Mapeamento de psicólogos escolares na Educação Básica do Paraná é tema de projeto de pesquisa da UEL

Mapeamento de psicólogos escolares na Educação Básica do Paraná é tema de projeto de pesquisa da UEL

O levantamento feito pelo grupo de professoras e alunos do curso de Psicologia irá levantar quais secretarias municipais têm psicólogos escolares

Entender a realidade da atuação dos psicólogos na Educação Básica do Paraná é a proposta de um projeto de pesquisa desenvolvido por professores e alunos do curso de Psicologia, no Departamento de Psicologia Social e Institucional da UEL (CCB-PSI). A partir de um projeto matricial realizado na Universidade de São Paulo, o grupo faz um mapeamento no Estado para identificar quais secretarias municipais têm psicólogos, assim como sua atuação.

O projeto, que teve início em novembro de 2023 e deve seguir até 2026, é coordenado pela professora do curso de Psicologia da UEL, Patrícia Vaz de Lessa, com a colaboração dos estudantes Marina Berg de Araújo, Vitor Romero, Marcos Hiroki Ida, do 2º ano do curso; Laura Canha Borgonha da Silva, Mariana Capucho e Laura Pontes Tsujioka, do 4º ano; e Maria Luíza Nogueira de Alcântara Pereira, do 5º ano.

Origem e andamento do projeto

A professora Patrícia Lessa explica que o projeto matricial se propõe a mapear os psicólogos escolares na Educação Básica no Brasil e América Latina. Já os dados sobre o Paraná ficaram sob responsabilidade do grupo da UEL. “Nesse mapeamento, nós queremos identificar quantos municípios têm psicólogos, quantos psicólogos estão trabalhando nessas secretarias, e daí analisar também a atuação deles”, explica a professora.

De acordo com a aluna Maria Luíza Pereira, o projeto surgiu também da necessidade de entender os efeitos da Lei 13.935/2019 que traz a obrigatoriedade de todos os municípios terem psicólogos e assistentes sociais na equipe pedagógica. “A gente quer analisar qual é o impacto e se os municípios do Paraná já estão trabalhando para que essa lei seja cumprida”, diz a colaboradora.

Na primeira parte do projeto o grupo fez uma pesquisa documental em sites oficiais, buscando informações quantitativas sobre os profissionais ativos. Agora, já na segunda fase, eles estão enviando uma série de questionários às secretarias dos municípios, cujas respostas passarão por avaliação. Na terceira fase, haverá entrevistas dos psicólogos atuantes.

Pesquisa quantitativa e qualitativa

Durante o levantamento feito nos portais da transparência, o grupo conseguiu identificar que nos 399 municípios do Paraná, há 434 psicólogos alocados nas Secretarias Municipais. “Com essa lista de 434 psicólogos, enviamos os questionários via e-mail e recebemos as respostas de 145 e é com esse dado que estamos trabalhando agora os gráficos, tabelas e análise quantitativa”, explica Lessa.

O questionário enviado às secretarias é dividido em seis eixos e investiga desde a formação e produção acadêmica até o tempo e método de atuação de cada profissional. A professora também afirma que o grupo do Paraná foi o que mais teve respostas no Brasil. “O projeto maior envolve Brasil e América Latina, e daí cada Estado ficou com um professor de universidade. Porém, foi a nossa equipe que conseguiu o maior número de retornos, que é esse de 145”, acrescenta a coordenadora.

Todavia, devido a dados incompletos ou incorretos nos portais da transparência, o grupo teve que ampliar a busca. Portanto eles utilizaram e-mails institucionais, WhatsApp e até redes sociais para conseguir entrar em contato com os psicólogos. “Nessa etapa do projeto foi que alguns falavam ‘Eu não estou mais trabalhando, mas eu posso mandar o contato ou nome de quem está’. Então deu pra perceber o quanto que os dados dentro dos portais ainda estão muito desatualizados”, afirmou a aluna Mariana Capucho.

Psicologia Histórico-Cultural

Na próxima etapa do projeto, que consiste nas entrevistas, o grupo verificará a atuação dos psicólogos com relação a temas envolvendo inclusão, bullying, preconceito, saúde mental, assédio e fracasso escolar. A partir das respostas, o grupo investigará se os psicólogos têm uma perspectiva crítica de análise e de contribuição para a sociedade.

Patrícia Lessa diz que a base teórica utilizada para os trabalhos do grupo é a Psicologia Histórico-Cultural, desenvolvida pelo psicólogo russo Lev Vygotsky. Para ele, as questões de ensino e aprendizagem acontecem no meio social, portanto, são influenciadas pelas relações que as pessoas estabelecem.

A professora explica que a análise do contexto amplo que o indivíduo está inserido é essencial para não rotular, individualizar, e até estigmatizar o aluno. “Nós profissionais vamos pensar nesse sujeito que é um sujeito social , não provocando processos de medicalização de questões sociais impostas ao indivíduo”, diz Lessa.

Déficit de profissionais no Paraná

O levantamento feito pelo grupo também serviu para identificar uma discrepância na distribuição dos psicólogos. Segundo Maria Luíza Pereira, atualmente há aproximadamente 100 municípios sem psicólogos escolares. No entanto, em outras regiões, como a área metropolitana de Curitiba, acumulam um grupo de 15 profissionais. “Então esses 434 que nós encontramos é a média, mas isso não quer dizer que dos 399 municípios todos têm psicólogos. Tem município realmente que não tem”, lamenta a aluna.

Outra análise realizada pelo grupo é a de editais de concursos e processos seletivos em um período de 5 anos. Com esses dados, o grupo identificou que há um número expressivo de vagas para psicólogos nos sites dos municípios. Entretanto, são poucos os que especificam para psicólogos escolares. “Na análise dos editais, o que acontecia muito era de citar nas atribuições que o psicólogo deveria trabalhar de uma forma muito ampla em vários setores da cidade, como saúde, escolar, organizacional seja, sendo selecionado poderia ser destinado a trabalhar em qualquer lugar”, afirma a colaboradora Mariana Capucho.

Até o momento, o panorama que o grupo teve desse levantamento foi que nos editais há uma exigência de que o psicólogo possua conhecimento nas diversas áreas da Psicologia, sem ter o foco para a área que está sendo selecionado. “Dois editais, um de Maringá e outro de Pato Branco mencionaram a lei 13.935/2019 e especificam o psicólogo escolar. Então, em geral, os editais exigem uma formação ampla e não especificam nem a Lei 13.935/2019 e nem a área Psicologia Escolar. Esse dado será analisado mais a fundo, mas já é um dado que está escancarado também”, conclui.

*Estagiário de Jornalismo da Coordenadoria de Comunicação Social.

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