercício físico pode ser feito, mas com alguns cuidados específicos, como por exemplo o uso de malhas compressivas que dão mais segurança, conforto e menos dor”.
Toda a pesquisa e o trabalho são o início de uma nova visão sobre o câncer, tratamentos e o estigma que os pacientes carregam. O exercício físico, associado ao acompanhamento nutricional e psicológico, pode acarretar melhoras tanto na saúde física quanto na qualidade de vida do paciente. Segundo o docente, a prática de exercícios influencia na diminuição de sintomas depressivos, ansiedade, melhora do humor e até na qualidade do sono.
O grupo de trabalho espera que, num futuro próximo, praticar exercícios físicos durante o tratamento oncológico seja parte das recomendações médicas gerais para cada paciente. “Quando uma pessoa for diagnosticada com câncer, que ela receba o tratamento médico, orientações nutricionais, orientações de um profissional da psicologia e que ela também seja encaminhada para um profissional da educação física para que ele desempenhe seu trabalho, que é orientar exercícios físicos. Para além disso, esperamos informar a população de que o exercício físico deve ser incluído, e que quando incluído, as pessoas vivem mais e vivem melhor”, conclui Deminice.
*Estagiária de Jornalismo da COM/UEL.