Muito além do desenho

Muito além do desenho

Professor desenvolve material didático para disciplinas de Representação baseado no BIM, ou Modelagem de Informação da Construção.

O professor Ivanóe de Cunto, do Departamento de Arquitetura e Urbanismo (CTU), ministra disciplinas de Representação de Projetos no 1º e 2º ano do curso de Arquitetura da UEL, e percebeu algumas dificuldades em parte dos alunos em desenvolver projetos, que dependem de um bom software. Infelizmente, os laboratórios do curso não são atualizados, e os estudantes tampouco possuem os recursos necessários.

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Edição número 1421
de julho de 2023
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Pensando nisso, desde 2020, o professor coordena o projeto de Pesquisa em Ensino “Criação de material didático para disciplinas de BIM – Building Information Modeling do curso de Arquitetura e Urbanismo na UEL”. O projeto foca em softwares específicos, como o Revit, para a elaboração dos mais variados projetos, não apenas arquitetônicos. Além de criar uma apostila digital, já usada em sala de aula, o professor prepara um repositório e um site para hospedar o material e disponibilizá-lo.

Processo inteligente

A história do BIM teve início em 1974, quando foi criado no Instituto de Tecnologia da Georgia (EUA) o BDS (Building Description System), um passo para chegar ao BIM, em 1986. No ano seguinte, foi lançado o Archicad, um software amplamente usado até hoje por profissionais e escolas de Arquitetura. “O BIM chegou ao Brasil em 2007 e o Revit é o software com a tecnologia BIM mais utilizado por profissionais no mundo”, relata Ivanóe.

Reprodução.

O BIM não é apenas um software, mas, sim, um processo inteligente de criar e gerenciar informações a fim de produzir uma representação digital (um projeto) com grande riqueza de detalhes e de dados. Com ele, arquitetos e engenheiros podem trabalhar em seus próprios projetos (arquitetônico, paisagístico, hidráulico, elétrico, estrutural etc.) que depois podem ser reunidos e avaliados por um gerente de projetos – cada um em seu local de trabalho. Antes, um mesmo projeto (como uma residência) poderia usar dúzias de folhas de papel e todas tinham que ser sobrepostas ou comparadas lado a lado para ajustes e correções.

Importantes obras já foram erguidas com o BIM. Um exemplo dado pelo professor é o Projeto Sirius (Unicamp), um acelerador de partículas, considerado a maior e mais complexa infraestrutura científica já construída no país. “O Centro de Ensino e Pesquisa Albert Einstein também utilizou o BIM em sua edificação, que vai abrigar a Faculdade Israelita de Ciências da Saúde Albert Einstein e os pesquisadores da instituição. E o Senai já tem realizado o projeto e execução de suas escolas profissionalizantes totalmente com a metodologia BIM”, conta o professor.

Ivanóe destaca o uso do BIM no período de isolamento provocado pela pandemia. “Foi a metodologia mais indicada para projetos porque permitiu uma construção mais rápida e eficiente. Tendo em vista essa urgência, uma das obras construídas com o BIM foi o hospital do M’boi Mirim, em São Paulo, com 100 leitos”, informa.
Ainda assim, o BIM ainda não é largamente utilizado no país, até porque a obrigatoriedade de seu uso data do ano de 2020, quando o Decreto 10.306 (02.04.20) determinou o uso do sistema para a execução de obras e serviços de engenharia realizados, direta ou indiretamente, pelos órgãos e pelas entidades da administração pública federal. Desde 1º de janeiro de 2021, o BIM deve ser empregado no desenvolvimento de projetos de arquitetura e engenharia. E a partir de 1º de janeiro do ano que vem, também obrigatório na gestão de obras. “Só para comparar, o BIM se tornou obrigatório em todos os projetos federais dos EUA, exceto os edifícios militares, em 2006”, acrescenta Ivanóe.

“O BIM é um sistema que ajuda até na lisura dos projetos contratados pelo poder público”,
afirma o professor Ivanóe de Cunto.

Do material ao preço

Um projeto com a metodologia BIM vai muito além de um desenho tridimensional, porque é precedido de extensa pesquisa (como qualquer projeto convencional) e alimentado com dados disponibilizados apenas com alguns cliques. Por exemplo: ao clicar sobre o desenho de uma janela, o BIM pode informar o material, dimensões, fabricante e até seu custo. Caso o cliente queira aumentar ou retirar a janela, o modelo recalcula tudo imediatamente.

Ora, o BIM afinal é um jogo de construção? Bem parecido, explica o professor. De fato, ele aponta para uma dimensão lúdica, positiva para os alunos, que já chegam ao curso com experiência em jogos. “Um projeto terá uma espécie de ‘biblioteca’ de tipos de paredes e janelas, e basta escolher entre o ‘cardápio’ de opções”, expõe.
O que antes, nas representações, eram apenas linhas, com o BIM são paredes, portas, janelas, telhados, pisos. Assim, problemas podem ser detectados muito antes de iniciar a obra. Com isso, empresas construtoras podem evitar desperdício de material, retrabalho e, naturalmente, gastos indesejáveis. Outro ponto positivo é que, diferente dos projetos em papel, por exemplo, com o BIM as especificidades impedem “ajustes” fora do conceito original. “Não tem lugar para puxadinhos”, brinca o professor. Isto reflete até na lisura de uma licitação, quando se refere a um projeto e obra públicos.

Extensão

Concluído o material, o professor Ivanóe pensa no uso extensionista, já levando em conta a curricularização da extensão, prestes a ser implantada na UEL. Ele também pretende ampliar e experimentar outros softwares. Até aqui, segundo ele, os estudantes têm apreciado o material. Alguns trabalhos de conclusão de curso já utilizaram o BIM em seus projetos.

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