Curso Masterclass de Regência Orquestral reúne aspirantes a regência de todo o país

Curso Masterclass de Regência Orquestral reúne aspirantes a regência de todo o país

O curso é oferecido pela Casa de Cultura e pela Orquestra Sinfônica da UEL sempre no início do ano.

Os 908 km que separam Goiânia (GO) de Londrina não foram um empecilho para os músicos Vinicius Guimarães, 33 anos, e Isaac Gonçalves, 35, que atravessaram todo o Planalto Central, paisagens e cenários em busca de um sonho que a muitos parece bastante distante: ser maestro de orquestra. Os dois, assim como outros 13 estudantes de Londrina e de outras partes do Brasil, participam da 4ª Edição do curso de extensão Masterclass de Regência Orquestral.

O curso é oferecido pela Casa de Cultura e pela Orquestra Sinfônica da UEL (OSUEL) sempre no início do ano – neste ano, começou na última segunda-feira (21) e vai até esta quinta-feira (24). São 16 horas de atividades práticas (com a orquestra da UEL) e 24 horas de aulas teóricas.

No ano de 2021, devido à pandemia do novo coronavírus, teve de ser cancelado, mas voltou com força neste ano, segundo o maestro Alessandro Sangiorgi, que ministra o curso. “Voltamos com 15 participantes, o que é um número bastante expressivo, afinal é uma área bastante específica e com poucas oportunidades de prática profissional e trabalho”, completou.

Carioca Evandro Rodriguese durante ensaio para concerto. Ele é um dos seis alunos que vai reger a OSUEL nesta quinta-feira (24), no Teatro Ouro Verde.

Os dois amigos lecionam na mesma escola, localizada em Anápolis, município localizado a 60km de Goiânia, e sempre trocaram informações sobre cursos e especializações em todo o Brasil que focam no objetivo de ambos: a regência. “Sou formado em Música, com habilitação em violino, e quero focar na regência para orquestra sinfônica”, afirmou Isaac, para quem a oportunidade de reger uma orquestra profissional como a OSUEL é muito importante. “Um estudante de regência não tem muitas oportunidades como maestro. Só de interagir com o maestro (Sangiorgi) e de reger a OSUEL em alguns movimentos (das peças) já é muito aprendizado”, considerou.

Na mesma linha, Vinícius Guimarães pontuou que a escolha pelo curso em Londrina se deu pela reputação do maestro e, também, pela exclusividade do tema. “Sempre estamos indo atrás de oportunidades, que nessa área são escassas”, considerou. Por isso, diz que sempre leva consigo, na hora de reger uma orquestra de alto nível, um celular para gravar suas apresentações. “Fico olhando depois, estudando o que fiz para outras oportunidades”.

Vinícius Guimarães veio de Goiânia (GO) para fazer o curso ofertado pela Casa de Cultura da UEL

Vinícius, assim como o amigo Isaac e outros quatro estudantes do curso, foram selecionados pelo maestro Sangiorgi para reger a OSUEL em uma apresentação nesta quinta-feira, às 20 horas, no Cine Teatro Ouro Verde. Os estudantes do curso e a OSUEL realizaram um ensaio geral para a apresentação na manhã de quarta-feira.

Outro felizardo que comporá a equipe de maestros é o carioca Evandro Rodriguese. Aos 37 anos, Rodriguese não é um iniciante: atua como regente há 10 anos, grande parte deles na Orquestra Jovem de Niterói, região metropolitana do Rio de Janeiro. “É um projeto social da Prefeitura de Niterói voltado a estudantes das escolas públicas. Atuo com alunos dos 14 aos 24 anos, então, além de jovens, temos também estudantes de música e profissionais que buscam o lugar para estudar”.

Curso atraiu músicos do Rio de Janeiro e Goiânia, além de interessados de Londrina.

Conseguir fazer o Masterclass de Regência, para Rodriguese, foi praticamente uma batalha. Como sempre estava envolvido em outros trabalhos, o músico nunca podia comparecer ao curso. “Sempre tentei, mas nunca casava com minha agenda, afinal demanda uma programação, ficar uma semana fora de casa”, considerou. “Com a pandemia e o adiamento das minhas atividades, consegui me programar e deu certo”, contou, animado. 

Rodriguese quer se especializar em regência de ópera e terá, inclusive, um motivo a mais para comemorar: a apresentação de quinta-feira contará com a participação da soprana Havilá Porto, que vai executar “Eccomi in lieta vesta – Oh! quante volte!”, da ópera I Capuletti e i Montecchi, de Vincenzo Bellini. As outras duas obras executadas são a Sinfonia nº 5, do compositor austríaco Franz Schubert, e Mourão, do representante brasileiro na tríade, César Guerra-Peixe (o Masterclass sempre inclui ao menos um artista brasileiro no hall de obras executadas).

Também comporão a equipe de regentes na apresentação desta noite Eduardo Sahão, Francisco Auresco e Vinícius Jaloto. O concerto será dividido em seis movimentos, de modo que cada um dos estudantes possa reger um movimento.

Alessandro Sangiorgi destaca que o ofício de maestro exige dedicação e estudo.

Foco em regência orquestral e ópera

Segundo o maestro Sangiorgi, o curso foca em regência de orquestra e ópera, esta, inclusive, uma vertente bastante específica da regência. “Mesmo na Itália, esse tipo de experiência para um jovem músico é algo bastante raro. Então, é algo que deve ser aproveitado”, avaliou. 

Natural de Ferrara, no Norte da Itália, Sangiorgi se graduou em Música – habilitação em Piano e está há 30 anos do Brasil, sete deles como maestro da OSUEL. A ideia de formar o curso veio da escassez de oportunidades de aprimoramento no Brasil, somada à necessidade da prática. “Um bom regente deve, antes de tudo, dominar um instrumento. O piano, por exemplo. Quando se domina, é possível executar uma sinfonia de Beethoven e transportá-la para cordas, sopro etc. Aqui, também focamos bastante na formação gestual do maestro”, considerou.

Para se tornar maestro, contudo, não é necessário apenas esse domínio: também é preciso praticar por muitos anos, além de ter domínio de partitura, contrapontos, harmonia e dinâmica. “Os maestros estudam por três, quatro, às vezes cinco anos para começar”.

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