Campanha Janeiro Roxo acelera identificação dos sintomas da Hanseníase
Campanha Janeiro Roxo acelera identificação dos sintomas da Hanseníase
Na manhã desta segunda (29), equipe do HU/CCS atuou com profissionais dos Correios, na Zona Leste de Londrina.Doença antiga, de caráter infeccioso-crônico, a Hanseníase é caracterizada pelo aparecimento de manchas de cores variadas (esbranquiçadas, avermelhadas ou acastanhadas) e pela diminuição da sensibilidade da pele, sendo considerada uma enfermidade negligenciada por parte da população brasileira. A Organização Mundial de Saúde (OEA) alerta que o Brasil responde por 96,3% dos casos quando considerados todos os países das Américas, ensejando ações de conscientização em nível nacional, tais como a Campanha Janeiro Roxo, cujo tema deste ano é “Hanseníase: conhecer, tratar e acolher”.
Professora do Departamento de Enfermagem (CCS) e do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem (PPGENF) da UEL, Flávia Meneguetti Pieri avalia que o combate à doença passa pela capacitação de profissionais da atenção primária para a identificação dos sintomas. Este trabalho vem sendo realizado no contexto das ações propostas pelo Grupo de Atuação e Pesquisa em Infectologia (Gapi) da UEL, coordenado pela professora desde 2018.
Na manhã desta segunda-feira (29), Dia Nacional de Conscientização, o trabalho teve início junto aos profissionais do Centro de Distribuição Domiciliária (CDD) dos Correios, na zona Leste de Londrina. A atividade contou com a distribuição de material gráfico sobre a Hanseníase.
Em seguida, a equipe do Gapi prestou apoio aos servidores da atenção primária, na Unidade Básica de Saúde (UBS) Armindo Guazzi (Região Leste). Nesta ação, que foi realizada em parceria com a Secretaria Municipal de Saúde de Londrina, ao menos 90 moradores foram avaliados, conta a professora.
O objetivo para este ano, explica Pieri, é retomar o contato com os pacientes diagnosticados com a doença desde 2019, buscando avaliar a evolução do tratamento. Este trabalho junto ao município já resultou na capacitação de mais de 200 agentes comunitários de saúde (ACS) pelo Gapi, somente ao longo do ano passado.
É desta forma que o Centro de Ciências da Saúde da UEL quer driblar os desafios recentes impostos pela pandemia da Covid-19, que afastou os pacientes dos postos de saúde, colaborando para enfraquecer a doença no estado do Paraná, primeiro da Região Sul do País no número de novos casos.
Dados da Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) apontam que ao menos 210 novos casos já foram diagnosticados em todo o estado somente nos primeiros dias de 2024. O número é proporcionalmente alto em comparação com o total registrado nos últimos anos, demonstrando a importância de um olhar mais atento sobre a doença. “Em 2021 foram 410 novos diagnósticos; em 2022, 374 e em 2023, 341 em todo o estado”, lembra a professora.
O tratamento é feito nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) e nos Centros de Referência, como a Policlínica e o Cismepar, e envolve a associação de três antimicrobianos: rifampicina, dapsona e clofazimina. Essa associação é denominada Poliquimioterapia Única (PQT-U) e está disponível nas apresentações adulto e infantil.
“Apesar de possuir tratamento e cura conhecidos, a enfermidade causada pelo microorganismo Mycobacterium leprae não parece ser uma prioridade para atores públicos e privados da Saúde”, lamenta a professora. “Nesse contexto, as autoridades sanitárias lidam com dificuldades na detecção dos casos por razões que vão de sua maior incidência em regiões mais afastadas e em situação de vulnerabilidade social e até por conta do estigma histórico contra os infectados”, conclui.
Atualmente, o Brasil fica atrás apenas da Índia no ranking de países com a maior incidência da doença, o que o classifica como um país prioritário para a hanseníase pela Organização Mundial de Saúde. Globalmente, o ano de 2022 registrou um total de 174 mil novos casos da doença, elevando a taxa de detecção para 21,8 casos por 1 milhão de habitantes. O grupo de menores de 15 anos foi o destaque dentre os novos casos, registrando um crescimento de 16,4% em comparação com 2021, com 5,1 casos para cada 1 milhão de habitantes.