Workshop internacional debateu restauração ambiental com pesquisadores da América do Sul
Workshop internacional debateu restauração ambiental com pesquisadores da América do Sul
Congresso recebeu convidados da Argentina e do Paraguai, que apresentaram experiências em conservação e manejo florestalCom participação de pesquisadores da Argentina, Paraguai, Moçambique e de diversos estados brasileiros, o 2º Workshop do projeto NAPI RESTORE marcou o encerramento de um ciclo e o início de novas frentes para a restauração ambiental. O evento foi realizado em junho, no Anfiteatro Cyro Grossi, no Centro de Ciências Biológicas (CCB) da UEL, e integrou a programação do VIII Simpósio de Bioquímica e Biotecnologia (SIMBBTEC), iniciativa apoiada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ), CAPES e pela Fundação Araucária.
Desenvolvido como parte do NAPI Biodiversidade, fomentado também pela Fundação Araucária, o projeto RESTORE — natuRe-basEd SoluTions for imprOving REforestation — tem como foco o desenvolvimento de tecnologias inovadoras para otimizar a restauração de ecossistemas degradados. Com uma programação que alternou mesas de debate e apresentações científicas, o encontro reuniu representantes de instituições públicas, empresas, ONGs e centros de pesquisa.
Na abertura do evento, o coordenador do projeto, professor, Halley Caixeta de Oliveira, destacou a importância de integrar diferentes setores em torno de um desafio comum. “O workshop foi pensado como um momento de fechamento do primeiro ciclo do projeto, mas também de abertura de possibilidades para uma nova etapa, mais conectada com as demandas reais dos setores produtivo e ambiental”, afirmou.

“Foi um espaço de escuta e de construção. Muitas vezes, cada setor trabalha isolado no seu universo. Mas quando colocamos todos na mesma sala, vemos o quanto há possibilidade de colaboração”, destacou ele. Esse mesmo aspecto foi enfatizado pela Assessora de Relações Institucionais e Inovação da Fundação Araucária, professora Cristianne Cordeiro. Segundo ela, o objetivo dos Novos Arranjos em Pesquisa e Inovação – NAPIs – é justamente mobilizar governo, academia, empresas e sociedade civil organizada em torno de um propósito comum.
Um dos destaques do encontro foi a presença de convidados da Argentina e do Paraguai, que apresentaram experiências bem-sucedidas em conservação e manejo florestal. Pesquisadores da Universidad Nacional de Misiones e da startup ReForest Latam, da Argentina, e da organização Axial Naturaleza & Cultura, do Paraguai, participaram de mesas redondas e palestras voltadas ao bioma da Mata Atlântica, que se estende também pelo território paranaense.
A aproximação entre os países, segundo o professor Halley, revelou semelhanças nos desafios enfrentados e potencializou a troca de conhecimentos técnicos. “Foi importante notar como temos inúmeras espécies arbóreas em comum. No entanto os estudos que desenvolvemos têm abordagens diferentes, gerando conhecimentos que se complementam. O compartilhamento desses conhecimentos e a atuação em uma rede trinacional tem um enorme potencial para contribuir para o desenvolvimento sustentável dos três países”.
Para a professora Beatriz Eibl, representante da Facultad de Ciencias Forestales UNaM, da Argentina, o evento foi uma oportunidade de apresentar experiências sobre Técnicas baseadas na natureza para a mitigação ambiental em áreas degradadas da Região Fitogeográfica da Selva Missioneira.
“Foram apresentadas as causas da degradação das florestas e uma abordagem centrada na recuperação dos serviços ecossistêmicos, propondo a recriação de ilhas de biodiversidade (IB) com fins de restauração, conservação, paisagem, conectividade e produção. Também foram descritas pela professora Stefani Suarez, técnicas de restauração a partir da regeneração natural após os últimos incêndios ocorridos na Reserva de Uso Múltiplo Guarani”, conta.
“Com um importante intercâmbio de possibilidades de colaboração conjunta, os grupos de trabalho trocaram experiências durante as apresentações nos estandes e nas visitas técnicas às experiências com erva-mate no próprio campus da UEL, ao Parque Estadual Mata do Godoy — reserva que abriga uma grande diversidade de espécies da Mata Atlântica e os últimos remanescentes locais de exemplares de peroba, espécie emblemática da UEL”, explica a professora.
Sebastian Codas Salinas, porta-voz da AXIAL NATURALEZA & CULTURA do Paraguai, destaca que o workshop configurou um espaço onde o saber científico e o saber tradicional puderam dialogar de igual para igual. “A Mata Atlântica não é apenas um bioma; é um território vivo, moldado por séculos de interação entre a natureza e as comunidades que nela habitam. Para nós da Axial, é impossível pensar em restauração ecológica sem incluir os guardiões ancestrais da floresta. O conhecimento tradicional não é uma peça de museu, é ciência viva, testada pelo tempo, que detém as chaves para a resiliência e a sustentabilidade. Este workshop foi crucial por abrir um espaço onde o saber científico e o saber tradicional puderam dialogar de igual para igual. Acreditamos que a verdadeira inovação nasce desta aliança, garantindo que a conservação da biodiversidade fortaleça também a diversidade cultural que dela depende”, pontua.
Os representantes da Reforest Latam, Henrique Garcia Rocha, Damián Rivadeneira, Milena Bertani e Ignacio Gasparri, por sua vez, enfatizaram que iniciativas como o Workshop possuem enorme potencial da cocriação entre ciência, tecnologia e atores locais. “O RESTORE aporta pesquisa de ponta, conhecimento territorial e validação ecológica. Nós, da ReForest Latam, somamos tecnologia, biotecnologia e experiência operacional em campo. Essa sinergia nos permite desenhar e implementar intervenções com uma abordagem sistêmica e uma precisão inédita. Não se trata apenas de plantar árvores, mas de restaurar funções ecológicas, restabelecer fluxos biológicos e abrir novas oportunidades para as comunidades. Juntos, unimos dados, visão e ação para regenerar ecossistemas onde hoje há degradação e isolamento”, especificam. “Com essa aliança, podemos semear hoje — com precisão — para ver, em poucos anos, paisagens restauradas. E enxergamos no Paraná uma grande oportunidade para demonstrar que essa conecção funciona: tem escala, impacto e sentido estratégico. A ciência já está presente. A tecnologia também. Falta apenas darmos o primeiro passo”.
Integração
Essa articulação com vizinhos sul-americanos será inserida no escopo internacional do projeto, que já mantém parcerias com França, Alemanha e, mais recentemente, Austrália. “A América do Sul passa a ser vista como uma aliada estratégica. Não apenas pela proximidade geográfica, mas porque compartilhamos os mesmos desafios ecológicos. Há muito o que construir juntos”, afirmou Halley. Por isso, foi muito importante a participação também do NAPI Trinacional no evento.
Lila Voeffrey, articuladora argentina do NAPI Trinacional afirma que o evento realizado em junho passado representou o início de uma iniciativa inter-NAPIs (Biodiversidade RESTORE y Trinacional). “A iniciativa foi concebida durante uma visita à cidade de Eldorado em fevereiro deste ano, com a presença dos diretores da Fundação Araucária, Ramiro Wahrhaftig e Marcio Spinoza. Juntamente com pesquisadores locais vinculados às iniciativas que o NAPI Trinacional desenvolve na região desde fevereiro de 2020, no Trinacional se trabalha no alinhamento de estratégias com o objetivo de compartilhar experiências e ampliar possibilidades de intercâmbio, conexão e aplicação dentro da quádrupla hélice de base territorial”, enfatiza.
O projeto NAPI Biodiversidade: RESTORE — sigla para natuRe-basEd SoluTions for imprOving REforestation — representa uma resposta à demanda de iniciativas de restauração florestal, baseada em ciência, tecnologia e cooperação institucional. Coordenado pelo professor Halley Caixeta de Oliveira, o projeto reúne uma rede de instituições, incluindo pesquisadores do estado de São Paulo, da França e da Alemanha, e conta com o aporte da Fundação Araucária e da SETI (Secretaria da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior do Paraná). O foco principal é desenvolver soluções inovadoras para a produção de mudas mais resilientes e para a restauração de solos degradados em áreas de reflorestamento.
(Com informações da Assessoria de Comunicação do projeto NAPI Biodiversidade)