Projeto faz mapeamento de autoras de dramaturgia londrinenses
Projeto faz mapeamento de autoras de dramaturgia londrinenses
Projeto "Dramaturgia e teatro contemporâneo e suas experimentações" busca saber quem são as mulheres autoras de dramaturgia em Londrina.A atriz Ana Karina Barbieri graduou-se em Artes Cênicas pela UEL em 2014 e, desde então, já produziu peças de teatro como artista independente na cidade. “Não me considero uma escritora, pois construo a dramaturgia na sala de ensaio, em conjunto. Não sento para escrever uma peça”, afirma a atriz, que já teve peças encenadas em festivais pela cidade, como o Festival Internacional de Londrina (Filo).
Assim como Ana Karina, muitas mulheres em Londrina seguem produzindo, a despeito da falta de visibilidade. A atriz é uma das participantes do projeto de pesquisa “Dramaturgia e teatro contemporâneo e suas experimentações”, coordenado pela professora Sonia Pascolati, do Departamento de Letras Vernáculas e Clássicas (CLCH). O projeto parte de uma pergunta bastante simples e pertinente para justificar sua atividade: quem e quantas são as mulheres autoras de dramaturgia de Londrina?
A partir dessas questões, o projeto buscou mapear as escritoras de textos de dramaturgia na cidade, em um primeiro momento. Na segunda etapa, concentrou-se em reunir os textos dessas autoras, enviados por elas mesmas à equipe do projeto, e estudá-los em reuniões quinzenais, feitas pelas cerca de 10 integrantes do projeto (todas mulheres, atualmente). O número de autoras, segundo Sonia, é expressivo, mas muitas vezes desconhecido da população. “As próprias mulheres, ao serem questionadas por nós, não se reconhecem como autoras de dramaturgia. Uma das entrevistadas até questionou: mas temos autoras de textos de teatro em Londrina?”.
Cavando espaços
Os números falam por si: existem muitas autoras na cidade, embora elas ainda não tenham a devida visibilidade e tenham que cavar espaços para serem encontradas. A estudante do Curso de Letras e integrante do projeto Adalgiza Arantes Loureiro vai para o terceiro ano de estudos sobre textos de dramaturgia em Londrina e reúne, em sua Iniciação Científica, 40 textos de um total de 65 textos mencionados em entrevistas por 31 autoras da cidade (parte deles não foi disponibilizada para estudo). “A cada entrevista, com uma autora, puxamos um fio para outra entrevista e, se encontramos mais autoras, vamos atrás delas”, explicou.
A Iniciação Científica de Adalgiza, um projeto derivado do projeto de extensão coordenado pela professora Sonia, concentra-se na identificação das temáticas tratadas nos textos para teatro. O levantamento de Adalgiza comprovou que a maioria dos textos trata de temáticas como violência e questões envolvendo identidade racial, por exemplo. Outra temática abordada com frequência é dos textos escolares, muitos produzidos por professoras. “Elas, às vezes, constroem esses textos junto com as crianças, em sala”, comenta.
Esse texto é meu?
Esse processo dialógico e conjunto de produção, ainda segundo as pesquisadoras, é o que faz com que muitas mulheres autoras se questionem se são autoras ou não. “Até pela própria conceituação do que é a dramaturgia contemporânea, elas não se sentiam, no início, pertencentes a esse universo de autoras”, explicou Sonia. Por isso, o próprio autoconhecimento e autoafirmação ficam prejudicados.
O projeto deve entrevistar, ainda, mais 10 autoras da cidade, e o número pode aumentar caso surjam mais interessadas no percurso. Após a análise desses textos, o grupo tem a intenção de, futuramente, publicar uma coletânea com alguns dos textos analisados no projeto. “Isso é importante para fixar a produção dessas mulheres, fazer com que elas tenham a devida visibilidade com uma produção física”, avaliou Sonia.
A despeito de não se considerar uma autora, Ana Karina incursiona com muita frequência nos meandros da criação artística. Ela escreveu a peça autobiográfica “Na gaveta de baixo”, que estreou em 2019 e já foi apresentada mais de 20 vezes em cidades do Paraná e São Paulo. O solo faz uma referência à escritora Clarice Lispector e à dançarina moderna Martha Graham, que, como vozes femininas, ecoam no “corpo-atriz” de Ana.