Doutorando da UFPA estuda Literatura de Cordel a partir de acervo da UEL
Doutorando da UFPA estuda Literatura de Cordel a partir de acervo da UEL
Com mais de seis mil títulos, a coleção serve de base para o pesquisador paraense.“Mediação oral da informação, a literatura de cordel paraense em perspectiva”. Este é o tema de pesquisa do paraense Fabrício Alves da Silva, doutorando do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação, da Universidade Federal do Pará (UFPA). Fabrício realiza, na Universidade Estadual de Londrina, a coleta de dados junto ao acervo de Literatura de Cordel do Sistema de Bibliotecas da instituição.
Com mais de seis mil títulos, a UEL possui um dos maiores e mais organizados acervos de Literatura de Cordel no país, coleção que despertou interesse do pesquisador e motivou o desenvolvimento de seus estudos na Universidade. O interesse pelo tema, no entanto, teve início muito antes, desde sua graduação, quando já pesquisava o gênero literário. Foi através dos estudos da professora Sueli Bortolin, docente da Pós-Graduação em Ciência da Informação da UEL, que Fabrício conheceu o programa e submeteu seu projeto de pesquisa.
Em entrevista concedida à Rádio UEL FM e conduzida por Leonardo de Jesus, com supervisão da jornalista Eliete Vanzo, Fabrício, juntamente com Neide Zaninelli, diretora do Sistema de Bibliotecas da Universidade, refletiu sobre as origens do Cordel, suas especificações, o resgate da presença feminina e da oralidade do gênero e o vasto acervo disponibilizado pela universidade.
Confira a seguir alguns trechos da conversa:
Leonardo: Como o acervo da UEL tem auxiliado você nas suas pesquisas?
Fabrício: Um dos maiores acervos de literatura de cordel do Brasil é o da UEL e ele também é muito bem organizado, então esse trabalho tem sido facilitado com toda essa expertise da equipe em fazer esse tratamento técnico, isso facilita muito a recuperação.
Seria muito interessante a gente resgatar as histórias das mulheres, porque elas também fazem parte dessa tradição do cordel, mas elas estavam muito mais ligadas aos espaços de oralidade, às declamações, às cantorias, e nem sempre estavam publicando, ou quando publicavam, faziam sobre pseudônimos masculinos. Então, seria interessante também fazer esse resgate, ver que mulheres publicaram, quais usaram pseudônimos, para que a gente possa reinserir nessa historiografia a história dessas mulheres e também dizer que a literatura de cordel não é uma literatura exclusivamente masculina.
Leonardo: Quando você começou a se interessar por esse tipo de literatura? Ela nasce, de fato, na graduação?
Fabrício: Meu avô é um cearense e que gostava muito da literatura de cordel. Na minha infância, eu não tive esse contato, eu convivi pouco com ele. Mas, quando eu entrei na graduação, eu me deparei com isso em Belém do Pará, que nós temos a academia, e os cordelistas estão muito envolvidos com a universidade.
Em um trabalho da graduação, eu pude conhecer um dos cordelistas, que é o Antônio Jura Sesequeira, que é um cordelista muito performático, muito ligado a esses espaços de oralidade e também trabalha muito a questão da Amazônia. Então, isso, para mim, tocou lá no fundo, me identifiquei com aquela poesia e eu vi esse despertar do interesse pela literatura de cordel. Então, fiz o meu TCC sobre esse tema, voltado para acervos também, a importância da presença do cordel em acervos de biblioteca.
Leonardo: Existe algum lugar específico do Brasil em que o Cordel ainda é bem consumido?
Fabrício: O Nordeste, de modo geral, é uma região que respira a literatura de cordel, diariamente, isso é muito presente. Inclusive, em todo o Brasil, existe uma rede de contatos e como os cordelistas nordestinos são aqueles mais apurados nessa estética do cordel, eles mantêm esses contatos com outros cordelistas do Brasil.
Lá no Encontro de Cordelistas da Amazônia, sempre vai algum cordelista nordestino falar sobre a sua trajetória e falar sobre a sua poesia, então as pessoas trocam ideias. Pode parecer fácil, mas é uma poética muito codificada e você tem que seguir aquela estrutura, senão, você não está fazendo cordel.
*Com colaboração de José Eduardo Chirito, estagiário de Jornalismo na COM/UEL.