Projeto discute papel do professor na compreensão leitora de crianças

Projeto discute papel do professor na compreensão leitora de crianças

Desenvolvido em parceria com o Chile, pesquisa se dedica a investigar a influência de um mediador durante a aprendizagem da leitura.

“Gerar uma proposta para abordar o problema da formação de leitores”. Este é o objetivo da primeira fase do projeto de pesquisa “Formação de leitores e ações dos professores: estudo de compreensão leitora/oral em amostra de crianças brasileiras”, que estuda se as dificuldades iniciais de leitura podem ser compensadas a partir do fornecimento de ajuda regulatória oral (mediação). Trata-se de uma parceria Brasil-Chile, coordenada na UEL pela professora Patricia Silva Lucio, do Departamento de Psicologia e Psicanálise, do Centro de Ciências Biológicas (CCB).

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Edição número 1415 de 19 de outubro de 2022
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A pesquisa começou a ser idealizada em 2018, inspirada em um experimento financiado pelo governo chileno, que envolveu várias escolas para identificar a relação do professor com a compreensão leitora dos alunos. A convite da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), onde realiza uma parceria com o Programa de Pós-Graduação em Fonoaudiologia da instituição, Patricia fez um treinamento no Chile para replicar o estudo no Brasil, mais especificamente em Londrina. Em 2019, com aprovação da Secretaria de Educação do município e do Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da UEL, o projeto foi registrado na área de Psicologia, conforme classificação do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

De acordo com Patricia, para melhor avaliar o papel do professor nessa etapa do desenvolvimento educacional, foi necessário selecionar um perfil para as crianças, determinado pela faixa etária. Ela explica que com oito e nove anos costuma-se passar por um período de transição na leitura e, por isso, o projeto focou no terceiro ano (2ª série) do Ensino Fundamental I. Para se encaixar na pesquisa, as crianças deveriam possuir desenvolvimento típico e nenhum histórico de retenção. “Nessa idade, a criança supostamente adquiriu o mínimo para ler com uma certa fluência e velocidade”, afirma. “Mas, além de sabermos ler e interpretar o significado das palavras, precisamos entender o que lemos. Esse processo pode ou não ser facilitado pelo professor”, explica a docente.

A professora Patricia (centro) no Chile, num treinamento para replicar o estudo no Brasil,
a convite da Unifesp (Arquivo).

O estudo contou com a participação de dez escolas da rede municipal de Londrina. Cerca de 260 crianças foram testadas em um conjunto de tarefas de leitura e interpretação de texto, divididas aleatoriamente em três grupos: grupo A para leitura silenciosa autônoma sem direcionamento, grupo B para leitura autônoma com auxílio para o planejamento prévio de leitura e grupo C para leitura conjunta com direcionamento do planejamento prévio de leitura. Apenas as crianças com termos de consentimento tiveram seus dados analisados.

Aprendizagem à distância

Com a pandemia da Covid-19, a professora revela que o projeto precisou passar por algumas adaptações. Segundo a docente, o processo de isolamento atrapalhou principalmente a etapa de correção, classificação e tabulação das tarefas das crianças. O afastamento dificultou a orientação aos alunos de iniciação científica que atuam na pesquisa, responsáveis pela coleta de dados e elaboração dos relatórios.

Agora, com o retorno presencial, Patricia afirma que estão preparando os primeiros estudos comparativos entre Brasil e Chile. O objetivo é determinar como os dois países se comportaram com a mesma metodologia, avaliando se a língua e a cultura interferem nos resultados. Além disso, até o final do ano as escolas também devem receber devolutivas do estudo. “Oferecemos duas avaliações para cada escola: psicológica ou neuropsicológica, a escolha. Então, poderia ser qualquer criança que tivesse perfil de avaliação”, lembra. “Neste segundo semestre, esperamos conseguir dar as contrapartidas para pelo menos metade das escolas”, declara a professora.

Consequências do isolamento

Uma pesquisa da Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância), em parceria com a organização Cenpec Educação (Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária), sinalizou que a faixa etária correspondente ao Ensino Fundamental I foi a mais afetada pelo isolamento escolar. O estudo “Cenário da Exclusão Escolar no Brasil – um alerta sobre os impactos da pandemia da Covid-19 na Educação”, divulgado em abril de 2021, analisa as consequências da exclusão escolar para a educação de crianças e adolescentes durante a pandemia. A pesquisa é referente ao período de novembro de 2020.

De acordo com o estudo, das mais de 5 milhões de crianças e adolescentes que não tinham acesso à educação no Brasil, 41% possuíam entre 6 e 10 anos de idade. A pesquisa aponta ainda que, com as escolas fechadas, os principais impactos negativos foram o aumento da vulnerabilidade e desigualdade. Como solução, recomenda a realização da busca ativa de crianças que estejam fora da escola; a garantia de internet; a criação de campanhas para incentivar matrículas; e o fortalecimento da garantia de direitos, bem como de condições de permanência e retorno nas escolas.

Segundo Patricia, é importante que o país se atente aos novos desafios de aprendizagem que terão origem com a pandemia. Para ela, mais do que nunca é necessário olhar para questões relacionadas à saúde mental. A professora afirma que esse será um dos focos das próximas fases do projeto, que verificará as novas demandas das escolas para identificar as diferenças entre a criança de antes da pandemia e a pós-pandemia. “Todo mundo sofreu com o distanciamento, mas é uma etapa da vida que a gente não está falando apenas da aprendizagem. As crianças também tiveram um afastamento em termos das relações sociais, das emoções e do convívio”, completa.

*Estagiária de Jornalismo na COM/UEL.

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