Pesquisa comprova importância do Ambulatório de Estomatologia no diagnóstico do câncer bucal

Pesquisa comprova importância do Ambulatório de Estomatologia no diagnóstico do câncer bucal

Número de atendimentos durante auge da infecção caiu, mas casos de câncer bucal diagnosticados aumentou, segundo projeto da COU.

Em funcionamento na Clínica Odontológica Universitária (COU) da UEL desde 2016, o Ambulatório de Estomatologia é referência no diagnóstico de câncer bucal e de outras doenças que acometem os tecidos da região bucomaxilofacial entre todos os municípios atendidos pela 17ª Regional de Saúde. Os atendimentos são realizados durante as tardes de quartas e sextas-feiras e a equipe é formada por quatro docentes, quatro alunos de pós-graduação e estudantes de graduação do Departamento de Odontologia da UEL.

O chefe de Departamento de Medicina Oral e Odontologia Infantil (CCS) e docente da disciplina de Diagnóstico Oral, Ademar Takahama Júnior, lembra dos desafios enfrentados por todos os funcionários da COU ao longo de 2020, a partir da primeira onda de casos da Covid-19. Amplamente expostos ao vírus SARS-CoV-2, os profissionais da COU precisaram adotar e seguir rigorosamente os protocolos de segurança, redimensionando o atendimento apenas para os casos mais urgentes. A estratégia, conta, exigiu até a utilização de fotografias para a realização da triagem.  

“Como tínhamos essa limitação no atendimento, a UBS entrava em contato e tentávamos fazer uma triagem com fotografias dos pacientes para vermos se eram casos urgentes ou não. Sempre tentamos encaixar os casos mais graves”, lembra o docente.

Diagnóstico

Os dados referentes aos atendimentos durante o período mais grave da pandemia da Covid-19 comprovam a importância do Ambulatório para toda a região, avalia o professor. Isso porque, embora o número de pacientes tenha caído ao longo de 2020, o número de diagnósticos de câncer bucal permaneceu estável em comparação com os anos anteriores.

Estas informações fazem parte do projeto de pesquisa “Impacto da pandemia de Covid-19 nos atendimentos do Ambulatório de Estomatologia da Clínica Odontológica Universitária da UEL”, que foi iniciado pela ex-aluna da graduação Viviane Nascimento Sousa e segue sendo desenvolvido pela aluna do 5º ano e bolsista de Iniciação Científica (IC) Esther Marques.

O levantamento mostra que o número de novos pacientes atendidos cresceu bastante nos anos de 2016 (317), 2017 (438), 2018 (487) e 2019 (466). A principal demanda, quase 40% dos atendimentos, era de pacientes que apresentavam lesões reacionais, seguidos do grupo que apresentava neoplasias benignas (8,7%), desordens potencialmente malignas e doenças infecciosas (8,1%), alterações de desenvolvimento (5,7%), neoplasias malignas (5,5%), cistos (3,2%) e doenças imunologicamente mediadas (1,5%). 

Em 2020, houve queda para 179 atendimentos no Ambulatório. Mesmo assim, afirma Takahama, foi possível diagnosticar 27 casos de câncer bucal em 2021 e outros 19 em 2022. “Conseguindo retornar com os atendimentos e muito provavelmente conseguimos pegar estes casos mais graves. Os casos de câncer, hoje, representam de 5% a 10% dos casos registrados. Na pandemia, conseguimos dar conta destes pacientes que precisavam, mesmo, de atendimento”, avalia. 

Em 2021 e 2022 os números de atendimentos de novos pacientes voltaram a crescer, para 394 e 463, respectivamente. “Outro aspecto observado, mas ainda não estatisticamente comprovado, foi que no final de 2020 começamos a diagnosticar casos de câncer muito severos. Vimos que provavelmente foi aquele paciente que ficou em casa e não procurou atendimento. Há, também, um atraso no diagnóstico”, considera.

Alguns desses casos chamaram a atenção da equipe, lembra o professor, como casos de câncer nos lábios também diagnosticados tardiamente. “Geralmente, era uma ferida pequena, de 1 cm no lado. Já em outro caso, era uma ferida enorme, de 10 cm, e o paciente usava máscaras em casa e não deixava ninguém ver. Casos bem avançados que não víamos antes”, lamenta.

Câncer bucal 

Causado principalmente pelo hábito de fumar, o câncer bucal pode passar despercebido no estágio inicial, quando a doença já se manifesta através de alterações na cor e na textura da mucosa. Assim como na ampla maioria dos tipos de câncer, a demora na procura pelo atendimento é um dos principais desafios, avalia o coordenador do Ambulatório de Estomatologia. Por isso, deve-se procurar atendimento de rotina ao menos uma vez ao ano. 

Atualmente, no Brasil, o câncer bucal é o quinto tipo mais frequente em homens, sendo que 90% dos pacientes diagnosticados são fumantes. O consumo de bebidas alcoólicas, muitas vezes associado ao uso do cigarro, também é um fator de risco para o aparecimento da doença.

Em março deste ano, o Plenário da Câmara dos Deputados aprovou o projeto de lei que institui o mês de julho como o Mês de Conscientização e Promoção da Saúde Bucal. No Paraná, a campanha de conscientização para a prevenção ao câncer de boca é realizada no mês de novembro, com a campanha “Novembro Vermelho”.

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