Teses de Doutorado defendidas na UEL são destaque no Prêmio Capes 2024
Teses de Doutorado defendidas na UEL são destaque no Prêmio Capes 2024
Os trabalhos foram desenvolvidos em programas de pós-graduação sediados no CEFE e no CTU e poderão embasar estratégias para novos tratamentos de saúde.A Universidade Estadual de Londrina celebra o excelente resultado dos seus docentes e alunos de pós-graduação no Prêmio Capes de Teses 2024. Neste ano, duas teses de conclusão de Doutorado orientadas na UEL receberam menções honrosas por sua originalidade e relevância para o desenvolvimento científico, e reafirmam o papel da UEL como instituição de excelência na pesquisa e na pós-graduação para o País. Os dois trabalhos foram desenvolvidos em Programas de Pós-graduação sediados nos Centros de Educação Física e Esportes (Cefe) e Tecnologia e Urbanismo (CTU), e poderão embasar estratégias para novos tratamentos de saúde.
Na edição de 2024 do Prêmio Capes de Teses, mais de 1,6 mil doutores submeteram suas publicações. Do total, 49 foram premiadas – uma em cada categoria do prêmio – e 97 receberam menções honrosas. A lista completa pode ser conferida neste endereço.
O Prêmio Capes de Teses foi entregue pela primeira vez em 2006 e aplaude os melhores trabalhos em todo o território nacional adotando os seguintes critérios: originalidade, relevância para o desenvolvimento científico, tecnológico, cultural e social, metodologia utilizada, qualidade da redação, organização do texto e qualidade e quantidade de publicações decorrentes da tese. Seu principal objetivo é aumentar a visibilidade das ações positivas e indutoras da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).
Fisioterapia
De autoria do professor Alexandre Roberto Marcondes Pelegrinelli, da área de Fisioterapia, uma das teses foi defendida com o título “Forças de Contato no Joelho e Análise da Demanda Muscular Durante Atividades Funcionais em Pacientes com Osteoartrite de Joelho: análises com modelo musculoesquelético”. O estudo foi orientado pelo docente do Departamento de Ciências dos Esportes da UEL, Felipe Arruda Moura e parte da pesquisa foi produzida na Universidade Ottawa, capital do Canadá, com a supervisão do professor Mario Lamontagne.
Atualmente coordenador do curso de Fisioterapia da Universidade Positivo em Londrina, Alexandre é egresso do Centro de Ciências da Saúde da UEL e do Programa de Pós-graduação em Educação Física UEL-UEM, onde já havia concluído o Mestrado.
Sua tese de Doutorado objetiva analisar a intensidade, distribuição e alterações da força empregada sobre os joelhos por indivíduos afetados pela Osteoartrite (OA) em atividades como a caminhada, sentar e levantar. Para além disso, seu objetivo foi também desenvolver um modelo de predição baseado em aprendizagem de máquina para identificar as variáveis cinemáticas e cinéticas mais relevantes e testar a capacidade de predizer os picos de força tibiofemoral.
Neste sentido, Pelegrinelli desenvolveu três estudos principais de modo que a Osteoartrite apareceu como um objeto de análise em decorrência da sua predominância na população. Só para se ter uma ideia, 12% da população mundial poderá desenvolver a doença, conhecida por causar o desgaste da cartilagem que reveste as articulações dos joelhos e a redução da função e qualidade de vida dos pacientes, principalmente a partir dos 40 anos, com ainda mais gravidade em indivíduos obesos. “Meu desejo era trabalhar com modelos de predição e simulação do movimento humano, então primeiro pensei no método a ser proposto e depois na ideia de estudar a doença”, conta.
Os três estudos seguem uma sequência lógica partindo do desenvolvimento de um modelo próprio para predizer a força de contato vertical no joelho e nos compartimentos medial e lateral da articulação. Para tal, Alexandre reuniu dados de outros modelos e utilizou um software relativamente novo – de 2008 – que permite estimar as forças internas do corpo. “Normalmente, medimos a força que o nosso corpo coloca no chão por meio de um instrumento. Hoje em dia, com Inteligência Artificial e métodos de predição, conseguimos estimar o quanto de força está incidindo sobre o joelho durante cada passo”, exemplifica.
Já os objetivos dos dois estudos seguintes foram entender as alterações na força de contato e da demanda muscular durante a marcha, bem como em atividades básicas – levantar e sentar – respectivamente. Para isso, o pesquisador adotou o modelo musculoesquelético desenvolvido anteriormente, realizando uma comparação dos níveis de força entre indivíduos com e sem os sintomas, o chamado grupo controle.
“A artrose – nome popular da Osteoartrite – começa na parte de dentro e medial do joelho e os estudos mostraram que as pessoas com osteoartrite deslocavam a força para a região lateral do joelho, o que pode ocasionar novas lesões ou aprofundar as já existentes, uma vez que a lateral não está preparada para a carga. Percebemos uma tentativa de evitar ou minimizar a dor”, menciona.
Outra estratégia compensatória relatada na tese envolve impor maior carga sobre o membro não afetado pela Osteoartrite em comparação ao lesionado. “A tendência é começar em um e evoluir para o outro membro. Em algumas pessoas não, mas grande parte dos indivíduos irão desenvolver OA no joelho saudável em até dois anos desde o aparecimento dos primeiros sintomas”, explica.
Embora os objetivos do estudo não tenham envolvido a apresentação de um tratamento para a doença, o pesquisador aponta a necessidade de treinamento de força para a musculatura extensora e flexora do joelho como estratégia de prevenir o aparecimento dos sintomas graves. Já na fase mais avançada, o acompanhamento com profissional fisioterapeuta se mostra fundamental.
Questionado sobre quais aspectos da tese foram fundamentais para o bom resultado no prêmio, Alexandre cita aspectos envolvendo a metodologia, a relevância da OA e sua pontuação com publicações pregressas. “Estamos publicando os trabalhos em periódicos bons, e com premiações em congressos, então acredito que esse mérito impactou no resultado”, comemora.
Bioengenharia
Em 2024, a Capes também fez menção honrosa à tese de Doutorado cujo significado para o seu autor extrapola a mera busca por um novo título acadêmico e até traz um significado ainda maior à paternidade.
Engenheiro civil atuando no ramo imobiliário, Paulo Cesar Duarte Júnior decidiu iniciar as pesquisas na área de Engenharia Biomédica com o objetivo de colaborar com a Cardiologia. Este redirecionamento foi impulsionado pelo diagnóstico de Síndrome do Coração Esquerdo Hipoplásico (SCEH) em seu filho recém-nascido, ainda com 30 semanas de gestação, em 2016. A história pessoal é digna de um roteiro cinematográfico e foi contada pela primeira vez em junho de 2023, pela agência UEL.
“A motivação foi a busca por uma solução mais simples e eficaz para o tratamento da Síndrome de Coração Esquerdo Hipoplásico (SCEH), reduzindo o tradicional tratamento estagiado de três cirurgias para apenas uma. Dedico este prêmio aos pais e às crianças que, infelizmente, não conseguiram receber o tratamento adequado. Meu objetivo de vida é desenvolver métodos, ferramentas e materiais que simplifiquem tratamentos médicos complexos, permitindo que um número ainda maior de crianças tenha acesso a cuidados mais eficientes e menos invasivos”, diz o engenheiro.
A referência ao custo dos tratamentos de alta complexidade é feita com o conhecimento de quem precisou permanecer internado ao lado do filho, que também se chama Paulo, por quatro meses. O pequeno bebê de poucos meses de vida passou por quatro cirurgias, duas direcionadas ao tratamento da cardiopatia e duas para o correto reposicionamento do diafragma, no hospital Beneficência Portuguesa, em São Paulo. Os procedimentos – Cirurgia de Glenn e Cirurgia de Fontan – fazem parte de uma complexa estratégia e passaram a ser alvo das pesquisas na tese de doutorado, que foi orientada pelo docente do Departamento de Construção Civil (CTU) e do Programa de Pós-graduação em Engenharia Civil da UEL, Hemerson Donizete Pinheiro e coorientado pelo docente da Universidade Federal de Minas Gerais, Rudolf Huebner.
Defendida com o título “Proposta de Planejamento Cirúrgico de Fontan baseado em Estudos Numéricos e Hemodinâmicos Tridimensionais”, a tese traz uma metodologia inédita que tem o objetivo de embasar novos tratamentos médicos e cirúrgicos. Esta metodologia considera o comportamento das estruturas do sistema cardiovascular (coração e vasos sanguíneos), adota uma modelagem numérica do fluxo cardiovascular e realiza simulações computacionais. Outro objetivo fundamental foi desenvolver o arcabouço teórico para o surgimento de novas ferramentas, como dispositivos biomédicos e tecnologias avançadas em imagens médicas com capacidade de processamento computacional.
Paulo acrescenta que a modelagem do fluxo cardiovascular opera com base em conhecimentos envolvidos na Dinâmica de Fluidos Computacional (CFD), cujos conceitos, equações algébricas e sistemas de equações lineares também são aplicados às indústrias naval e aeronáutica.
Metodologia inédita
Desta forma, por meio de uma perspectiva multidisciplinar e contando apenas com recursos próprios, que o engenheiro desenvolveu uma metodologia inédita para o planejamento de cirurgias em pacientes com cardiopatia congênita, doença que atinge dez a cada mil crianças, sendo que 80% dos casos demandam procedimentos cirúrgicos para aumentar as chances dos pacientes.
Com vistas para compartilhar esse conhecimento, a tese, que já se tornou livro, ainda traz tutoriais de todas as ferramentas utilizadas, boa notícia para cirurgiões e engenheiros que desejam se apropriar do método, além de experimentos virtuais.
Questionado sobre quais aspectos acredita terem sido fundamentais para o bom desempenho no Prêmio Capes, ele cita o ineditismo do tema e a profundidade com que explorou os conhecimentos das áreas de Física, Matemática e Biologia. “A tese demonstrou robustez tanto na Medicina quanto na Engenharia. Ter meu trabalho reconhecido em uma área com poucas interseções foi uma conquista notável. O grande desafio, no entanto, foi alcançar um nível adequado de entendimento em ambas as disciplinas. A força do projeto reside justamente na integração bem-sucedida de dois campos tão complexos, resultando em soluções sólidas e inovadoras.” avalia.
Entretanto, para muito além da premiação, a perspectiva do engenheiro, que ainda atua como pesquisador de pós doutorado do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia e docente convidado no PPG em Engenharia Civil da UEL, é seguir colaborando com um grupo de estudos cujo foco é desenvolver enxertos vasculares de tecidos de engenharia que poderão provocar uma transformação nos procedimentos cirúrgicos.
Graças ao resultados alcançados, destaca o engenheiro, outros projetos colaborativos foram iniciados, posicionando a Universidade Estadual de Londrina ao lado de tradicionais instituições do País na busca por soluções de alta complexidade. Este trabalho envolve a Universidade de São Paulo (USP) e as universidades federais de Santa Catarina (UFSC), Minas Gerais (UFMG) e Rio de Janeiro (UFRJ).
“Estamos trabalhando com uma equipe multidisciplinar composta por médicos, engenheiros químicos, de materiais e mecânicos, além de pesquisadores da UEL como, Miriam Sumini (CCB), e os professores Alexandre Murakami (Departamento de Clínica Cirúrgica), Caio Abércio da Silva (Departamento de Zootecnia) e Guilherme Schiess Cardoso (Departamento de Clínicas Veterinárias)”, adianta.