“Principal objetivo da reforma do Ensino Médio é produzir alienação”, diz docente da UFSC

“Principal objetivo da reforma do Ensino Médio é produzir alienação”, diz docente da UFSC

Novo Ensino Médio foi um dos temas da entrevista concedida pela professora ao quadro Revista do Meio Dia, da Rádio UEL FM.

Suspensa pelos próximos dois meses pelo Ministério da Educação (MEC), a reforma do Ensino Médio foi um dos principais temas debatidos nas palestras de abertura do VII Seminário de Política e Administração da Educação da Região Sul, que teve início na manhã desta quinta-feira (13), no Centro de Letras e Ciências Humanas (CLCH). O evento é uma promoção da Associação Nacional de Política e Administração da Educação (Anpae) em conjunto com o Departamento de Educação (Ceca) da UEL, e visa publicizar as produções acadêmicas da área. A programação de encontros e palestras se estenderá até a noite desta sexta-feira (14).

Para Olinda Evangelista, professora aposentada da Universidade Federal de Santa Catarina e do Programa de Pós-graduação em Educação (PPGE/UFSC), a proposta que vinha sendo implementada desrespeita os interesses dos jovens e de suas famílias ao fragilizar o ensino de disciplinas do campo das Humanidades e abrir caminhos para trajetórias formativas que pouco favorecem o desenvolvimento do pensamento crítico dos estudantes. “A ideia da escassez de empregos gerou, dentro da reforma do Ensino Médio, mais ou menos 1,5 mil disciplinas diferentes, sendo que uma delas, pra você ter uma ideia, é ‘como fazer brigadeiros’. Outra se chama ‘o que rola por ai’ e outra é ‘como ficar rico”, lamentou a professora em entrevista à estagiária da Rádio UEL FM, Raquel Cassitas.

Em sua conferência de abertura no Seminário, Evangelista abordou a influência do grande capital na formulação das políticas educacionais no País, citando que parte do conjunto de ideias presentes na reforma nasceu a partir de sugestões de agentes que atuam em entidades internacionais, tais como Banco Mundial, Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) e Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).

Professora Olinda Evangelista. Proposta do Novo Ensino Médio “desrespeita os interesses dos jovens e de suas famílias” (Foto: Contrapoder)

Para ela, este conjunto de ideias traduz valores característicos do que considera uma “doutrina do empreendedorismo”, uma ideologia que foi impulsionada pelo cenário de escassez de oportunidades de empregos aos mais jovens na atualidade e que atinge principalmente os estudantes de escolas de regiões periféricas. “Ser resiliente, suportar adversidades, não se irritar. Um conjunto teórico que diz ao jovem ‘se acalme, não se rebele, more embaixo da ponte, mas por sua vontade própria; seja empreendedor da sua morada debaixo da ponte”, ironiza. “Essa reforma é de um cinismo, de um desprezo com a juventude no Brasil, um desrespeito com as famílias, gigantescos”, criticou.

Neste sentido, considera que o principal objetivo da proposta é produzir alienação “porque todo mundo sabe que no jovem tem aquela faísca da subversão e é preciso conter isso. Como você contém o pensamento crítico? Criando condições de impedimento. Então, essa reforma do Ensino Médio não prepara profissionalmente e também não prepara do ponto de vista humano, mas prepara para ser tolerante com a própria vida”, concluiu.

Olinda Evangelista é graduada em Filosofia pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e mestra e doutora em Educação pela Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo, além de pós-doutora em Educação pela Universidade do Minho, em Portugal. Atua principalmente na área de Educação, com ênfase em políticas educacionais e formação docente.

Debate

Os impactos para a educação pública trazidos com a reforma do Ensino Médio também foram tema de outro evento realizado na UEL, na noite da última quarta (12). Promovido pela Rede Lume de Jornalistas e pelo Portal Verdade, o debate contou com a presença da coordenadora de Processos Seletivos da UEL, Sandra Garcia, que também integra o Observatório do Ensino Médio da UEL. Também estiveram presentes o professor de Sociologia da rede estadual de ensino e dirigente da APP-Sindicato, Rogério Nunes, e o estudante Kainan Ferreira de Araújo, presidente do Grêmio Estudantil do Colégio Maestro Andrea Nuzzi, de Cambé. O evento contou com apoio da Rádio UEL FM.

*Com informações da Rádio UEL FM.

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