Muito além do desenho
Muito além do desenho
Professor desenvolve material didático para disciplinas de Representação baseado no BIM, ou Modelagem de Informação da Construção.O professor Ivanóe de Cunto, do Departamento de Arquitetura e Urbanismo (CTU), ministra disciplinas de Representação de Projetos no 1º e 2º ano do curso de Arquitetura da UEL, e percebeu algumas dificuldades em parte dos alunos em desenvolver projetos, que dependem de um bom software. Infelizmente, os laboratórios do curso não são atualizados, e os estudantes tampouco possuem os recursos necessários.
Pensando nisso, desde 2020, o professor coordena o projeto de Pesquisa em Ensino “Criação de material didático para disciplinas de BIM – Building Information Modeling do curso de Arquitetura e Urbanismo na UEL”. O projeto foca em softwares específicos, como o Revit, para a elaboração dos mais variados projetos, não apenas arquitetônicos. Além de criar uma apostila digital, já usada em sala de aula, o professor prepara um repositório e um site para hospedar o material e disponibilizá-lo.
Processo inteligente
A história do BIM teve início em 1974, quando foi criado no Instituto de Tecnologia da Georgia (EUA) o BDS (Building Description System), um passo para chegar ao BIM, em 1986. No ano seguinte, foi lançado o Archicad, um software amplamente usado até hoje por profissionais e escolas de Arquitetura. “O BIM chegou ao Brasil em 2007 e o Revit é o software com a tecnologia BIM mais utilizado por profissionais no mundo”, relata Ivanóe.
O BIM não é apenas um software, mas, sim, um processo inteligente de criar e gerenciar informações a fim de produzir uma representação digital (um projeto) com grande riqueza de detalhes e de dados. Com ele, arquitetos e engenheiros podem trabalhar em seus próprios projetos (arquitetônico, paisagístico, hidráulico, elétrico, estrutural etc.) que depois podem ser reunidos e avaliados por um gerente de projetos – cada um em seu local de trabalho. Antes, um mesmo projeto (como uma residência) poderia usar dúzias de folhas de papel e todas tinham que ser sobrepostas ou comparadas lado a lado para ajustes e correções.
Importantes obras já foram erguidas com o BIM. Um exemplo dado pelo professor é o Projeto Sirius (Unicamp), um acelerador de partículas, considerado a maior e mais complexa infraestrutura científica já construída no país. “O Centro de Ensino e Pesquisa Albert Einstein também utilizou o BIM em sua edificação, que vai abrigar a Faculdade Israelita de Ciências da Saúde Albert Einstein e os pesquisadores da instituição. E o Senai já tem realizado o projeto e execução de suas escolas profissionalizantes totalmente com a metodologia BIM”, conta o professor.
Ivanóe destaca o uso do BIM no período de isolamento provocado pela pandemia. “Foi a metodologia mais indicada para projetos porque permitiu uma construção mais rápida e eficiente. Tendo em vista essa urgência, uma das obras construídas com o BIM foi o hospital do M’boi Mirim, em São Paulo, com 100 leitos”, informa.
Ainda assim, o BIM ainda não é largamente utilizado no país, até porque a obrigatoriedade de seu uso data do ano de 2020, quando o Decreto 10.306 (02.04.20) determinou o uso do sistema para a execução de obras e serviços de engenharia realizados, direta ou indiretamente, pelos órgãos e pelas entidades da administração pública federal. Desde 1º de janeiro de 2021, o BIM deve ser empregado no desenvolvimento de projetos de arquitetura e engenharia. E a partir de 1º de janeiro do ano que vem, também obrigatório na gestão de obras. “Só para comparar, o BIM se tornou obrigatório em todos os projetos federais dos EUA, exceto os edifícios militares, em 2006”, acrescenta Ivanóe.
Do material ao preço
Um projeto com a metodologia BIM vai muito além de um desenho tridimensional, porque é precedido de extensa pesquisa (como qualquer projeto convencional) e alimentado com dados disponibilizados apenas com alguns cliques. Por exemplo: ao clicar sobre o desenho de uma janela, o BIM pode informar o material, dimensões, fabricante e até seu custo. Caso o cliente queira aumentar ou retirar a janela, o modelo recalcula tudo imediatamente.
Ora, o BIM afinal é um jogo de construção? Bem parecido, explica o professor. De fato, ele aponta para uma dimensão lúdica, positiva para os alunos, que já chegam ao curso com experiência em jogos. “Um projeto terá uma espécie de ‘biblioteca’ de tipos de paredes e janelas, e basta escolher entre o ‘cardápio’ de opções”, expõe.
O que antes, nas representações, eram apenas linhas, com o BIM são paredes, portas, janelas, telhados, pisos. Assim, problemas podem ser detectados muito antes de iniciar a obra. Com isso, empresas construtoras podem evitar desperdício de material, retrabalho e, naturalmente, gastos indesejáveis. Outro ponto positivo é que, diferente dos projetos em papel, por exemplo, com o BIM as especificidades impedem “ajustes” fora do conceito original. “Não tem lugar para puxadinhos”, brinca o professor. Isto reflete até na lisura de uma licitação, quando se refere a um projeto e obra públicos.
Extensão
Concluído o material, o professor Ivanóe pensa no uso extensionista, já levando em conta a curricularização da extensão, prestes a ser implantada na UEL. Ele também pretende ampliar e experimentar outros softwares. Até aqui, segundo ele, os estudantes têm apreciado o material. Alguns trabalhos de conclusão de curso já utilizaram o BIM em seus projetos.