Pesquisadora investiga efeitos de medicamentos na infância e adolescência sobre a saúde cardiovascular

Pesquisadora investiga efeitos de medicamentos na infância e adolescência sobre a saúde cardiovascular

Pesquisa explora as repercussões do uso de topiramato em roedores, examinando impactos a longo prazo no sistema cardiovascular

Graziela Scalianti Ceravolo, professora do Departamento de Ciências Fisiológicas da UEL, foi recentemente contemplada com a Bolsa Produtividade, um reconhecimento concedido pelo CNPq a pesquisadores de altíssimo nível. Esta é a primeira vez que Ceravolo recebe essa bolsa, consolidando suas contribuições ao campo da Farmacologia, com foco especial no sistema cardiovascular.

O projeto contemplado, intitulado “Avaliações agudas e tardias do metabolismo e dos sistemas cardiovascular e reprodutor de ratos tratados com topiramato na infância ou adolescência”, está no centro de suas investigações atuais. Este estudo busca compreender os efeitos de longo prazo do tratamento com o anticonvulsivante topiramato (TPM) em roedores, analisando os impactos desse medicamento no sistema cardiovascular. Originalmente desenvolvido para tratar convulsões, o topiramato também é utilizado para prevenir enxaquecas e controlar a obesidade, devido à sua capacidade de reduzir o apetite. Sua aparente segurança em fases iniciais da vida levantou questões sobre possíveis efeitos adversos permanentes quando administrado na infância ou adolescência.

“Será que quando uma pessoa é tratada com topiramato na infância ou na adolescência, esse fármaco causa efeitos adversos que se mantêm para a vida toda?” Esta é a pergunta central que orienta a pesquisa de Ceravolo.

Desafios e Descobertas

A professora explica que, embora o topiramato seja considerado relativamente seguro, os resultados preliminares de seu estudo indicam que o tratamento durante a infância pode aumentar o risco de doenças cardiovasculares na vida adulta. “Observamos que ratos tratados com topiramato na infância apresentaram pressão arterial elevada e alterações nos vasos sanguíneos que favorecem a formação de placas de ateroma”, relata. Em contrapartida, o tratamento durante a adolescência não resultou em aumento da pressão arterial, mas revelou problemas vasculares que podem predispor à aterosclerose, uma condição que endurece as artérias devido ao acúmulo de placas de gordura.

Os efeitos adversos observados durante a infância foram mais graves do que aqueles durante a adolescência, o que, segundo a pesquisadora, deve-se às “janelas de plasticidade do desenvolvimento”. “Coisas que acontecem durante a infância e a adolescência podem causar modificações no funcionamento do corpo, que se mantêm ao longo da vida.”, explica.

Impacto e Colaborações

Desde o início do projeto, em 2018, Ceravolo orientou uma defesa de Doutorado e dois Mestrados. Além de colaborações que resultaram em duas defesas de Mestrado adicionais, focadas nos efeitos do tratamento sobre o sistema reprodutor masculino e feminino. O projeto já gerou várias publicações de artigos, entre os estudos mais recentes, estão “Vascular dysfunction programmed in male rats by topiramate during peripubertal period”, publicado na Life Sciences em 2024, e “Topiramate treatment during adolescence induces short and long-term alterations in the reproductive system of female rats”, publicado na Reproductive Toxicology no mesmo ano.

Esses trabalhos evidenciam as repercussões do tratamento com topiramato em diferentes fases do desenvolvimento e suas consequências a longo prazo. As atividades e resultados do projeto também são divulgados no Instagram.

Contribuição para a Saúde Pública

A professora destaca que a relevância do projeto vai além do ambiente acadêmico, contribuindo para uma compreensão mais profunda das doenças cardiovasculares, a principal causa de morte no mundo. “Saber que a exposição a certos medicamentos no início da vida pode aumentar o risco de doenças cardiovasculares acrescenta um novo fator de risco a essa grave questão de saúde pública”, afirma. Ela ressalta que a pesquisa, ao explorar as raízes dessas doenças, se alinha aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, especialmente no que tange à promoção da saúde e bem-estar.

Com a conquista da Bolsa Produtividade, Graziela Scalianti Ceravolo reafirma sua posição como uma pesquisadora de destaque no estudo das interações entre medicamentos e o desenvolvimento de doenças cardiovasculares, contribuindo para o avanço da ciência e da saúde pública.

“Será que quando uma pessoa é tratada com topiramato na infância ou na adolescência, esse fármaco causa efeitos adversos que se mantêm para a vida toda?” questiona a professora Graziela Ceravolo

*Estagiária de Jornalismo na COM

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