O primeiro violino: a trajetória e o legado do spalla búlgaro da Osuel

O primeiro violino: a trajetória e o legado do spalla búlgaro da Osuel

Evgueni Ratchev despede-se da Orquestra com concerto especial que marca o fim dos trabalhos e homenageia sua longa trajetória musical.

Natural da Bulgária, o violinista e maestro Evgueni Nikolaev Ratchev atua como spalla (principal violinista da orquestra e chefe do naipe dos primeiros-violinos) e regente na Orquestra Sinfônica da Universidade Estadual de Londrina (Osuel) há 27 anos. Neste sábado (13), realizará seu último concerto à frente da orquestra. Músico de profissão e alma, Evgueni tem sua trajetória musical em muitos momentos entrelaçada junto à pessoal, compondo a grande sinfonia que forma a sua vida.

Ainda na infância, Evgueni teve o seu primeiro contato com a música, sem saber ainda que ela o acompanharia por toda a existência. Sua mãe cantava em corais pela cidade e seu pai dominava o bandolim, além de tocar um pouco de violino – ambos de maneira amadora. Mesmo jovem, seus pais o orientaram ao estudo do violino e também a outros instrumentos, como piano, acordeom e, como seu pai, o bandolim, mesmo que sem pretensão de profissionalização. Com o apoio da família e incentivo dos professores, essa grande paixão cresceu e, posteriormente, tornou-se sua profissão.

Anos depois, ainda na Bulgária, o violinista concluiu sua graduação e mestrado em violino na Academia Superior de Música em Sófia, capital da Bulgária. Lá, também integrou como spalla e solista uma das mais importantes orquestras de câmara da Bulgária, a “Stúdio Concertante”, com a qual viajou pela Europa e pelo mundo.

Durante sua especialização, teve a oportunidade de passar por diversos países da Europa, como a Alemanha. O spalla guarda com carinho a recordação de estudar na cidade de Weinberg, com o professor de violino Fritz Ehlers. Também teve passagem por países como Itália e Suíça, onde pode aperfeiçoar ainda mais seus estudos em violino e em regência.

Da Bulgária para o Brasil. Ratchev acumula uma trajetória musical de sucesso como violinista (Foto: Divulgação)

De Sófia para Belém

Evgueni deixou a Bulgária através de um contrato firmado entre o Governo do Pará e a Secretaria de Cultura da Bulgária, no ano de 1987. Já em solo brasileiro, o violinista fundou um “Quarteto de Cordas de Belém”, pelo qual atuou e viajou pelo Brasil com vários espetáculos. Em Belém, onde morou por cerca de nove anos com sua esposa Irina Ratchev, pianista da Osuel, e posteriormente com seus filhos, Evgueni deu aulas na Fundação Carlos Gomes, que é referência na capacitação de instrumentistas no Brasil, e também foi um dos responsáveis pela criação da Orquestra de Câmara do Pará, onde atuou como regente e spalla.

Sua chegada ao Brasil, mesmo que bem estruturada, não deixou de ter dificuldades em um primeiro momento. O idioma, sem dúvidas, foi uma barreira a ser superada pelo violinista: Evgueni nunca havia estudado a língua portuguesa e nem ao menos encontrava dicionários em sua língua materna para dar suporte em seus primeiros momentos no novo país. Através de um dicionário português-russo (outra língua pela qual era capaz de se comunicar), buscava palavras para o apoiar no dia-a-dia. Com o auxílio das amizades que criou na cidade que o acolheu, foi capaz de se adaptar e desenvolver sua expressão vocal, além de expandir o vocabulário em português. 

De Belém para Londrina

A história de Evgueni em Londrina é antiga. O músico já tinha visitado a cidade graças a convites para a participação no Festival de Música de Londrina (FML), onde participou diversas vezes como professor convidado, e desenvolveu um apreço pela cidade. Por isso, no ano de 1996, prestou e foi aprovado no concurso para a vaga de violinista e spalla da Osuel e se mudou com a família para compor a orquestra, na época regida pelo maestro Norton Morozowicz.

Desde sua vinda a Londrina, Evgueni não se limitou a atuar apenas na Osuel. É também diretor artístico e spalla da orquestra de câmara “Solistas de Londrina”, orquestra vencedora de diversos prêmios. Em 2003, recebeu o Prêmio Tim de Música, na categoria de Música Erudita, e além de diversos prêmios do Ministério da Cultura. O álbum “Retratos Brasileiros”, que contém obras do compositor Edino Krieger, também foi um dos finalistas da 24ª edição do Prêmio de Música Brasileira, no ano de 2013.

O violinista também foi um dos colaboradores na criação do curso de Música na Universidade Estadual de Maringá (UEM), onde foi um dos primeiros professores de violino do curso de bacharelado em cordas.

Grande incentivador e valorizador da formação profissional dos músicos no país, Evgueni vê Londrina como um grande potencial para a criação de novos talentos na música, ainda que não explorado o suficiente. É enfático quanto à necessidade da formação de uma base artística própria na cidade, que possa também atuar como ponto de alimentação da Osuel, fortalecendo e perpetuando o trabalho que ele mesmo fez e continua fazendo junto à universidade.

Aposentadoria

Evgueni exerceu sua função como spalla, com grande apreço, até o ano de 2019, quando teve de se afastar da posição devido a uma fratura que o levou a fazer duas cirurgias na área cervical, afetando também a sensibilidade de seu braço direito. Desde então, vem se dedicando ao papel de regência, no suporte ao maestro titular. 

E é no posto de regência que Evgueni se despedirá das suas atividades junto à Orquestra. A seis dias de comemorar seu 75º aniversário, Evgueni subirá ao palco do Ouro Verde pela última vez com a Orquestra para realizar um concerto em sua homenagem e despedida. O concerto final, marcado para o dia 13, também contará com a participação do violinista Daniel Guedes, solista convidado e grande amigo do Evgueni, e terá um repertório composto por obras de Strauss, Mozart e Tchaikovsky, obras de apreço pessoal do músico e também do corpo da orquestra, escolhidas com cuidado para compor esse espetáculo tão importante.

Ainda emocionado com a ideia da aposentadoria, Evgueni fez questão de reforçar sua imensa gratidão a todos os setores da Universidade, à Casa de Cultura, e principalmente à Divisão de Música, que o acolheram e permitiram que construísse sua história junto à música em Londrina. Mesmo se despedindo da Osuel, pretende manter algumas atividades junto à Orquestra de Solistas de Londrina, continuar praticando o violino e, é claro, se dedicar à família, mas nunca se afastando da arte que o acompanhou por toda a vida. Em suas próprias palavras: “a música é uma coisa que traz tantas marcas, que a gente carrega e não sente, mas que reflete na gente e fica para sempre”.

Serviço

Data: 13 de maio, sábado (13);
Horário: 20h30;
Local: Cine Teatro Ouro Verde (R. Maranhão, nº 85, Centro de Londrina);
Ingressos: R$ 20,00 (inteira) e R$ 10,00 (meia-entrada). Vendas na bilheteria do teatro.

Divulgação.

*Estagiária de Jornalismo na Casa de Cultura.

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