Departamento de Letras prepara edição presencial do projeto Literatura na Biblioteca 

Departamento de Letras prepara edição presencial do projeto Literatura na Biblioteca 

Após ter sido realizado de forma remota, em função da pandemia da Covid-19, o projeto “Literatura na Biblioteca” voltará a ocupar o espaço da Biblioteca Pública Municipal Pedro Viriato Parigot de Souza. Parceria do Departamento de Letras Vernáculas da Universidade Estadual de Londrina com a Secretaria Municipal de Cultura, a iniciativa voltada para o estudo […]

Vitor Struck

Agência UEL


Após ter sido realizado de forma remota, em função da pandemia da Covid-19, o projeto “Literatura na Biblioteca” voltará a ocupar o espaço da Biblioteca Pública Municipal Pedro Viriato Parigot de Souza. Parceria do Departamento de Letras Vernáculas da Universidade Estadual de Londrina com a Secretaria Municipal de Cultura, a iniciativa voltada para o estudo das obras literárias cobradas no Vestibular da UEL será retomada no dia 31 de agosto, às 18h30, com aulas expositivas e abertas à comunidade ministradas por um docente do programa de Pós-Graduação em Letras da UEL.   

Neste ano, o reencontro com as obras literárias terá início pelos versos do poeta, romancista e um dos fundadores do Modernismo, Mário de Andrade. A obra selecionada foi “Contos Novos”, um compilado de nove narrativas curtas escritas por um dos mais importantes nomes da literatura brasileira ao longo de sua vida e lançado em 1947.

Responsável pela primeira aula, o professor da UEL e doutor em Estudos Literários, Miguel Heitor Braga, lembra que há duas boas maneiras para se “agrupar” cada uma destas obras logo no início da rotina de estudos. “Para impulsionar esta leitura uma boa dica é que eles (candidatos) partam das mais recentes e depois possam trafegar pelas mais antigas. Mas são duas possibilidades: começar com as mais recentes ou por gênero também. Temos contemplados todos os gêneros: poesia, romance, crônica, teatro”, lembra.

Além de Mário de Andrade, os autores que “permaneceram” na lista foram Carolina Maria de Jesus, uma das primeiras escritoras negras do país, e o gaúcho Moacyr Scliar, contista, cronista e romancista autor de mais de 70 livros. As obras selecionadas foram “Quarto de Despejo” (Ática) e “Histórias que os jornais não contam” (L&PM), respectivamente.  

O Vestibular 2023 vai ser ministrado em duas etapas, sendo a 1ª fase no dia 5 de março, com 60 questões expositivas. A 2ª fase terá três dias: 2 de abril – questões de Língua Portuguesa e Literatura em Língua Portuguesa, Língua Estrangeira e Redação. Já dia 3 de abril é destinado para prova discursiva de Conhecimentos Específicos e dia 4 de abril, Prova de Habilidades Específicas direcionada aos candidatos dos cursos de Arquitetura e Urbanismo, Design Gráfico, Design de Moda e Artes Visuais.

Obras recentes 

A lista de obras literárias para as edições de 2023 e 2024 do Vestibular da UEL traz sete novos autores, sendo alguns responsáveis por lançamentos bastante recentes, caso de “Torto Arado”. Lançada pela Editora Todavia em 2019, a obra foi a vencedora dos prêmios Jabuti de melhor Romance Literário e Oceanos de Literatura. 

“É uma narrativa que tem essa questão da voz feminina, com toda a carga emocional que há no feminino muito bem trabalhada pelo autor. Ou seja, ele tira a voz dos homens e coloca nas três narradoras. Tem a questão racial porque são mulheres pretas e quilombolas. Mas tudo isso sem nenhum tipo de sentimentalismo e condescendência. Tem a questão religiosa porque aponta para a chapada Diamantina, onde há uma encruzilhada de saberes religiosos e a influência dos orixás no contexto do Jarê, prática religiosa de matriz africana. Além da questão da terra, ou seja, a necessidade de se ter por meio de uma melhor divisão agrária uma possibilidade de as pessoas terem uma ascensão social. São aspectos que traduzem o espírito do nosso tempo”, avalia Braga. 

Outra obra lançada recentemente é “Chove sobre minha infância” (Record), do escritor paranaense e reitor da Universidade Estadual de Ponta Grossa, Miguel Sanches Neto. Misto de ficção e memória de uma infância no interior do Paraná, o romance é narrado pelo seu próprio protagonista desde o seu nascimento, em Bela Vista do Paraíso (Norte do Paraná), passando por sua mudança para Peabiru (Noroeste), cenário onde boa parte da narrativa é desenvolvida. “A importância desse livro é quanto à questão memorialística e ele trabalha com este tema já há muitos anos. É este olhar de rememoração para a infância, da figura da criança para a adolescência. É um autor contemporâneo, jovem, que adota a prosa de ficção e representa também esta tentativa do Vestibular de contemplar a literatura paranaense, de trazer a produção do estado”, avalia o professor.

Ainda no grupo de livros lançados há poucos anos, a lista de obras literárias também destaca a literatura africana ao trazer um sucesso da escritora moçambicana Paulina Chiziane, lançado em 2002. “Niketche: uma história de poligamia” (Companhia das Letras) promove uma reflexão sobre a condição da mulher negra na sociedade moçambicana no período pós-independência através da história narrada em primeira pessoa pela protagonista-personagem, Rami. A narrativa se desenrola no momento em que Rami decide se unir às outras quatro amantes do seu marido, Tony, para formarem uma grande família.

Romance, crônica, poesia e teatro 

Os candidatos também irão se deparar com obras consideradas mais “densas” em sua linguagem textual uma vez que remetem às escolas literários dos séculos XVIII e XIX. É o caso do Arcadismo, com “Cartas Chilenas” (domínio público), de Tomás Antônio Gonzaga, e Romantismo, caso de “O Seminarista” (domínio público), de Bernardo Guimarães.

Considerado um dos mais importantes poetas da língua portuguesa, o português Fernando Pessoa também teve uma seleção de seus melhores poemas incluída na lista deste biênio. Trata-se da publicação “Melhores Poemas” (Global), onde Pessoa assina com seus heterônimos: Álvaro de Campos, Ricardo Reis, Alberto Caeiro, além de Bernardo Soares. 

Para completar a lista, uma obra cujo estrutura textual pode surpreender um pouco mais os candidatos, avalia o professor Miguel Braga, por se tratar de uma peça teatral lançada em 1937 trazendo os valores do Movimento Antropofágico: “O Rei da Vela” (Companhia das Letras), do também modernista e um dos criadores da Semana de Arte Moderna de 1922, Oswald de Andrade. “Eles podem achar um pouco diferente porque o texto teatral segue na forma dramática, não há um narrador. O que acredito é que os alunos podem tentar perceber é como que existe esta agilidade no texto dramático, que é dividido em três atos. Então é importante perceber isso e como ele está falando do momento. A obra também tem uma referência bastante clara de crítica ao governo Getúlio Vargas”, lembra o docente.  

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