Historiadora media audiovisual sobre conflitos agrários no século XX no PR

Historiadora media audiovisual sobre conflitos agrários no século XX no PR

Coordenadora do projeto "Opening the Archives" participou do lançamento do documentário “As Terras do Paraná". Exposição está à mostra na Capela da UEL.

Nesta segunda-feira (28), a Réplica da Primeira Igreja Matriz de Londrina, no Calçadão da UEL, ambientou um cenário de retorno a um passado secreto. Em meio a diversos arquivos – antes confidenciais – do passado ditatorial brasileiro, o local sediou a exposição audiovisual “As Terras do Paraná: conflitos sob o prisma dos arquivos inéditos do século XX”. O documentário foi possível graças ao trabalho de pesquisadores da UEL, juntamente com a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e a Brown University (EUA).

Marina Adams, doutoranda da Brown University, marcou presença na abertura do evento. A historiadora foi peça fundamental no projeto: coordenadora do “Opening the Archives”, trabalha disponibilizando documentos do Departamento de Estado estadunidense, compilando assim mais de 60.000 arquivos digitalizados pelo programa.

Graduada em Estudos de Gênero e História, Adams largou o pincel e mergulhou nos arquivos. “Isso vem muito de uma história pessoal: comecei nas artes plásticas e, durante um momento político complicado no Brasil, me apaixonei pela teoria de gênero. Consegui achar mais respostas – e mais perguntas – sobre o tópico buscando a história da ditadura”, conta. 

A ação do projeto “Opening the Archives” é de grande importância não só para os trabalhos apresentados na UEL, mas para a grande maioria dos grupos de pesquisadores brasileiros que se interessam pelas relações entre Brasil e Estados Unidos. “Disponibilizamos informações de difícil acesso”, releva Marina. “Dessa forma há uma expansão da ideia de internacionalização, que é entender o Brasil num contexto global dentro da ditadura e como ele influencia outros lugares: uma perspectiva não comparativa, mas, sim, transnacional”.

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Otávio Paes, membro da equipe de pesquisa do Laboratório de Estudos sobre Religião e Religiosidades (LERR), explica mais sobre o processo de investigação: “O grupo tem como foco os Arquivos Inéditos da Ditadura Militar. Nossa principal atividade é pegar os documentos, abrir os arquivos e catalogá-los de acordo com temáticas: comunicação, outros países, movimentos sociais, questões agrárias etc”. 

Gênero e autoritarismo: para além da Ditadura

O objeto principal de estudo levantado por Adams é a relação entre gênero e autoritarismo, particularmente como as mulheres acham espaços de atividade política dentro deste contexto. Para ela, entender essas dinâmicas permite a compreensão de que são processos contínuos, existentes muito antes da ditadura militar. “A ditadura é um momento de inflexão no qual muitos dos fenômenos que pautam a nossa política são sedimentados e constitucionalizados. A ditadura militar está aí como esse grande espectro não falado. Não existe uma predisposição para falar nesses termos justamente por ser um tópico disruptivo: com as normas, com a família etc. Por isso, cabe à história nos permitir falar desses assuntos”.

É um trabalho árduo que está sujeito a diversos desafios. A questão de gênero no contexto autoritário é um tópico já abordado no cenário acadêmico, o que não impede a ocorrência de adversidades durante o processo de pesquisa. “Existe um desafio metodológico do campo de arquivos: as questões envolvendo mulheres não foram exploradas por tanto tempo, de forma extensa. Agora o que mais se faz necessário são ‘análises analíticas’ acerca do gênero no Brasil. Existe uma necessidade metodológica de integração da análise do que falta em vez só da observação”, explica a pesquisadora.

Registrar para conhecer

Um grande propósito do “Opening the Archives” está na materialização dos acontecimentos por meio dos registros. “Há muita coisa que nós meio que sempre soubemos, já que nem sempre a ditadura fazia questão de manter em segredo. Houve muita especulação”, diz Adams. O trabalho do projeto se faz presente em resgatar o passado de maneira tangível para a realidade atual, comprovando a história dos que viveram e foram apagados pelo tempo. “Os documentos são importantes para respaldar esses momentos históricos e para revelar as verdadeiras complexidades desses momentos”.

A doutoranda conclui que a exposição audiovisual é uma obra de disrupção. “Você se depara com vozes, documentos, provas tangíveis de ocorridos que põem em cheque muitas vezes o que se acredita, no caso do Paraná, sobre o próprio estado, e no caso do Brasil, tudo o que tange à ditadura na nossa história política”. A exposição está aberta a visitação até o dia 29 de setembro.

*Estagiária de Jornalismo na COM/UEL.

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