Nova Administração planeja gerenciar estrutura funcional e de recursos humanos para crescer na crise

Nova Administração planeja gerenciar estrutura funcional e de recursos humanos para crescer na crise

Na entrevista, Marta Favaro e Airton Petris enumeram prioridades e avaliam impactos da LGU, entre outros assuntos.

A chapa Mais UEL, eleita em primeiro turno nas eleições diretas da UEL em abril passado, toma posse essa semana (9) para um mandato de quatro anos. A consulta pública foi realizada pela primeira vez de forma online e reuniu quatro chapas, um dos pleitos mais concorridos nos últimos 12 anos. Na semana da posse, o Notícia buscou ouvir a reitora eleita, Marta Favaro, e o vice-reitor, Airton Petris, sobre os planos e as expectativas neste início de trabalho.

O atributo alt desta imagem está vazio. O nome do arquivo é Jornal-Noticia-1024x265.jpg
Edição número 1413 de 08 de junho de 2022
Confira a edição completa

Nesta entrevista, Marta e Airton enumeram as prioridades, fazem uma avaliação dos impactos da Lei Geral das Universidades (LGU) e sinalizam para a construção de um trabalho coletivo, amparado no apoio de professores, agentes universitários e estudantes.

NOTÍCIAGerir a Universidade é um desafio para qualquer gestor. Os números são impressionantes – mais de 4,2 mil professores e servidores, mais de 15 mil estudantes de graduação e pós-graduação e um orçamento previsto de R$ 895 milhões para este ano. Como estabelecer prioridades?

MARTA – São muitas as prioridades, temos desafios grandes. A começar pela organização da nossa estrutura relacionada ao quadro funcional, por conta da parametrização apresentada pela Lei Geral das Universidades (LGU), aprovada no ano passado. E temos outros muitos desafios, difícil até de enumerar porque com nosso orçamento temos de manter todas as atividades.

Precisamos manter toda a estrutura física de laboratórios. Estamos em um processo de reformulação dos nossos cursos. E em função dos impactos da pandemia, é fundamental fortalecer a presença, a permanência dos nossos estudantes na graduação e na pós-graduação. Temos a preocupação de preencher todas as vagas oferecidas por meio do Vestibular. Na pós-graduação, Lato sensu e Stricto sensu, temos de fortalecer a relação para que os alunos nos procurem e permaneçam conosco durante todo o processo de formação.

Paralelamente é necessário reestruturar nosso fazer, os fluxos e processos institucionais. Temos um quadro funcional experiente mas com muitas pessoas em processo de aposentadoria, sem uma reposição imediata dessas vagas. É preciso manter a Universidade viva.

Há ainda outro desafio, manter todas as atividades dos órgãos suplementares e de apoio. Isso demanda observar também o quadro de funcionários para prestar um serviço à comunidade. Estou falando de alguns desafios debatidos durante a campanha que teremos que trabalhar, priorizar e que terão desdobramentos.

AIRTON – a gestão da Universidade precisa considerar a modernização da administração do trabalho e dos processos. Vamos precisar adotar novas práticas de gerenciamento em cada setor. E eventualmente pensar em reformas. Há necessidade de fazer trabalhos por projetos, enfim teremos de trabalhar em um modelo de gestão diferente deste que temos.

É uma nova forma de gerenciar pessoas e processos. E se quisermos modernizar, criar uma mecânica melhor de gestão teremos de alterar inclusive a forma de fazer essa gestão. Enfim, são esses os desafios que estão colocados.

NOTÍCIAA UEL vive um momento de transição? Nestes 50 anos trabalhamos com um efetivo de pessoal suficiente. Agora passamos a não contar com os cargos de que dispomos. É uma readequação do serviço público, novos tempos?

MARTA – Eu não sei se é readequação a novos tempos, pois estamos vivendo uma herança histórica. A não reposição funcional não é de agora. Ela está potencializada agora porque não tivemos há algum tempo essa reposição do quadro de agentes universitários e de docentes. E estamos diante de uma estrutura que cresceu com novos cursos, novas vagas, vários cursos do Stricto sensu, sendo que a reposição de pessoas não aconteceu.

Isto nos coloca à frente de um limitador. Estamos lidando com essa consequência que se acumulou ao longo dos anos e que exige obviamente ajustes internos. Quando você tem uma LGU aprovada, mesmo diante das nossas contestações, com todo o movimento que fizemos de proposição e de tentativa de negociação para uma parametrização diferente, esse diferencial não foi considerado adequadamente. E isto vai nos fazer, sim, trabalhar essa transição. Vamos ter de pensar dentro dessa estrutura tendo, ao mesmo tempo, um movimento de negociação junto ao governo, na tentativa de alteração desses parâmetros para sobreviver.

E não só isso. Precisamos manter as atividades e crescer na crise. Há a necessidade de um movimento interno, de estudo para expandir mesmo com os problemas. Temos de nos adaptar às condições. Isso será necessário inclusive para que a gente possa negociar a revisão dos parâmetros.

AIRTON – Uma pergunta importante é: como mudar esses processos de trabalho? Para que realidade? Como uma Universidade como a nossa, preocupada com formação, capacitação e qualificação vai se comportar? Isso exige novas práticas. Mas ainda trabalhamos dentro de uma realidade mais conservadora. Por isso que entendo que este cenário de não reposição vai exigir mudanças nos processos de trabalho considerando ferramentas tecnológicas para termos mais agilidade administrativa. Sem essas adaptações, não teremos novas dinâmicas. Esse é um grande desafio.

Nossa estrutura, nosso organograma está estabelecido há bastante tempo, há uma cultura. E agora estamos necessitando mudar o jeito de fazer. A principal dificuldade é mudar a cultura das pessoas e qualquer mudança organizacional passa por esse desafio. A Universidade hoje tem um perfil tecnológico por excelência com muita pesquisa e isso exige uma gestão diferente do tradicional. Em resumo, lidamos com pessoas e elas têm de entender o contexto que a Universidade está vivenciando hoje.

Reitoria eleita estará à frente da UEL nos próximos 4 anos.
Reitoria eleita, que estará à frente da UEL nos próximos quatro anos, foca em trabalho conjunto (Foto: Mais UEL)

NOTÍCIAA cada mudança de gestão vem a tradicional cobrança, como melhorar a interação e o relacionamento com a sociedade? O que pensam sobre isso? Que propostas vocês defendem para intensificar esse diálogo?

MARTA – Nós já nos relacionamos intensamente com a sociedade porque recebemos os estudantes e os formamos. Um dos aspectos que precisamos considerar é que esta relação vai melhorar quando potencializarmos – e fazemos isso de forma competente – a formação que oferecemos na graduação e na pós-graduação.

Nós também mantemos uma relação estreita com a sociedade por meio das ações extensionistas. E olha que a UEL tem os seus braços estendidos sobre a comunidade. Estamos espalhados em todos os espaços. Mas talvez tenhamos de ampliar isso. A acreditação da extensão é uma realidade que começa a se materializar na graduação e que vai exigir gradativamente até 2024, 2025.

De outro modo já participamos ativamente das governanças, de conselhos consultivos de várias áreas. Nós temos atividades estabelecidas com associações. Penso que teremos de intensificar esse trabalho. Nossos professores são solicitados para atender em diferentes espaços e demandas. Penso que precisamos nos fazer ver mais. Mostrar nossa articulação com os diversos setores. A comunidade precisa nos enxergar como parceiros pelas prestações de serviços que fazemos. É intensificar esses laços. Potencializar esses canais.

AIRTON – De forma sistemática, do ponto de vista de assistência e da prestação de serviço, a gente atua complementarmente no sistema de saúde por meio do HU, HV, COU e da Farmácia Escola. Do ponto de vista de serviços, os projetos de extensão têm um papel tão importante, mas que não está claro para o conjunto da sociedade. Isso precisa ser demonstrado.

Na pesquisa e na inovação, temos uma política institucional estabelecida e diversas parcerias. Estamos em um momento interessante de novas patentes. Tudo isso representa uma relação intensa com a sociedade. Agora precisamos identificar demandas para estabelecer um planejamento que atenda essas necessidades.

NOTÍCIARelacionamento com o governo. Como convencer as esferas municipal, estadual e nacional sobre a importância estratégica da Ciência?

MARTA – Temos de continuar fazendo nosso papel, produzindo conhecimento, ciência, prestando serviços, formando bem os nossos profissionais. Talvez reforçar nosso discurso de que estamos fazendo. O convencimento ocorre quando você consegue mostrar o que é feito. A outra parte tem de estar aberta a compreender, sem dúvida. É uma relação.

Agora, cabe a nós fazer o nosso papel. E levar a todas essas esferas o resultado desse trabalho, evidenciando o quanto a UEL é importante nas áreas cultural, econômica, na prestação de serviços e na formação de recursos humanos qualificados. Isso traz impactos para Londrina e região e para todo o estado. Aliás, o nome do Paraná vai para outros espaços com cada profissional formado. É fortalecer a demonstração desses resultados para que todos percebam o quanto somos fundamentais dentro do ecossistema político e econômico.

E essa relação com o governo nós assumimos como compromisso desde o início da campanha. De termos um partido, a UEL. Pretendemos levar esse recado a todos os espaços possíveis, de tudo aquilo que fazemos e realizamos. Esperamos que nos ouçam e apoiem, a Universidade é uma potência.

AIRTON – Penso que esse convencimento passa por uma sensibilização da missão da Universidade que qualifica as práticas de trabalho e mercadológicas. Essa é a nossa capacidade. A gente tem de demonstrar isso claramente para os entes políticos até para também apoiarmos as demandas, as atividades de interesse regional. Temos, por outro lado, várias atividades em curso. Projetos tocados juntamente com a Associação Comercial de Londrina (ACIL), com empresas privadas, com o setor público.

O Núcleo Interdisciplinar de Gestão Pública (NIGEP) é só um exemplo de atividade técnico-científica que qualifica a prestação de serviços públicos. Há outras que possibilitam o desenvolvimento tecnológico com rapidez e eficiência como o acordo entre a UEL e a Universidade Estadual do Norte do Paraná (UENP), oficializado neste mês de junho para o desenvolvimento de um bioinseticida para a ferrugem da soja. O acordo ainda envolve uma empresa privada da área de ativos biológicos.

Nós temos a capacidade, precisamos mostrar isso e a sociedade, de alguma forma, precisa compreender que podemos ajudar a incrementar, fomentar a economia. A UEL está preparada para isso, pela qualidade do corpo técnico.

NOTÍCIA Que recado gostariam de deixar neste início de trabalho?

MARTA – Paulo Freire diz que é ontologicamente esperançoso. Nós acreditamos na Universidade. Acreditamos que é possível fazer um trabalho à frente da Reitoria e que é possível fazer isso em parceria, em um exercício coletivo. Queremos que todos venham juntos nessa luta, não é a Administração sozinha. Nós somos representantes dessa instituição, das reverberações dos conselhos constituídos que representam a comunidade como um todo.

O que gostaria de evidenciar é que temos a esperança de fazer alguma coisa, a partir do projeto que estabelecemos e que foi validado pela comunidade quando nos escolheu para representá-los como gestores. Sei que o período é desafiador, muito difícil, mas podemos pensar alternativas juntos, nós e a comunidade. Tudo a partir daquilo que a gente sabe fazer – trabalhando em prol da Universidade. É uma mensagem de esperança, temos condições de pensar e executar alternativas. Queremos juntos planejar e fazer pela Instituição. Não é a Marta e o Airton, é cada um fazendo seu trabalho tentando identificar e ajudando a pensar. Juntar forças e não dividir. Somos todos UEL.

AIRTON – A UEL com seus diferentes matizes internas tem pessoas que estão sempre pensando em como melhorar o lado de fora, a sociedade. Qualquer um aqui sonha com isso. A Universidade busca sempre efetivar sonhos que estão lá fora. O sonho é servir com qualidade, com formação, fazendo inclusão. Capacitando, qualificando. O papel dessa gestão é operacionalizar esses sonhos.

MARTA – Vamos juntos lutar pela Instituição. Que ela continue pública, gratuita, inclusiva, diversa e que possa de fato garantir a sua natureza. Essa é a nossa luta conjunta.

Leia também