Bolsista CNPq foca o melhoramento de hortaliças para atender pequenos produtores
Bolsista CNPq foca o melhoramento de hortaliças para atender pequenos produtores
Pesquisas desenvolvidas na UEL buscam criar variedades mais resistentes a pragas, utilizando espécies silvestres como fonte de genesBolsista produtividade em Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico e Extensão Inovadora do CNPq há 15 anos, o professor do Departamento de Agronomia da UEL, Juliano Vilela de Resende, desenvolve pesquisas com melhoramento genético de hortaliças, com foco nas culturas do tomateiro e do morango. Coordenador da Rede Morangos do Brasil, Resende desenvolveu até o momento duas cultivares de morangueiro adaptadas ao clima das regiões produtoras do Brasil. Com a cultura do tomateiro, os trabalhos são voltados para resistência a pragas, biofortificação, durabilidade pós-colheita e resistência ao estresse hídrico.
As pesquisas buscam atender pequenos produtores, denominados familiares, que formam a base da cadeia de produção de hortaliças no Brasil. Formado pela Universidade Federal de Lavras, onde fez todo seu processo de capacitação científica, o professor está na UEL desde 2019, vindo da Unicentro, onde já realizava pesquisas nessa área.
Ele explica que os recursos da bolsa produtividade do CNPq atendem ao Laboratório de Horticultura do Centro de Ciências Agrárias (CCA), onde mais de 20 estudantes de graduação e de pós-graduação participam das atividades. No caso do tomate, os projetos estão divididos em quatro linhas de pesquisa, todas relacionadas ao melhoramento genético do fruto. O Brasil produz anualmente 4,5 milhões de toneladas de tomate, em 60 mil hectares. Esse mercado deve movimentar US$ 207,17 bilhões esse ano e deverá atingir US$ 261,41 bilhões até 2029.
As pesquisas desenvolvidas na UEL buscam criar variedades mais resistentes a pragas, utilizando espécies silvestres como fonte de genes. Outra linha pretende aumentar a vida de prateleira do fruto, considerando que aproximadamente 30% da produção se perde em virtude da logística não adequada.
A terceira linha de pesquisa prevê a biofortificação do fruto, introduzindo genes que aumentam o teor de licopeno, beta caroteno e antocianinas, consideradas substâncias de alto potencial antioxidante (vitamina A). A proposta é criar um tomate ainda mais nutritivo, com efeitos altamente eficazes para a saúde preventiva. A quarta linha busca a criação de um fruto mais resistente ao estresse hídrico.
Rede Morangos
A rede foi criada em 2021 reunindo mais de 50 pesquisadores da UEL, Unicentro e de Institutos de Pesquisa nacionais, para fomentar a produção da fruta no Brasil, desenvolvendo cultivares com potencial produtivo e de fácil adaptação às regiões do país. A iniciativa foi financiada com recursos da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (Seti), por meio da Unidade Gestora do Fundo Paraná (UGF), utilizados na implementação de casas de vegetação, câmaras frias, veículos e equipamentos.
As pesquisas resultaram em duas variedades denominadas Gaia (Mãe-Terra na mitologia grega) e Ceres (deusa romana da agricultura), em fase de registro junto ao Ministério da Agricultura. Segundo o professor Juliano, as duas cultivares foram testadas em cinco estados, destacando-se por serem mais produtivas e de melhor qualidade (sabor). Ele explica que a importância em desenvolver novas variedades está na melhoria da qualidade do produto aliado à eficiência produtiva. No Paraná, pelo menos 3 mil famílias estão envolvidas no cultivo da fruta.
Outro fator importante é que o morango é considerado um alimento elitizado, de baixíssimo consumo por parte das famílias mais pobres. “Quem tem baixo poder aquisitivo quando compra fruta acaba optando por laranja e banana”, explica. Os produtores brasileiros colhem 250 mil toneladas da fruta/ano. Para abastecer a demanda seria necessário dobrar a produção.
Variedade nacional
De acordo com o professor, o primeiro passo para aumento da área de plantio é o desenvolvimento de uma variedade nacional, considerando que a grande parcela das cultivares utilizadas no campo é proveniente dos Estados Unidos. Além de desenvolver um morango brasileiro, os pesquisadores estudam alternativas e técnicas para melhor aproveitamento de áreas ou regiões que tem o clima como limitante.
O professor explica que o morango consumido hoje é colhido ainda verde (parcialmente) para dar tempo de chegar à mesa do consumidor final sem estar em processo de deterioração. Dessa forma a fruta acaba não atingindo o ápice de seu sabor, doce e macio. A logística recomendada pelos pesquisadores prevê o uso da chamada cadeia do frio, ou seja, colher a fruta madura e mantê-la sob refrigeração adequada durante todo o processo de armazenamento, transporte, distribuição, ponto de venda até a mesa do consumidor.
A Rede Morangos do Brasil é coordenada pela UEL em parceria com a Unicentro e possui a participação de instituições como o Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR), Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (EPAGRI), Instituto Agronômico de Campinas (IAC), Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA), Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (EPAMIG), Universidade Federal de Lavras (UFLA), Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais (EMATER) e o Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (INCAPER).