Dia do Orgulho Autista: pesquisadora defende protocolo para atender estudantes no Ensino Superior
Dia do Orgulho Autista: pesquisadora defende protocolo para atender estudantes no Ensino Superior
Censo da Educação Superior (2023) demonstrou um total de 9718 estudantes com espectro autista matriculados em uma das 2.580 Universidades do paísA professora Maria Clara de Freitas (Departamento de Psicologia Geral e Análise do Comportamento) é a proponente de um projeto de pesquisa que pretende criar um protocolo de atendimento individualizado para estudantes autistas considerando características comuns de quem apresenta o diagnóstico de Transtorno do Espectro Autista (TEA). O diagnóstico inclui dificuldade de comunicação e de interação social, padrões de comportamento repetitivos e restritos. Segundo os especialistas, essas características podem se manifestar de diversas maneiras, incluindo dificuldade em compreender a comunicação não verbal, apego a rotinas e interesses específicos e sensibilidade a estímulos sensoriais.
Por outro lado, demais estudantes, servidores e professores não estão necessariamente orientados a conviver com essas diferenças. De modo geral não existe essa familiaridade que poderia facilitar as relações pessoais dentro do ambiente acadêmico.
“A comunidade universitária não tem conhecimento sobre a realidade deste público por isso é importante envolver todos, com informações. É preciso dialogar para que saibamos lidar com as diferenças”, defende a professora. O projeto está em fase de tramitação junto ao Comitê de Ética de Pesquisa e deverá ainda passar pela aprovação das instâncias acadêmicas. As atividades iniciam no segundo semestre deste ano. A proposta é começar ouvindo os próprios estudantes com TEA para verificar as demandas, considerando barreiras e dificuldades.
O dia 18 de junho, esta quarta-feira, é considerado Dia do Orgulho Autista, uma iniciativa do grupo “Aspies for Freedom”, do Reino Unido, e que se espalhou por vários países como forma de difundir a conscientização sobre a neurodiversidade e a luta por direitos e contra preconceitos. Já o dia 2 de abril é o Dia Mundial de Conscientização do Autismo, uma data estabelecida pela Organização das Nações Unidas em 2007 para promover a conscientização sobre o Transtorno do Espectro Autista (TEA).
Protocolo
O projeto contará com a participação de outros professores do Departamento, além de estudantes de graduação e de pós-graduação do curso de Psicologia da UEL. A ideia é criar um modelo ou protocolo de atendimento e acompanhamento do aluno com TEA, com foco no relacionamento dentro do ambiente acadêmico, contribuindo para a qualidade de vida e a permanência do estudante durante a graduação.
“Existe pouca literatura sobre Educação Especial no Ensino Superior, que é considerada uma modalidade transversal, presente em todos os níveis de ensino”, define. A pesquisadora cita ainda que a UEL é uma das poucas a contar estruturas específicas, como o Núcleo de Acessibilidade (NAC), vinculado à Pró-reitoria de Graduação (Prograd), que desenvolve ações e acompanham pessoas com deficiência (Pcd), incluindo os autistas.

A pesquisadora afirma ainda que a importância em deter informações sobre a características de uma pessoa com TEA está relacionada ao atendimento das necessidades individuais, que podem garantir a permanência no Ensino Superior. “O professor pode pensar que o fato de um estudante estar fora de um grupo de trabalho não é um problema dele, mas essa é exatamente a dificuldade deste estudante. Essa é uma diferença a ser trabalhada”, explica.
Levantamento
O último Censo da Educação Superior (2023), realizado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), demonstrou um total de 9.718 estudantes com espectro autista matriculados em 2.580 instituições existentes no Brasil. O resultado demonstra um crescimento impressionante considerando que em 2013 as Universidades brasileiras atendiam somente 328 estudantes com o transtorno.
Esse aumento exponencial ocorre também na UEL, que registra um total de 122 universitários autistas matriculados (dados do ano letivo de 2024) contra apenas 12 em 2020, segundo levantamento do Núcleo de Acessibilidade (NAC), da Pró-reitoria de Graduação (Prograd). A expectativa é de que estudantes com Transtorno com Espectro Autista busquem cada vez mais acesso ao Ensino Superior como forma de profissionalização e aquisição do conhecimento. O último Censo Demográfico realizado pelo IBGE (2022) revelou que existem 2,4 milhões de brasileiros com diagnóstico de TEA, o que representa 1,2% da população.
A Lei nº 12.764/2012, conhecida como Lei Berenice Piana, estabelece que o portador de Transtorno do Espectro Autista é considerado pessoa com deficiência para todos os efeitos legais, direitos e oportunidades. No Paraná vale ressaltar a reserva de vagas para pessoas com deficiência (PcD) nos processos seletivos garantido pela Lei Estadual nº 20.443/2020, que determina no mínimo 5% das vagas destinadas a estudantes com deficiência em cursos de graduação e pós-graduação.
Atendimento
Com o objetivo de acompanhar os estudantes, o Nac da UEL oferece alguns atendimentos e atividades como o Programa Permanente de Desenvolvimento de Habilidades e Competências Sociais e Acadêmicas e pelo menos quatro grupos de apoio para trabalhar com estudantes com dificuldades de aprendizagem, com altas habilidades, para aqueles com dificuldades de mobilidade e um específico para autistas, o InclusivaMente, em parceria com o PGAC. Além dessas ações, segundo a coordenadora do Núcleo, Ingrid Ausec, existem ainda duas prestações de serviços individualizadas como mentoria (para orientação sobre serviços oferecidos pela Universidade) e estudo assistido (o aluno pode agendar orientação individual).
Segundo Ingrid, os Colegiados de Curso, bem como os professores são informados dos estudantes com TEA devidamente matriculados. O objetivo é colocar a estrutura do NAC à disposição considerando que a legislação garante suporte para as atividades acadêmicas que pode incluir prova adaptada e até tempo extra para o estudante.

Além disso, o Grupo de Apoio Inclusivamente está em fase final de redação da “Carta para o meu professor”, que será distribuída pelos estudantes com TEA. O documento pretende disseminar informações para auxiliar na superação de barreiras e alternativas para contornar reações intensas a sobrecargas emocionais, explosões de raiva, choro, agressividade e desligamento.
Condição
O Transtorno do Espectro Autista é um distúrbio do neurodesenvolvimento. A condição demanda metodologias de aprendizagem específicas, que variam de pessoa para pessoa. Existe a necessidade de fazer adaptações para estudantes TEA que tenham alguma diferença na forma de aprendizagem, seja na linguagem oral, escrita, no contato visual entre outras situações.