Projeto de extensão incentiva a construção de memórias nas periferias de Londrina

Projeto de extensão incentiva a construção de memórias nas periferias de Londrina

“Periferia Conta Sua História”, do Departamento de História, é desenvolvido em parceria com as secretarias municipais de Cultura e Educação.

Willian C. Fusaro

Agência UEL


A história de uma cidade é construída por seus habitantes, sejam eles de quais regiões forem – centro, zona rural ou da mais recôndita periferia. O Projeto de Extensão “Periferia Conta Sua História”, realizado pelo Departamento de História, do Centro de Letras e Ciências Humanas (CCH) em parceria com as secretarias municipais de Cultura e Educação, visa disseminar a ideia de que os habitantes comuns, crianças, jovens e adultos dos bairros da cidade, podem ser agentes na construção de uma memória e na afirmação de uma identidade londrinense. Ou seja, de que a história que se constrói não é somente a que se ensina nas escolas, mas as que se faz no cotidiano.

O projeto é coordenado pela professora do Departamento de História Regina Allegro, junto das professoras da rede pública municipal Meire Lopes e Eliane Candotti. É dirigido principalmente a professores de História e Geografia da rede pública (ensinos Fundamental, Médio e EJA), mas é aberto a qualquer interessado. Participam estudantes de diversos cursos de graduação da Universidade, como Arquitetura e Letras, e também moradores de bairros periféricos de Londrina que não têm ligação com a área da docência. O projeto é financiado pelo Programa Municipal de Incentivo à Cultura (PROMIC), da Prefeitura de Londrina.

Segundo Allegro, o projeto entra em uma nova fase, após ser adaptado de outro antigo projeto: Contação de Histórias no Norte do Paraná. “O projeto está em sua fase inicial e conta com uma parceria com o projeto Conhecer Londrina Digital, que promove visitações online aos pontos turísticos municipais”, ressalta. O Conhecer Londrina Digital é um desdobramento do projeto Conhecer Londrina, ativo desde a década de 1980. “Com a pandemia, essas ações de visitações ficaram restritas, então a parceria contribui muito”, ressalta Regina.

Memórias locais

Diante do ensino de História, muitos estudantes das redes de ensino Fundamental e Médio tendem a não se sentirem atores da história local. Segundo Eliane, as experiências do projeto até hoje levam a crer que a forma com que esses estudantes é impactada pelo ensino influencia nessa sensação de falta de pertencimento. “Os estudantes percebem que a memória é uma construção. Eles conseguem saber, por exemplo, que as memórias das avós ou avôs contam histórias que não se encontram em outro lugar senão no convívio familiar”, comenta a pesquisadora.

Para estimular os estudantes, o projeto se divide em oficinas online sobre temas e metodologias de estudo da memória: fotografia, entrevista, depoimento, educação patrimonial, história da cidade, leitura de mapas e outros temas. “Tratamos dos temas de uma forma introdutória, mas é possível observar que eles compreendem que a identidade e memória do seu bairro e região são construídos e que eles podem agir nesse sentido”.

Aprendizado essencial

Larissa Chicareli é professora da rede pública em Londrina, no Colégio Helvio Esteves, no Jardim Belle Ville, Zona Norte da cidade, e em Cambé, no CAIC – Cecília Meirelles. É uma entusiasta do projeto e já consegue observar vários resultados positivos no contato com os estudantes. “Sou formada em História pela UEL e o projeto ajuda muito a ter acesso a muitas fontes, que são a base do trabalho do historiador”, ressalta.

Muitos estudantes de periferia, segundo Larissa, sentem alguma resistência em pensar cultura local como algo acessível e próximo. “Muitos não vão ao Museu Histórico de Londrina, por exemplo, porque acham que tem que pagar. Quando trabalhamos com memória local, notamos que há um interesse por saber sobre o seu bairro, sua rua, sua localidade”, comenta.

A historiadora lembra de um episódio interessante nesse sentido: o estudo da mudança do nome do bairro Belle Ville. A região, antes chamada Alphaville, precisou mudar de nome, pois já há um complexo residencial de mesmo nome na cidade. “Tanto o bairro como a escola são recentes, então trabalhamos isso em sala, o motivo de mudar e tudo. Eles se interessam pelas questões quando expostas de uma forma interessante”, finaliza.

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