Aceitação de carne cultivada é tema de debate em grupo de pesquisa da UEL
Aceitação de carne cultivada é tema de debate em grupo de pesquisa da UEL
O Grupo de Pesquisa e Análise de Carne (GPAC) da UEL formulou um trabalho científico para descobrir se o público vegano e vegetariano está inclinado a aceitar a carne produzida em laboratórioO Grupo de Pesquisa e Análise de Carne (GPAC) da Universidade Estadual de Londrina (UEL) elaborou um trabalho científico para debater a chamada “carne cultivada” como alternativa para o público vegano e vegetariano. As discussões sobre o tema ocorrem semanalmente com estudantes de graduação e pós-graduação da universidade, que consideram na pesquisa a qualidade e os processos de criação da carne não convencional, o bem-estar animal, a viabilidade da produção e os desafios ambientais.
Vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal, do Centro de Ciências Agrárias (CCA) da UEL, o projeto é coordenado pela professora Ana Maria Bridi, que possui doutorado em Zootecnia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), e faz parte da tese de doutorado da aluna Natalia Nami Ogawa, do Programa de Ciência Animal.
Segundo Bridi, inicialmente a proposta buscava entender melhor o conceito da carne cultivada, como as vantagens, desafios e até os possíveis impactos. Entretanto, o tema despertou muito interesse do grupo, que decidiu aprofundá-lo para além das discussões.
Foi então que eles elaboraram as primeiras atividades que levaram até à decisão do melhor termo para se referir à carne. “A gente fez algumas dinâmicas para ver qual seria o melhor nome, depois a gente foi estudar e mostrar, por exemplo, que o termo ‘carne de laboratório’ tem uma rejeição muito grande. Começamos a ver o porquê, quais eram os motivos para criar uma carne laboratorial”, explicou.

Debates
As atividades e os debates também se desdobraram em outros aspectos, como o impacto ambiental na produção tradicional de carne, especialmente bovina. A professora explica que no processo de digestão, produzem e arrotam metano, que é um dos gases considerados como agentes causadores do aquecimento global. “Também porque a demanda por carne é cada vez maior e seria necessário aumentar a área agrícola para atender os rebanhos e produzir soja e milho para eles comerem”, afirma. Por abordar essa temática, o projeto possui aderência aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), da Organização das Nações Unidas, promovendo a Agricultura Sustentável.
Os debates do grupo sobre o tema se estenderam por cerca de cinco semanas, até que surgiu a abertura para novas linhas de pesquisa. Bridi lembra que uma aluna de mestrado que trabalhava com o bem-estar de suínos se interessou pelo assunto. Da mesma forma, um ex-aluno que tinha recém terminado o doutorado e que estava trabalhando na produção de carne de laboratório com um pool de universidades, envolvendo a Pontifícia Universidade Católica (PUC) de Curitiba e a Universidade Federal do Paraná (UFPR). “Nós temos duas bolsistas do Programa de Iniciação Científica (ProIC), que estão trabalhando, nos ajudando nesse projeto”, acrescentou.
Veganos e vegetarianos
Bridi também explica que os debates evoluíram até sobre a aceitação do público vegetariano, que não se alimenta de carne; e vegano, que não consome nenhum produto de origem animal, incluindo derivados. “Nós tivemos interesse em saber, porque tem muita gente que não come carne porque acredita que o sofrimento do animal ou de uma espécie não justifica o consumo para outra. Então, nós ficamos curiosos. E se essa carne fosse cultivada em laboratório? Esse público iria consumir ou não?”.

A partir daí, o grupo elaborou um questionário, cujas respostas serão abordadas em um artigo que faz parte da tese de doutorado da orientanda de Bridi, Natalia Nami Ogawa, no Programa de Ciência Animal. A estudante é bolsista pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e recentemente passou seis meses no Japão durante seu doutorado sanduíche, trabalhando com a produção da carne cultivada. O questionário volta as perguntas ao público vegano e vegetariano para verificar se eles estariam dispostos a experimentar e até mesmo consumir com regularidade a carne cultivada.
Além da abertura ao consumo, o questionário também se aprofunda se esse público tem conhecimento sobre o método de produção e outras características do alimento. “Se eles sabem o valor nutricional, como é que é produzido, outros nomes que é chamado. Porque até aqui no Brasil a gente sabe que tem empresas que estão investindo muito dinheiro para a produção dessa carne cultivada”, explica a professora.
O questionário elaborado então passou pelo Comitê de Ética em Pesquisa Envolvendo Seres Humanos (CEP) e posteriormente teve o parecer aprovado na Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação (PROPPG) da UEL. Atualmente, segundo Bridi, o grupo enviou o questionário ao maior número de pessoas possível, buscando atingir um grande público em todo o Brasil. “Nós já recebemos as respostas, agora estamos na fase de analisar essas respostas para entender o que o público vegano e vegetariano acha sobre o assunto”, conclui.
Sobre o GPAC
O GPAC funciona como um programa de formação complementar que reúne alunos dos cursos de Medicina Veterinária, Zootecnia e dos programas de mestrado e doutorado em Ciência Animal. O grupo se reúne às terças-feiras por cerca de uma hora para debates e atividades envolvendo pesquisa acadêmica.
Na última terça-feira (8) Ana Bridi coordenou o simpósio Carne Bovina – Produção e Inovação, realizado no Pavilhão Smart Agro, na ExpoLondrina, onde Natalia Ogawa palestrou sobre carne cultivada para o público.

(*Estagiário de Jornalismo da Coordenadoria de Comunicação Social).