Musicoterapia para saúde integral é tema de cursos e oficinas do FIML  

Musicoterapia para saúde integral é tema de cursos e oficinas do FIML  

Técnica que utiliza recursos sonoro-musicais para tratamentos tem espaço garantido no Festival de Música. Evento tem apoio da UEL.

Atuar como coadjuvante no tratamento e cuidado de pessoas em situação de estresse, ansiedade e depressão, com a busca por qualidade de vida e até no desenvolvimento das crianças diagnosticadas com Transtorno do Espectro Autista (TEA). Este é o objetivo dos terapeutas que utilizam recursos sonoro-musicais, além da expressão e o movimento, em sessões de musicoterapia. Técnica criada nos Estados Unidos ainda na década de 1940, no contexto de recuperação do bem-estar dos soldados que haviam retornado da Segunda Guerra Mundial, a musicoterapia é tema de cursos e oficinas presentes na grade pedagógica do 43º Festival Internacional de Música de Londrina (FIML), cuja abertura será neste domingo (9), às 20h, no Cine Teatro Ouro Verde, com apresentação da Orquestra Sinfônica da UEL (OSUEL). O festival tem o apoio institucional da Universidade Estadual de Londrina.

Docente na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e líder do Grupo de Pesquisa em Música e Musicoterapia (Gepemusa/CNPQ), Gunnar Glauco De Cunto Carelli Taets pesquisa o tema desde 2010. Doutor em Ciências na área de Enfermagem e Biociências na linha de motricidade humana, também se dedica aos estudos sobre os efeitos biológicos da vibração acústica (som) na promoção da saúde, além de ter a música como ferramenta de expressão desde a sua infância, por influência dos pais. Também é fundador e regente do Coral da Cidade Universitária de Macaé/RJ.

No Festival Internacional de Música de Londrina, Taets irá conduzir dois cursos, além da oficina “Canto Coral – Vivência Interativa em Musicoterapia”, às 18h30, no dia 12 de julho. “O conteúdo trabalhado de manhã vai ser Musicoterapia para Saúde Integral Por Meio do Canto Coral: fundamentos teóricos e práticos. Existem algumas pesquisas publicadas mostrando o efeito para a saúde integral das pessoas que participam do canto coral realizado por um musicoterapeuta. Então, a minha perspectiva vai para além do estético. Minha preocupação é sempre na promoção da saúde, não só biológica, mas psico-sócio-espiritual também”, destaca. 

Qualidade de vida 

Enquanto o papel da espiritualidade no processo de busca pelo bem-estar ainda é um tema que provoca dissonâncias entre pesquisadores de diferentes campos da área da saúde, a inclusão da perspectiva de otimização da saúde espiritual é um dos pilares da musicoterapia, conforme definição adotada pela Federação Mundial de Musicoterapia (WFMT, sigla para World Federation of Music Therapy). 

Em 2011, pesquisadores da área, como Maurício Doff Sotta e Clara Márcia de Freitas Piazzetta, defenderam em sua tese publicada na Revista Brasileira de Musicoterapia que o momento é animador para o avanço das pesquisas com a utilização dos sons e da música. “O paradigma pós-materialista se apresenta como um instrumento útil aos musicoterapeutas, pois oferece uma fundamentação teórica para alargar o entendimento da espiritualidade para além dos limites da psique e das influências socioculturais, na prática e na pesquisa musicoterápicas em relação à saúde mental”, afirmam os pesquisadores na publicação “Manifesto Para uma Ciência Pós-materialista e a Musicoterapia: espiritualidade e saúde mental”. 

Já benefícios como a redução do hormônio responsável pelo estresse (cortisol) e o alívio da dor em pacientes em tratamento contra o câncer já são mais conhecidos. Um importante avanço, destaca Gunnar Taets, são resultados como o alívio da dor em pacientes oncológicos que já não apresentavam melhora com o uso de analgésicos e até opióides. 

“Esse paciente desenvolve a dor que a Medicina chama de Distress (sofrimento, em inglês), que é uma dor causada por um estresse emocional que gera uma dor na alma. É uma dor emocional que vai gerar efeitos psicossomáticos e dor física. A música consegue tratar essa emoção, essa tristeza tão profunda”, explica.

Outros potenciais pacientes podem ser portadores de distúrbios psicomotores e deficiências visual e auditiva, especialmente quando a musicoterapia é aliada ao tratamento com outras especialidades, como a fisioterapia. “Podemos trabalhar na reabilitação músculo-esquelético com o auxílio da música, envolvendo ritmo e melodia que vão proporcionar esse impulso mecânico. Muitas vezes, o paciente não tem esse estímulo, então, são várias possibilidades. Sempre digo que o mais importante não é olhar somente para a parte biológica, mas para a parte biográfica de quem você vai trabalhar”, comenta.

Profissão musicoterapeuta 

No Brasil, os profissionais da área são representados pela União Brasileira das Associações de Musicoterapia (UBAM), que reúne as associações estaduais, dentre elas, a paranaense. Com sede em Brasília/DF, a UBAM vem trabalhando pela regulamentação da profissão.

“Atualmente, a Musicoterapia está lá em Brasília, na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ, da Câmara dos Deputados), para ser regulamentada. Quando for regulamentada, somente os graduados vão ser considerados musicoterapeutas. Hoje, você pode ser musicoterapeuta tendo feito a graduação de quatro anos ou a pós-graduação de dois anos. Infelizmente, o Ministério da Educação aceita, não sei por quais questões, muitos cursos de pós-graduação online, de 750 horas, menos de um ano. Eu não confio, nem a associação, porque entendemos que esse processo precisa ser desenvolvido e vivido presencialmente”, pondera. 

Já sobre o percurso formativo, Taets explica que a formação em musicoterapia engloba disciplinas presentes nas áreas da saúde e música, tais como “Anatomia, Neurologia, Fisiologia, Patologia, Imunologia e processos de Psicologia e Psicologia da Música, além de aulas de fundamentos e técnicas em Musicoterapia e estágios em diversos cenários”, conclui o pesquisador. 

Gunnar Glauco De Cunto Carelli Taets é professor convidado do 43º Festival Internacional de Música de Londrina. (Foto: Divulgação FIML).
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