Pós-graduação é estratégica para o desenvolvimento do agronegócio
Pós-graduação é estratégica para o desenvolvimento do agronegócio
Para coordenadores de pós, atingir o conceito considerado de excelência representa uma grande recompensa para docentes, pesquisadores e estudantes.Em 2022, os Programas de Pós-graduação em Agronomia e Biotecnologia da UEL passaram a contar com o conceito 6 na avaliação da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), referente ao quadriênio 2017-2020. A avaliação é realizada a cada quatro anos e tem início com uma coleta de informações e documentos públicos submetidos pelo corpo docente na Plataforma Sucupira, do Governo Federal.
Para os coordenadores, atingir o conceito considerado de excelência acadêmica representa uma grande recompensa para os grupos de docentes, pesquisadores e estudantes que empregam seus esforços para colaborar com a Ciência na tentativa de responder às demandas de setores estratégicos para o desenvolvimento econômico do Paraná e do Brasil, especialmente do agronegócio.
Atravessando um momento de intensa transformação a partir do uso de novas tecnologias, as áreas do conhecimento abraçadas por estes Programas são alvos de um forte apelo por mudanças de comportamento, com novas formas de reutilizar ou utilizar melhor os recursos naturais, buscando diminuir a extração de recursos não-renováveis do planeta, diz o coordenador do Programa de Pós-graduação em Biotecnologia, professor André Luiz Martinez de Oliveira. Neste sentido, ele avalia, a consolidação do PPG Biotecnologia, que nasceu como curso de Especialização em 2002 e evoluiu rapidamente para o Mestrado, vem sendo fundamental para o fornecimento de recursos humanos de alto nível aos laboratórios, centros de pesquisa e universidades brasileiras.
O coordenador do Programa de Pós-Graduação em Agronomia da UEL, professor Juliano Tadeu Vilela de Resende, comenta que o conceito de excelência traz ainda mais credibilidade para os estudantes e para a instituição. “Salvo melhor juízo, só Maringá tem outro programa conceito 6 no Paraná. E em nível de Brasil, na área de Agrárias, você vai ver conceito 6 em Viçosa (MG), Lavras (MG), Piracicaba (SP), Santa Maria (RS), são pouquíssimas”, observa.
No entanto, destaca que a credibilidade do PPGA se materializa à medida em que importantes espaços de tomada de decisões e desenvolvimento do agronegócio no País são ocupados por egressos da UEL, o que ocorre há bastante tempo e é motivo de ainda mais orgulho, afirma. “Temos pessoas em Minas Gerais, Pará, Mato Grosso, Rio Grande do Sul, é uma procura muito grande por profissionais daqui”, completa.
PPGA
Estruturado em 1994 com o Mestrado, e em 2000, com o Doutorado, o Programa de Pós-Graduação em Agronomia da UEL é um dos mais importantes do país, e anterior ao início do uso de Organismos Geneticamente Modificados na agricultura brasileira. Só para se ter uma ideia, a primeira variedade de soja transgênica foi inserida no solo brasileiro em 1998, antecedendo o boom de produtividade da soja, registrado no Paraná e em todo o país.
Na época, o PPGA era dividido em três linhas de pesquisa: Fitotecnia; Fitossanidade e Manejo Sustentável do Solo; e Engenharia Rural. Com o desenvolvimento das atividades, logo vieram os conceitos 4 (até 2003) e 5 (triênio 2004-2006).
O Programa passou depois por uma fusão com o Programa Stricto sensu em Agricultura Conservacionista do Instituto de Desenvolvimento Rural (IDR), uma vez que possuem os mesmos objetivos e linhas de pesquisa que se complementam.
Desta forma, 401 mestres e 248 doutores foram formados ao longo de toda a história do PPGA, informa o coordenador. Atualmente, 132 alunos, sendo 58 do Mestrado e 74 do Doutorado, desenvolvem suas pesquisas.
Novas demandas
Para o coordenador do Programa, Juliano Resende, a forte tendência de transição entre o uso de herbicidas para a adoção de outras técnicas de combate de pragas, gradualmente implementada na Europa, deverá ser seguida pelo Brasil. Desta forma, gera também novas demandas sobre a pós-graduação. “O Paraquate, um dos principais herbicidas utilizados no Brasil, usado para facilitar a colheita da soja, já foi proibido aqui. Outro exemplo é a batata, o produtor aplicava e colhia. Então não tem mais. O pessoal tem que encontrar alternativas fornecidas pelas empresas, algumas parceiras nossas em testes”, explica.
Outro exemplo também vem do continente europeu, que apertou o cerco contra agrotóxicos como o Glifosato, o mais vendido do mundo, e cujo uso será proibido a partir do ano que vem. “Então, o caminho é esse, é você usar a própria Natureza a seu favor, utilizando microrganismos. Por exemplo, você tem fixadores de nitrogênio para a soja, que já são usados há um tempo, como o Bradyrhizobium, e há outros específicos para o feijão. Já tem essa economia de você não ter que aplicar o nitrogênio e não há contaminação do lençol freático, principalmente com nitrato”, explica.
Atualmente, o PPGA conta com 60 disciplinas distribuídas em quatro áreas: Fitotecnia; Melhoramento; Ciência do Solo e Fitossanidade. Ao todo, 31 docentes, 24 permanentes e sete colaboradores, desenvolvem suas atividades, algumas em parceria com instituições como a Universidade da Califórnia em Davis (UCD), além de institutos de pesquisa da França, Egito e Estados Unidos.
Biotecnologia: o esforço feminino
Para o coordenador do Programa de Pós-Graduação em Biotecnologia e docente do Departamento de Bioquímica, André Luiz de Oliveira, a evolução do conceito na avaliação da Capes é o resultado de um trabalho coletivo, mas que se deve, “principalmente”, diz, ao “esforço das mulheres”. Uma delas é a professora Suzana Mali, coordenadora no quadriênio 2017-2020, e uma das principais responsáveis por ampliar as frentes de atuação do Programa, fomentar a entrada de docentes permanentes e pela proposição de projetos e propostas de colaboração internacional, avalia.
“Chegar ao conceito de excelência é uma alegria, uma vitória muito grande de todo o grupo, que é pequeno. Somos dez professores permanentes e, comparado com programas do Brasil inteiro, conseguirmos esta nota de excelência é muito bom. Eu acho que é o esforço, principalmente, das mulheres. O Programa tem dois professores e oito professoras, então acho que isso pesa para a forma como o curso tem sido gerido e como vem sendo colocado para a sociedade. É uma visão que mostra que o caminho precisa ser mais compartilhado. Dar mais espaço para a visão feminina do mundo leva a uma melhora da situação geral que estamos vivendo”, avalia.
Ainda exaltando o corpo docente, o coordenador lembra que o PPG Biotecnologia conta com as contribuições de uma das pesquisadoras mais premiadas do mundo, a engenheira agrônoma e pesquisadora da Embrapa Soja, Mariângela Hungria da Cunha. Em razão da sua liderança na condução de pesquisas voltadas para o desenvolvimento de inoculantes à base de bactérias que substituem os fertilizantes nitrogenados, a pesquisadora foi apontada como principal cientista do país em Fitotecnia e Agronomia (“Plant Science and Agronomy”) pelo Research.com, site que oferece dados sobre contribuições científicas em nível mundial. Além de ter sido a única pesquisadora da América Latina a ser citada neste ranking, publicado em 2022, Mariângela também está na lista das “100 Mulheres Poderosas do Agro”. Elaborada pela Revista Forbes, a lista enalteceu brasileiras que se destacaram em 2022 na pesquisa, liderança de empresas, produção de alimentos e demais espaços de transformação social e econômica a partir da agricultura.
Linhas de pesquisa
Criado como um curso de Especialização, ele evoluiu rapidamente para um programa de Mestrado, lembra o coordenador. Já o pedido para a criação do Doutorado em Biotecnologia na UEL foi realizado em 2012, sendo aceito rapidamente pela Capes. Neste período, 20 teses de Doutorado e 140 dissertações de Mestrado foram defendidas a partir dos estudos nas três linhas de pesquisa sob as quais o PPG está estruturado. São elas: Biomoléculas e Biopolímeros de Interesse Industrial; Bioquímica de Microrganismos; e Biotecnologia de Microrganismos e Plantas.
Desta forma, os estudantes atuam no desenvolvimento de moléculas e materiais de interesse da indústria, moléculas que possuem atividades farmacológicas e cosméticas, e até enzimas usadas em produtos de limpeza, higiene e sanitização, e bioinsumos para a agricultura.
Embora a maior parte dos projetos desenvolvidos no PPG Biotecnologia tenham servido como “sementes” para outras pesquisas, também aproveitados pelo setor privado, ao menos dois acabaram extrapolaram as paredes do Centro de Ciências Biológicas da UEL, e foram parar no interior da Intuel (Incubadora Internacional de Empresas de Base Tecnológica da UEL), ligada à AINTEC (Agência de Inovação Tecnológica). Derivadas de projetos de pesquisa, as chamadas spin offs acadêmicas são empresas de base tecnológica formadas, geralmente, por pesquisadores, ou possuem pesquisadores no quadro societário.
Neste quesito, aponta o coordenador, o PPG Biotecnologia possui bons exemplos. Uma destas empresas – a Biotec Ativos – foi criada em 2019 para desenvolver cosméticos sustentáveis com a incorporação de ingredientes microbianos. A partir de pesquisas desenvolvidas com as propriedades biológicas de Exopolissacarídeos microbianos (levana) com alto poder hidratante e antioxidante, o grupo – formado por mulheres – criou uma linha de produtos de beleza sustentáveis atóxicos, veganos e ecologicamente corretos. A Biotec Ativos é formada pelas docentes Audrey Garcia Lonni e Maria Antonia Colabone, e as egressas do programa de pós-graduação em Biotecnologia Gabrielly Terassi Bersaneti e Briani Bigotto.
“Absorvida” em 2022 pela Intuel, a Pró-Fiber Biotecnologia é outro motivo de orgulho para o Programa de Pós-graduação e que conta com o toque feminino. Desenvolvida a partir da tese de Doutorado (“Aproveitamento do bagaço de laranja para extração de celulose empregando-se diferentes métodos físicos e químicos”) da sua idealizadora, Janaína Mantovan, a empresa pretende desenvolver materiais com propriedades funcionais melhoradas para serem empregadas na nutrição animal.