Uma vida dedicada à Sétima Arte em Londrina

Uma vida dedicada à Sétima Arte em Londrina

O "Cinéfilo Fiél" Carlos Eduardo Lourenço Jorge encerrou carreira na UEL após 47 anos de dedicação à Divisão de Cinema e Vídeo.

No vasto universo do cinema, encontramos personalidades cuja paixão e dedicação são transformadas em conhecimento compartilhado, enriquecendo nossa compreensão e apreciação da sétima arte. Carlos Eduardo Lourenço Jorge é um exemplo disso.

Em sua trajetória de 47 anos como chefe da Divisão de Cinema e Vídeo da Casa de Cultura da UEL, desempenhou um papel fundamental na promoção e no enriquecimento da cultura cinematográfica da cidade, deixando sua marca ao longo das décadas. Seu trabalho como curador e crítico de cinema na universidade chegou ao fim em agosto 2023 devido à aposentadoria compulsória, mas a sua contribuição à história do cinema em Londrina continua por outras vias.

Bacharel em Direito pela UEL e em Cinema pela Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP), Carlos Eduardo desempenha desde 1969, ano em que se formou em Cinema, o papel de crítico no jornal Folha de Londrina, com a coluna fixa “Cinéfilo Fiel”. Desde então, contribui para a formação do público cinéfilo local.

Em 1976, iniciou o trabalho como curador-chefe da Divisão de Cinema e Vídeo da Casa de Cultura da UEL e esteve à frente do comando da programação de salas icônicas de Londrina − Cine Ouro Verde, Cine Vila Rica e Cine Com-Tour/UEL -, apresentando para a cidade uma seleção de filmes digna dos grandes circuitos das capitais. Nos anos 1980, inovou ao introduzir as Sessões da Meia-Noite nos cines Ouro Verde e Vila Rica, oferecendo ao público uma “aventura cinéfila” instigante tanto pelo horário incomum quanto pela qualidade dos filmes, estimulando a formação crítica do espectador. Essas experiências se repetiram no Cine Com-Tour.

42º Festival de Cinema de Gramado – Jornalista Carlos Eduardo Lourenço Jorge durante entrevista (Foto: Cleiton Thiele/PressPhoto)

Sua dedicação ao cinema não se limitou às fronteiras locais. Desde 1995, Carlos Eduardo cobre regularmente os Festivais de Cinema de Cannes e Veneza, levando o nome de Londrina a esses eventos de prestígio internacional e trazendo para a cidade o que há de mais inovador na produção cinematográfica europeia. Sua participação nessas edições foi marcante, proporcionando contatos profissionais, descobertas e emoções únicas, enquanto reportava para Londrina os eventos mais significativos dessas festividades por meio de críticas e entrevistas.

A trajetória de Lourenço Jorge, teve um impacto significativo na formação de um público apreciador de cinema em Londrina. Sua dedicação e compromisso com a oferta de produções cinematográficas alternativas de alta qualidade enriqueceram a experiência cultural da cidade e receberam o carinho e a gratidão do público.

Uma das características marcantes do trabalho de Carlos Lourenço Jorge é sua dedicação à comunidade de cineastas locais. Ele acreditou que Londrina tinha um potencial inexplorado para ser um celeiro de talentos cinematográficos, e dedicou sua vida a nutrir esse potencial. Com seu conhecimento e sua rede de contatos, ele abriu portas para cineastas locais, apresentou-os a oportunidades de financiamento, a festivais de renome e a mentores influentes na indústria cinematográfica.

Cinema sem obviedade

A importância do trabalho de Carlos Eduardo é destacada por Bruno Gehring, um dos fundadores da KinoArts, Instituto de Cinema de Londrina, e coordenador do Festival KinoArts de Cinema. Ele enfatiza que a curadoria de Carlos Eduardo é “essencial para a cidade”, e que é único o espaço na cidade que “foge da obviedade do cinema comercial”. O cineasta também enfatiza a importância da dedicação do curador em proporcionar à cidade um contato com a diversidade cinematográfica global, ampliando o repertório e introduzindo o público aos filmes de várias nações. “Sempre teve uma curadoria de filmes iranianos, europeus, de filmes de outros lugares, além desse olhar atento dele de estar sempre nos grandes festivais de cinema. Ele trazia a novidade da cinematografia mundial para a nossa cidade, então é
essencial para a gente”, afirma.

Em 47 sob a curadoria do crítico, a Divisão de Cinema e Vídeo ofereceu ao público filmes que não passam no circuito comercial. São filmes de nacionalidades e estética cinematográfica diversas, bem como os problemas por eles abordados: questões de gênero, desigualdades, eutanásia, questões ambientais etc. Esta Divisão, embora não esteja vinculada academicamente a algum curso, por meio da permanência do seu trabalho, tem contribuído não só com a formação de público, mas também com a formação de novos cineastas londrinenses, entre eles Bruno Gehring e Rodrigo Grota. Não por acaso, Londrina é berço de um Festival de Cinema e de produtoras de cinema, como a Kinopus e a Kinoarte.

Carlos Eduardo Lourenço Jorge é um profissional de renome, tanto em nível local quanto nacional, comprometido com seu trabalho e a comunidade cinéfila. Atualmente, é o único crítico de cinema da cidade de Londrina que escreve regularmente para um jornal local, e seu foco na escolha de filmes provocadores e que promovam reflexão é evidente em toda a sua trajetória. Seu legado perdurará, já que sua influência se estende além das telas, moldando o cenário cinematográfico local e contribuindo para que Londrina continue como um epicentro cinematográfico, garantindo um futuro próspero à sétima arte na cidade.

*Estagiária de Jornalismo na Casa de Cultura da UEL.

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